MPF vai à Justiça em seis estados
da Amazônia para obrigar o planejamento do uso de recursos hídricos.
Na Amazônia, onde está a maior parte
da água do país, a Agência Nacional de Águas nunca exigiu o planejamento do uso
dos rios e, mesmo assim, concede outorgas.
O
Ministério Público Federal apresentou hoje, 19 de novembro, à Justiça Federal
em seis estados da Amazônia Legal – Amazonas, Mato Grosso, Amapá, Rondônia,
Pará e Roraima – um pacote de ações para proteger os recursos hídricos da
região. Segundo procuradores que assinam as ações, os rios amazônicos não
possuem os chamados comitês de bacia, que são responsáveis por planejar o uso das
águas.
Nas ações, o MPF pede que a Agência Nacional de
Águas (Ana) seja proibida de emitir a chamada Declaração de Reserva de
Disponibilidade Hídrica para quaisquer empreendimentos que estejam em
licenciamento nas bacias dos rios Tapajós, Teles Pires, Madeira, Ji-Paraná, Rio
Branco, Negro, Solimões, Oiapoque, Jari, Araguaia, Tocantins e Trombetas antes
da criação dos comitês – órgãos colegiados da gestão de recursos hídricos, com
atribuições de caráter normativo, consultivo e deliberativo.O comitê tem, entre
as funções, planejar o uso sustentável dos recursos hídricos.
A necessidade de planejamento do uso da água é
uma preocupação prevista na Constituição brasileira e, segundo o MPF, mesmo
assim, nunca foi aplicada na Amazônia, onde está o maior volume de águas do
país, tanto em corpos subterrâneos (aquíferos) quanto superficiais (rios). Para
o Ministério Público, sem os comitês, a Ana não poderia emitir nenhuma outorga.
Segundo a coordenadora da 6ª Câmara de
Coordenação e Revisão (Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais),
subprocuradora-geral da República Deborah Duprat, o dia D em defesa das bacias
hidrográficas tem o objetivo de assegurar água suficiente e de qualidade para a
população brasileira. “Numa sociedade de risco é preciso compartilhar decisões.
Os comitês vêm satisfazer essa necessidade, uma vez que são compostos pelos
usuários da bacia, tanto que a lei prevê, por exemplo, a participação de
populações indígenas nas bacias onde estejam localizadas”.
O MPF destaca ainda que, o fato de o Brasil
viver, atualmente, uma crise de abastecimento de água de graves proporções no
sudeste do país, assim como o desaparecimento de trechos inteiros do rio São
Francisco, no nordeste, são alertas para o que pode ocorrer na Amazônia, a
maior bacia hidrográfica do país e do mundo, se for mantido o atual padrão de
total falta de planejamento e precaução.
“O que ocorre no sudeste e no nordeste é um
vislumbre do risco que correm os rios da bacia Amazônica, em pior situação, por
nem sequer se observar a precaução obrigatória da gestão participativa dos
recursos”, afirmam os membros do MPF nas ações judiciais.
O MPF cita o recente relatório do professor
Antônio Donato Nobre, que posiciona o ecossistema amazônico como o coração do
ciclo hidrológico brasileiro, fornecendo umidade sobretudo para as regiões sul,
sudeste e centro-oeste, que poderiam ser desérticas se não fosse a existência
da floresta tropical ao norte.
Hidrelétricas - No caso da bacia do rio Madeira, o
MPF lembra que estão previstas mais três usinas hidrelétricas em um momento em
que não se sabe ainda a influência das duas barragens já existentes (Jirau e
Santo Antônio) nas enchentes de 2014, que estão sob investigação.
“Se com apenas dois desses empreendimentos os
desdobramentos chegaram a patamares nunca antes observados e ainda não se tem
certeza da exata influência da construção das barragens nos acontecimentos, que
dirá do impacto sinérgico deles com mais outros três (um deles, inclusive, com
porte semelhante)?”, aponta a ação ajuizada em Rondônia.
“Parte dessa crise hídrica [vivida no Sudeste do
país] se deve a uma falta de planejamento dessas bacias. Não é possível
acumular empreendimentos sem saber a capacidade que as bacias têm de
suportá-los sem comprometer o principal uso das águas, que é o consumo humano”,
destaca Deborah Duprat.
Segundo a procuradora, as ações propostas não
atingem empreendimentos que já estão em curso, mas podem atingir projetos
futuros. “Sabemos que há vários projetos para essas bacias, eles podem, sim,
ser atingidos”.
Confira as íntegras das ações
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_BaciadoMadeira.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Rio_Negro.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Rio_Solimoes.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia_Branco.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia__Oiapoque.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia_Jari.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/acp%20Bacia%20Hidrografica%20Tapajos-Teles%20Pires_versao%20final.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia_Araguaia_Tocantins.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia_Trombetas.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Rio_Negro.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Rio_Solimoes.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia_Branco.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia__Oiapoque.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia_Jari.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/acp%20Bacia%20Hidrografica%20Tapajos-Teles%20Pires_versao%20final.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia_Araguaia_Tocantins.pdf
http://www.prpa.mpf.mp.br/news/2014/arquivos/ACP_Bacia_Trombetas.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário