Por que os governos do G20
subsidiam a mudança climática?
por
Shelagh Whitley, da IPS
Os governos do G20 continuam subsidiando a
exploração em busca de combustíveis fósseis apesar dos compromissos de apoiar a
transição para a energia limpa. Foto: Flickr/Leszek Kozlowski.
Londres, Grã-Bretanha, 12/11/2014 – Apenas alguns
dias depois que o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança
Climática (IPCC) emitir seu alerta mais grave quanto à necessidade de manter
sob a terra a vasta maioria das reservas existentes de petróleo, gás e carvão,
um novo informe revela que os governos estão ignorando flagrantemente essas
advertências e continuam subsidiando a exploração em busca de combustíveis
fósseis.
O informe O Resgate dos Combustíveis Fósseis: Os
Subsídios do G20 à Exploração de Petróleo, Gás e Carvão, elaborado pelo
britânico Instituto de Desenvolvimento de Ultramar (ODI) e Oil Change
International (OCI), mostra que os governos desse bloco de 20 países
industrializados e emergentes apoiam a exploração de combustíveis fósseis com
cerca de US$ 88 bilhões, em média, por ano, por meio de subsídios nacionais,
investimentos por parte de empresas estatais e finanças públicas.
E essa é apenas uma pequena parte do apoio
governamental total à produção e ao consumo de combustíveis fósseis, estimado
em US$ 775 bilhões por ano. O G20, que realizará sua reunião anual na Austrália
nos dias 15 e 16, continua dando esses subsídios, majoritariamente ocultos da
vista pública, apesar dos reiterados compromissos para erradicar esse subsídio
aos combustíveis fósseis, abordar a mudança climática e apoiar a transição para
a energia limpa.
Apenas os subsídios que o G20 destina aos trabalhos
de exploração praticamente equivalem ao apoio mundial total às energias limpas
(US$ 101 bilhões), inclinando a balança para o petróleo, o gás e o carvão.
Este informe sobre as maiores economias do Norte e
do Sul em desenvolvimento segue a quinta avaliação lançada pelo IPCC em
Copenhague no dia 2 deste mês, no qual alerta que a mudança climática ameaça
com alterações irreversíveis para o planeta e responsabilizaram a atividade
humana, com um papel importante dos combustíveis fósseis, pelo problema.
O documento mostra que os governos do G20 gastam
mais que o dobro do que as 20 principais empresas privadas estão gastando em
busca de novas reservas de petróleo, gás e carvão. Isso sugere que as empresas
dependem do apoio público para suas atividades de exploração.
Como encontrar combustível fóssil fica cada vez
mais perigoso, caro e intensivo em matéria de energia, e os preços do petróleo,
do gás e do carvão continuam caindo, o mais provável é que as empresas se
tornem mais dependentes do dinheiro dos contribuintes para continuar com suas
explorações. Isso também ficou demonstrado com o recente pedido da indústria de
petróleo e gás da Grã-Bretanha de maiores reduções de impostos para abordar os
crescentes custos de operar no Mar do Norte.
Alguns dirão que, embora esses subsídios sejam
pouco rentáveis, podem ser exceções. Afinal, argumenta, necessitamos de
combustíveis fósseis para dar acesso à energia, e podemos continuar queimando
petróleo, gás e carvão se fizermos a captura e o armazenamento de carbono.
Isso, simplesmente, não é verdade. Fazer isso derivará em uma perigosa mudança
climática, cujos impactos recairão primeiro sobre as pessoas mais vulneráveis
dos países e das regiões mais pobres.
Primeiro, no que se refere ao acesso à energia, na
realidade, é mediante a energia limpa que poderemos fornecer calor e
eletricidade aos mais pobres.
Segundo a Agência Internacional de Energia, é
preciso que a maior parte dos novos investimentos se destinem a distribuir
energia, incluídas as opções de minirrede e fora da rede, que em geral dependem
de fontes renováveis. Se os governos do G20 redirecionarem US$ 49 bilhões ao ano
– apenas metade do que atualmente gastam em exploração de combustíveis fósseis
–, poderíamos conseguir o acesso universal à energia já em 2030.
Segundo, até agora só houve uma aplicação muito
limitada da tecnologia de captura de carbono.
O primeiro e único projeto “comercial” em grande
escala de sequestro e armazenamento de carbono, lançado este ano no Canadá,
depende de subsídios do governo e vende o carbono capturado para a indústria
petroleira, que o usa para extrair ainda mais combustíveis fósseis. Não é um
modelo sustentável.
Em síntese: os subsídios para exploração em busca
de combustíveis fósseis estão alimentando uma perigosa mudança climática, este
apoio é cada vez menos rentável, e o petróleo, o gás e o carvão não atenderão
as necessidades energéticas dos mais pobres e vulneráveis.
Os países do G20 têm os recursos para financiar uma
transição para a energia limpa. Podem dar o exemplo ao mundo deixando de
destinar subsídios nacionais, investimentos de empresas estatais e finanças
públicas aos combustíveis fósseis para usá-los, por outro lado, em fontes
renováveis e em eficiência energética.
A reunião dos líderes do G20, na cidade australiana
de Brisbane, deverá reconhecer isso e cumprir as promessas já feitas. E
erradicar imediatamente os subsídios para exploração de combustíveis fósseis
seria a forma correta de começar.
Fonte: ENVOLVERDE
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