sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Emissões de carbono no Brasil atingem o maior valor desde 2008.
por Redação do Observatório do Clima
Emissões brasileiras atingiram 1,57 bilhão de t CO2 e em 2013, o que representa um aumento de 7,8% em relação ao ano de 2012, e o maior valor desde 2008.

Foram anunciados hoje em São Paulo, pelo Observatório do Clima, os resultados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estuda (SEEG 2.0) para 2014. Segundo o estudo, elaborado pelo segundo ano consecutivo, as emissões brasileiras atingiram 1,57 bilhão de t CO2e (tonelada equivalente de CO2) em 2013, o que representa um aumento de 7,8% em relação ao ano de 2012, e o maior valor desde 2008. O aumento das emissões de 2013 representa uma reversão de tendência registrada desde 2005, quando vinham caindo ano a ano devido a sucessivas quedas nas taxas anuais de desmatamento. Em 2012, atingiram o seu menor valor, com 1,45 milhão de t CO2 e.Todos os setores apresentaram aumento de emissão em 2013, com destaque para as Mudanças de Uso da Terra (16,4%), puxado pelo aumento do desmatamento na Amazônia e Cerrado, e Energia (7,8%), influenciado pelo aumento do uso de energia termoelétrica de fontes fósseis e do consumo de gasolina e diesel para transporte. O setor de Mudança de Uso da Terra representa ainda, a exemplo dos dados referentes a 2012, a maior parcela das emissões (35%). Mas a área de Energia teve aumento expressivo de participação, e alcança agora 30% das emissões, seguida de Agropecuária (27%), Processos Industriais (6%) e Resíduos (3%).

“É preciso trazer o desafio das mudanças climáticas como um tema estratégico para nosso desenvolvimento. Diante da emergência climática em que nos encontramos, isso é muito preocupante”, avalia o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. A reversão de tendência com aumento das emissões ocorre no momento em que o Brasil se prepara para a Conferência das Nações Unidas sobre clima (COP 20), a ser realizada em Lima (Peru), entre os dias 01 e 12 de dezembro, e impacta diretamente na percepção de como o Brasil pode contribuir para reduzir as emissões no âmbito do novo acordo climático a ser aprovado em 2015.

Segundo o coordenador geral do Observatório do Clima e gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, André Ferretti, os dados do SEEG contribuem para o estabelecimento de um debate qualificado sobre políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas no Brasil. “Esse sistema de monitoramento anual é o primeiro passo para avaliarmos o status das emissões de GEEs no Brasil. Após conhecer em quais setores ou regiões avançamos e em quais precisamos de ações mais urgentes, temos os subsídios adequados para ajudar a definir melhor as políticas públicas nacionais de adaptação ou mitigação às mudanças climáticas”, explica. Ele completa lembrando que “os dados brutos utilizados pelo SEEG estarão disponíveis publicamente, o que permite o acompanhamento mais próximo da sociedade, seja para conferência ou para geração de estimativas adicionais”.

Estimativas sobre emissões dos estados brasileiros e do Distrito Federal passaram a fazer parte do SEEG 2.0 nesta edição. Do total de emissões nacionais, foi possível fazer uma alocação de dados, identificando-se de quais estados eram provenientes um total de 91% das estimativas de emissões para o Brasil em 2013. Considerando-se as emissões alocadas por estados, os maiores emissores seriam o Pará (11,2%) e Mato Grosso (9,4%), seguidos de São Paulo (8,5%) e Minas Gerais (7,5%). Quando se desconsidera as emissões de Mudanças de Uso do Solo, a liderança passa para São Paulo (12,9%), depois Minas Gerais (9,8%) e Rio Grande do Sul (7,2%).

“Conhecer e entender a trajetória de nossas emissões é de fundamental importância para agirmos em tempo de promover a redução de emissões que seja compatível com o objetivo global de limitar o aumento da temperatura em 2ºC”, diz Tasso. “Por exemplo, quando o governo decidiu segurar o preço da gasolina, provocou aumento do seu consumo e a redução do consumo de álcool, isso fez aumentar as emissões dos automóveis e é possível enxergar isso claramente nos dados de emissões no período de 2010 a 2013” acrescenta.

Na opinião de Carlos Rittl, “a redução das emissões provocadas pelo desmatamento verificada entre 2005 e 2012 criou uma espécie de zona de conforto, que de certa forma mascara o crescimento persistente e acelerado das emissões nos demais setores”. Para ele, “o Brasil cita uma matriz relativamente limpa, políticas de combate ao desmatamento e planos setoriais de redução de emissões em vários discursos, mas, na verdade, desde 2009 quando lançou metas de redução de emissões até 2020, o País não deu nenhum grande salto para colocar nossa economia em uma trajetória de desenvolvimento com emissões decrescentes de gases de efeito estufa”.

O aumento das emissões por queima de combustíveis fósseis tende a se intensificar como reflexo do maciço investimento em energias fósseis, redução e poucos investimentos em novos combustíveis renováveis e na própria participação de energias renováveis na matriz energética brasileira que caiu de 48% para 41% nos últimos 5 anos.

“Mesmo investimentos em agricultura de baixo carbono são pequenos se comparados com os recursos investidos em agricultura e pecuária ano a ano”, resume Rittl. Ele lembra que enquanto voltamos quase todas as nossas atenções ao Pré-Sal, países como a Alemanha, Estados Unidos e China investem cada vez mais em fontes renováveis de energia, no desenvolvimento tecnológico associado a fontes como energia solar e em cadeias produtivas, gerando milhares de empregos. No caso americano, só em energia solar, foram criados 23 mil empregos na cadeia de valor em 2013. “Países desenvolvidos e em desenvolvimento estão avançando e se tornando muito mais competitivos economicamente falando, e nós já estamos ficando para trás”, reflete Rittl.

Outros destaques do estudo, que pode ser consultado na íntegra pelo endereço www.seeg.eco.br, são listados a seguir:

Considerando-se as diferentes atividades econômicas, o setor agropecuário continua a ser a principal fonte de emissões (considerando-se suas emissões diretas e a parcela do setor em desmatamento, energia e resíduos), com 63,4% das emissões em 2013. Mas sua participação diminuiu entre 2010 e 2013. Em 2010, o setor era responsável por 68% das emissões brasileiras. Neste mesmo período (2010-2013), cresceram a participação do setor de Transportes (11 para 13%) e Produção de Combustíveis e Energia Elétrica (4,5 para 6,1%).

As emissões per capita, que vinham caindo desde 2004, voltaram a crescer e em 2013 alcançaram 7,8 t CO2/hab. É o primeiro aumento de intensidade de emissões per capita desde 2004, quando atingiu o pico de 16,4 tCO2/habitante, puxado pelas altas taxas de desmatamento na Amazônia. Contudo, quando observadas as emissões sem as Mudanças de Uso da Terra (que incluem as emissões de desmatamento), a intensidade de emissões por habitante cresce sistematicamente desde 1990, passando de 3,9 para 5,1 tCO2/ha entre 1990 e 2013. Desde 1990, as emissões per capita brasileiras superam as emissões per capita globais, atualmente em cerca de 7,2 tCO2e/hab.

A intensidade de emissões na economia também aumentou. A quantidade de reais de PIB gerado por tCOe2 emitido caiu de R$ 3.251,00 em 2012 para R$ 3.090,00 em 2013, o que representa, portanto, uma redução da eficiência de nossa economia em relação às emissões de gases de efeito estufa.

O SEEG - O Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) foi lançado em 2013 como uma ferramenta desenvolvida para calcular anualmente as emissões brasileiras e identificar sua origem. O objetivo também é disponibilizar os resultados, de forma simples e irrestrita, para a sociedade. Os levantamentos ficam disponíveis para consulta dos internautas na plataforma online do sistema. O usuário pode utilizar diversos filtros para identificar a origem e o percentual de emissões. O SEEG é uma iniciativa do Observatório do Clima. O trabalho técnico é desenvolvido pelo IEMA, IMAFLORA, IMAZON e ICLEI. O sistema conta com o apoio da Fundação Avina, da Latin America Regional Climate Initiative da Fundação OAK, da Climate and Land Use Alliance e parceria com o GVCEs.


Fonte: ENVOLVERDE

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