Emissões de carbono no Brasil
atingem o maior valor desde 2008.
por
Redação do Observatório do Clima
Emissões brasileiras atingiram 1,57 bilhão de t CO2
e em 2013, o que representa um aumento de 7,8% em relação ao ano de 2012, e o
maior valor desde 2008.
Foram anunciados hoje em São Paulo, pelo Observatório
do Clima, os resultados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito
Estuda (SEEG 2.0) para 2014. Segundo o estudo, elaborado pelo segundo ano
consecutivo, as emissões brasileiras atingiram 1,57 bilhão de t CO2e (tonelada
equivalente de CO2) em 2013, o que representa um aumento de 7,8% em relação ao
ano de 2012, e o maior valor desde 2008. O aumento das emissões de 2013
representa uma reversão de tendência registrada desde 2005, quando vinham
caindo ano a ano devido a sucessivas quedas nas taxas anuais de desmatamento.
Em 2012, atingiram o seu menor valor, com 1,45 milhão de t CO2 e.Todos os
setores apresentaram aumento de emissão em 2013, com destaque para as Mudanças
de Uso da Terra (16,4%), puxado pelo aumento do desmatamento na Amazônia e
Cerrado, e Energia (7,8%), influenciado pelo aumento do uso de energia
termoelétrica de fontes fósseis e do consumo de gasolina e diesel para
transporte. O setor de Mudança de Uso da Terra representa ainda, a exemplo dos
dados referentes a 2012, a maior parcela das emissões (35%). Mas a área de
Energia teve aumento expressivo de participação, e alcança agora 30% das
emissões, seguida de Agropecuária (27%), Processos Industriais (6%) e Resíduos
(3%).
“É preciso trazer o desafio das mudanças climáticas
como um tema estratégico para nosso desenvolvimento. Diante da emergência
climática em que nos encontramos, isso é muito preocupante”, avalia o
secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. A reversão de
tendência com aumento das emissões ocorre no momento em que o Brasil se prepara
para a Conferência das Nações Unidas sobre clima (COP 20), a ser realizada em
Lima (Peru), entre os dias 01 e 12 de dezembro, e impacta diretamente na
percepção de como o Brasil pode contribuir para reduzir as emissões no âmbito
do novo acordo climático a ser aprovado em 2015.
Segundo o coordenador geral do Observatório do
Clima e gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de
Proteção à Natureza, André Ferretti, os dados do SEEG contribuem para o
estabelecimento de um debate qualificado sobre políticas públicas relacionadas
às mudanças climáticas no Brasil. “Esse sistema de monitoramento anual é o
primeiro passo para avaliarmos o status das emissões de GEEs no Brasil. Após
conhecer em quais setores ou regiões avançamos e em quais precisamos de ações
mais urgentes, temos os subsídios adequados para ajudar a definir melhor as
políticas públicas nacionais de adaptação ou mitigação às mudanças climáticas”,
explica. Ele completa lembrando que “os dados brutos utilizados pelo SEEG
estarão disponíveis publicamente, o que permite o acompanhamento mais próximo
da sociedade, seja para conferência ou para geração de estimativas adicionais”.
Estimativas sobre emissões dos estados brasileiros
e do Distrito Federal passaram a fazer parte do SEEG 2.0 nesta edição. Do total
de emissões nacionais, foi possível fazer uma alocação de dados,
identificando-se de quais estados eram provenientes um total de 91% das
estimativas de emissões para o Brasil em 2013. Considerando-se as emissões
alocadas por estados, os maiores emissores seriam o Pará (11,2%) e Mato Grosso
(9,4%), seguidos de São Paulo (8,5%) e Minas Gerais (7,5%). Quando se
desconsidera as emissões de Mudanças de Uso do Solo, a liderança passa para São
Paulo (12,9%), depois Minas Gerais (9,8%) e Rio Grande do Sul (7,2%).
“Conhecer e entender a trajetória de nossas
emissões é de fundamental importância para agirmos em tempo de promover a
redução de emissões que seja compatível com o objetivo global de limitar o aumento
da temperatura em 2ºC”, diz Tasso. “Por exemplo, quando o governo decidiu
segurar o preço da gasolina, provocou aumento do seu consumo e a redução do
consumo de álcool, isso fez aumentar as emissões dos automóveis e é possível
enxergar isso claramente nos dados de emissões no período de 2010 a 2013”
acrescenta.
Na opinião de Carlos Rittl, “a redução das emissões
provocadas pelo desmatamento verificada entre 2005 e 2012 criou uma espécie de
zona de conforto, que de certa forma mascara o crescimento persistente e
acelerado das emissões nos demais setores”. Para ele, “o Brasil cita uma matriz
relativamente limpa, políticas de combate ao desmatamento e planos setoriais de
redução de emissões em vários discursos, mas, na verdade, desde 2009 quando
lançou metas de redução de emissões até 2020, o País não deu nenhum grande
salto para colocar nossa economia em uma trajetória de desenvolvimento com
emissões decrescentes de gases de efeito estufa”.
O aumento das emissões por queima de combustíveis
fósseis tende a se intensificar como reflexo do maciço investimento em energias
fósseis, redução e poucos investimentos em novos combustíveis renováveis e na
própria participação de energias renováveis na matriz energética brasileira que
caiu de 48% para 41% nos últimos 5 anos.
“Mesmo investimentos em agricultura de baixo
carbono são pequenos se comparados com os recursos investidos em agricultura e
pecuária ano a ano”, resume Rittl. Ele lembra que enquanto voltamos quase todas
as nossas atenções ao Pré-Sal, países como a Alemanha, Estados Unidos e China
investem cada vez mais em fontes renováveis de energia, no desenvolvimento
tecnológico associado a fontes como energia solar e em cadeias produtivas,
gerando milhares de empregos. No caso americano, só em energia solar, foram
criados 23 mil empregos na cadeia de valor em 2013. “Países desenvolvidos e em
desenvolvimento estão avançando e se tornando muito mais competitivos
economicamente falando, e nós já estamos ficando para trás”, reflete Rittl.
Outros destaques do estudo, que pode ser consultado
na íntegra pelo endereço www.seeg.eco.br,
são listados a seguir:
Considerando-se as diferentes atividades
econômicas, o setor agropecuário continua a ser a principal fonte de emissões
(considerando-se suas emissões diretas e a parcela do setor em desmatamento,
energia e resíduos), com 63,4% das emissões em 2013. Mas sua participação
diminuiu entre 2010 e 2013. Em 2010, o setor era responsável por 68% das
emissões brasileiras. Neste mesmo período (2010-2013), cresceram a participação
do setor de Transportes (11 para 13%) e Produção de Combustíveis e Energia
Elétrica (4,5 para 6,1%).
As emissões per capita, que vinham caindo desde
2004, voltaram a crescer e em 2013 alcançaram 7,8 t CO2/hab. É o primeiro
aumento de intensidade de emissões per capita desde 2004, quando atingiu o pico
de 16,4 tCO2/habitante, puxado pelas altas taxas de desmatamento na Amazônia.
Contudo, quando observadas as emissões sem as Mudanças de Uso da Terra (que incluem
as emissões de desmatamento), a intensidade de emissões por habitante cresce
sistematicamente desde 1990, passando de 3,9 para 5,1 tCO2/ha entre 1990 e
2013. Desde 1990, as emissões per capita brasileiras superam as emissões per
capita globais, atualmente em cerca de 7,2 tCO2e/hab.
A intensidade de emissões na economia também
aumentou. A quantidade de reais de PIB gerado por tCOe2 emitido caiu de R$
3.251,00 em 2012 para R$ 3.090,00 em 2013, o que representa, portanto, uma
redução da eficiência de nossa economia em relação às emissões de gases de
efeito estufa.
O SEEG - O Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de
Efeito Estufa (SEEG) foi lançado em 2013 como uma ferramenta desenvolvida para
calcular anualmente as emissões brasileiras e identificar sua origem. O
objetivo também é disponibilizar os resultados, de forma simples e irrestrita,
para a sociedade. Os levantamentos ficam disponíveis para consulta dos
internautas na plataforma
online do sistema. O usuário pode utilizar diversos filtros para
identificar a origem e o percentual de emissões. O SEEG é uma iniciativa do
Observatório do Clima. O trabalho técnico é desenvolvido pelo IEMA, IMAFLORA,
IMAZON e ICLEI. O sistema conta com o apoio da Fundação Avina, da Latin America
Regional Climate Initiative da Fundação OAK, da Climate and Land Use Alliance e
parceria com o GVCEs.
Fonte: ENVOLVERDE
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