No Brasil, situação análoga à
escravidão atinge 155,3 mil pessoas, diz o relatório Índice de Escravidão
Global 2014.
No Brasil, situação análoga à escravidão atinge
155,3 mil pessoas. Foto: Ministério Público do Trabalho – Divulgação.
O Brasil tem 155,3 mil pessoas em situação análoga
à escravidão, segundo o relatórioÍndice de Escravidão Global 2014, da
Fundação Walk Free, divulgado hoje (17). Houve significativa queda em relação
ao levantamento do ano passado, que apontou mais de 210 mil pessoas
submetidas ao trabalho escravo no país. De acordo com a organização, dos
200.361.925 de brasileiros, 0,078% está nesta condição.
Pela primeira vez, segundo o levantamento, o número
de pessoas resgatadas em situação de trabalho forçado no setor da construção
civil (38% dos casos) foi maior que no setor rural do país. De acordo com a
Walk Free, o Brasil atraiu bilhões de dólares em investimentos para a execução
da Copa do Mundo, o que propiciou o aumento do número de casos em áreas
urbanas.
O relatório também destaca que a exploração sexual
concentrou um grande número de pessoas em situação de trabalho forçado por
causa do grande fluxo de turismo nas cidades-sede do Mundial. A Walk Free
ressaltou que Fortaleza concentrou boa parte dos casos de abuso sexual de
crianças por turistas.
O documento ressalta que ainda há muitas crianças
trabalhando como empregadas domésticas. Em 2013, segundo a organização, 258 mil
pessoas entre 10 e 17 anos estavam trabalhando como trabalhadoras domésticas no
Brasil. Segundo um dos autores do relatório, Kevin Bales, também há preocupação
com a participação de crianças no tráfico ilegal de drogas.
De acordo com a Walk Free, outro dado relevante no
país é o fato de muitos bolivianos e peruanos serem explorados na indústria
têxtil. Mais da metade dos 100 mil imigrantes bolivianos entraram no Brasil de
forma irregular e são facilmente manipulados por meio da violência, das ameaças
de deportação, e da servidão por dívida, segundo a pesquisa.
A organização ressaltou o progressivo
comprometimento do governo e das empresas com a erradicação do trabalho forçado
no Brasil. Um das medidas lembradas foi a aprovação da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) do Trabalho Escravo, que determina a expropriação de imóveis
urbanos e rurais onde seja constatada a exploração de trabalho análogo à
escravidão. Outra medida importante é a lista suja do trabalho escravo,
elaborada pelo Ministério do Trabalho.
“O Brasil é um dos líderes mundiais no combate à
escravidão. A lista suja e os grupos móveis de combate ao trabalho escravo são
muito importantes e nenhum outro país tem medidas como essa”, disse Bales.
O documento destacou que somente Estados Unidos,
Brasil e Austrália estão tomando medidas para eliminar o trabalho escravo na
contratação pública e nas cadeias de fornecimento das empresas que atuam em
seus países.
O Brasil está em 143º dos 167 países avaliados
proporcionalmente em relação à população. A Mauritânia, na Costa Oeste da
África, está em 1º lugar no ranking e é apontado como o pior caso. No
ano passado, o Brasil estava em 94º entre os 162 países avaliados.
No ranking das Américas, o Brasil está em 24º
em um total de 27 países avaliados, melhorando também em relação ao primeiro
relatório, que apontou que o país estava em 13º.
Cerca de 35,8 milhões de pessoas em todo o mundo
vivem em situação análoga à escravidão, aponta o relatório Índice de
Escravidão Global 2014.
O número de pessoas escravizadas aumentou 20,13% em
relação ao levantamento em 2013. O primeiro relatório da organização mostrou
que o mundo tinha 29,8 milhões de vítimas da escravidão moderna.
De acordo com a Walk Free, o trabalho escravo nos
dias atuais ocorre por meio do tráfico de seres humanos, do trabalho forçado,
da servidão por dívida, do casamento forçado ou servil e ainda pela exploração
sexual comercial.
“Não temos que ter escravidão no mundo. Deve haver
vontade política para implementar as leis contra a escravidão como acontece com
os homicídios. Gostaria de ver a escravidão se tornar um crime tão raro no
mundo como acontece com o canibalismo hoje”, disse Kevin Bales.
A África e Ásia, segundo o documento,
continuam sendo os continentes com a maior incidência de pessoas nestas
condição. Proporcionalmente, a Mauritânia, na Costa Oeste da África, lidera
novamente o ranking dos países com maior prevalência, com 4% da
população escravizados. Ela é seguida do Uzbequistão (3,97%), Haiti (2,3%),
Catar (1,36%) e da Índia (1,14%).
Em números absolutos, a Índia permanece no topo da
lista com mais de 14,29 milhões de pessoas escravizadas, seguida da China (3,24
milhões), do Paquistão (2,06 milhões), Uzbequistão (1,2 milhão) e da Rússia
(1,05 milhão). Juntos, estes países representam 61% da escravidão moderna
mundial, ou seja, quase 22 milhões de pessoas.
De acordo com a Walk Free, apesar de o índice de
2014 estimar que há mais 20,13% de pessoas escravizadas no mundo ante os dados
de 2013, “este aumento significativo deve-se à melhoria dos dados e da
metodologia, que inclui inquéritos representativos a nível nacional em alguns
dos países mais afetados”.
Este ano, o ranking foi elaborado com base em
167 países avaliados. Taiwan, Sudão do Sul, Coreia do Norte, Kosovo e Chipre
foram incluídos no relatório de 2014. No ano passado, foram 162 países
avaliados.
Fonte: Agência
Brasil
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