Congresso mundial traça futuro
para áreas protegidas.
por
Redação do WWF Brasil
Foto: © IUCN World Parks Congress
Mais de 6 mil pessoas de praticamente todos os
países do globo se reuniram, entre 12 e 19 de novembro, em Sydney (Austrália),
para o Congresso Mundial de Parques (WPC, sigla em Inglês), quando definiram os
rumos da conservação da natureza e de culturas tradicionais associadas às áreas
protegidas para a próxima década.
O evento, que acontece a cada dez anos e é
promovido desde 1962 pela União Internacional pela Conservação da Natureza, é o
único fórum global dedicado às áreas protegidas, como parques nacionais,
reservas extrativistas e terras indígenas. O documento final do congresso,
denominado de Promessa de Sydney, define uma agenda audaciosa e urgente com
recomendações de diversos atores, como organizações não governamentais (ONGs),
lideranças comunitárias e indígenas, setor privado, academia e governos para
que o desenvolvimento humano possa acontecer cada vez mais em harmonia com a
conservação da natureza e dos modos de vida tradicionais.
Para isso, diz o texto, será necessário firmar
compromissos pela conservação e ampliação dos investimentos voltados à criação
e à implantação de sistemas de áreas protegidas. Assim, será possível colher
benefícios concretos como: frear a perda global de biodiversidade, combater as
alterações climáticas, reduzir o risco e o impacto de desastres, melhorar as
seguranças alimentar e da água e, consequentemente, promover a saúde e o bem
estar das população.
Além disso, espera-se que em todo o mundo, as
pessoas possam se tornar defensores das áreas protegidas, quando estas forem
adequadamente abertas ao uso público.
Atualmente, o planeta Terra dispõe de 209 mil áreas
protegidas, cobrindo 15,4% das terras e de 3,4% dos oceanos. Todas elas são
fonte de inspiração, educação e recreação, além do lar de diversos animais e
plantas e outras formas de vida, e abrigo de culturas que, ao longo do tempo,
desenvolveram formas mais equilibradas de convívio com a natureza.
Ao mesmo tempo, essas áreas mantêm serviços
ambientais essenciais para a vida, como o fornecimento de água potável,
controle ou mitigação das mudanças climáticas, sustento der economias
turísticas e industriais e proteção contra desastres.
Metas
Um dos grandes objetivos globais de conservação a
serem atingidos até 2020 são as chamadas Metas de Aichi da Convenção da
Biodiversidade das Nações Unidas, que pedem a todos os países que preservem
pelo menos 17% de suas terras e 10% de sua área costeiro-marinha em áreas
protegidas bem manejadas, representando todas as formações naturais. A Promessa
de Sydney oferece novos caminhos para que isso se torne realidade.
“A realidade das mudanças climáticas e a manutenção
de serviços ambientais indispensáveis para a nossa vida exigem cada vez mais
sistemas de áreas protegidas bem implantados, gerenciados e conectados. Essa
foi uma das grandes mensagens do congresso para todo o planeta. E devemos
começar a agir imediatamente para conservar e recuperar uma ampla gama de ambientes
naturais que nos garantirão um futuro mais seguro e sustentável”, disse Aldem
Bourscheit, especialista da Superintendência de Políticas Públicas do
WWF-Brasil.
Durante o WPC, inúmeros países anunciaram avanços
concretos na conservação de seus territórios e águas. Confira no quadro abaixo.
. Muitos delegados exigiram mais reconhecimento aos direitos e ao papel de
povos indígenas e populações tradicionais na conservação da natureza, por meio
de melhores políticas e práticas de gestão de áreas protegidas. A Rede WWF, por
sua vez, se comprometeu em atuar pela criação de 140 milhões de hectares de
novas áreas protegidas e a investir mais de US$ 500 milhões em fundos
destinados à conservação e manejo desses locais.
Nessa direção, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) prometeu mobilizar pelo menos US$ 100 milhões para
apoiar a gestão e a governança de áreas protegidas em 50 países, especialmente
por meio do reconhecimento e proteção de territórios indígenas e de populações
tradicionais.
Uma inovação da edição deste ano do WPC foi o
espaço dedicado aos benefícios econômicos e à relação custo-efetividade da
conservação de áreas protegidas ao redor do mundo, incluindo sua contribuição à
mitigação e à adaptação às mudanças climáticas. Novos modelos de financiamento
para a conservação da natureza vieram à tona, como a combinação de fundos
públicos e privados.
Participação brasileira
Um bom exemplo de mecanismo inovador de
financiamento foi desenhado para a nova fase do Programa Áreas Protegidas da
Amazônia (Arpa), dedicado à conservação da Amazônia em longo prazo. Pelos
próximos 25 anos, serão depositados US$ 215 milhões de recursos privados e
governamentais em um fundo de transição para garantir a proteção efetiva de 60
milhões de hectares de florestas tropicais. O fundo contará com o aumento
gradativo de recursos públicos e, vencido o prazo, o governo brasileiro deverá
assumir todo o custeio do programa.
Com uma das maiores delegações presentes, somando
75 pessoas, o Brasil fez jus ao seu papel na conservação global da natureza. O
time do WWF-Brasil participou em Sydney de inúmeras apresentações e debates
próprios e em parcerias nacionais e internacionais.
A organização lançou no WPC o movimento Caminhos da
Mata Atlântica, pelo engajamento social pela proteção e uso sustentável de um
dos mais ameaçados biomas do planeta. A iniciativa fala direto ao coração dos
brasileiros, que segundo uma pesquisa do Ibope, encomendada pelo WWF-Brasil e
divulgada durante o evento, tem nas áreas protegidas um dos maiores motivos de
orgulho.
Em parceria com a Coalizão Pró-UCs, a delegação
brasileira promoveu debates e apresentação de estudos que fazem a ligação das
áreas protegidas com a economia e também tratam das ameaças que pairam sobre o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
O WWF-Brasil também participou da apresentação e do
debate dedicado ao Arpa, conduzido pelo governo brasileiro, e apresentou o
balanço de processos legislativos que tentam reduzir a área, a categoria ou
eliminar unidades de conservação. Sempre em nome de modelos ultrapassados de
desenvolvimento que, nas últimas três décadas, nos fizeram perder 5,2 milhões
de hectares em proteção da natureza.
“O congresso mundial de parques reforçou nossa
agenda de trabalho no mundo e no Brasil. Mas, claro, nossos desafios seguem com
uma atuação cada vez mais integrada para a manutenção e a construção de
políticas públicas e acordos setoriais sempre focados na conservação da
natureza. Isso proporcionará ao Brasil, à população e à economia brasileira, meios
mais efetivos para enfrentar um futuro próximo marcado pelas mudanças
climáticas e efeitos colaterais como: escassez de água, mudanças no regime de
chuvas, alterações na produção agropecuária e prejuízos à vida de inúmeras
populações”, ressaltou Jean Timmers, superintendente de Políticas Públicas do
WWF-Brasil.
Compromissos assumidos por alguns países durante o
WPC
- Austrália
-
investirá AU$ 14 milhões para a proteção de espécies ameaçadas em parques
nacionais e na área marinha, incluindo a Grande Barreira de Corais, e
combate ao desmatamento ilegal na região da Ásia-Pacífico.
- Bangladesh
-
criará sua primeira área protegida marinha para salvaguardar baleias,
golfinhos, tartarugas, tubarões e outras espécies.
- Brasil
-
protegerá 5% de sua área costeiro-marinha e consolidará a proteção de 60
milhões de hectares na Amazônia até 2020.
- China
-
aumentará sua área protegida em pelo menos 20% e a área com florestas
protegidas em 40 milhões de hectares.
- Polinésias
Francesa -criará
uma nova e grande área protegida marinha.
- Gabão – criará rede de áreas
protegidas marinhas abrangendo 23% de suas águas.
- Japão
-
providenciará diretrizes para a proteção de áreas ligada à gestão e
prevenção de desastres.
- Kiribati
- por
meio de cooperação com os Estados Unidos, conservará por volta de 490 mil
Km2 em áreas marinhas.
- Madagascar
-
triplicará sua área protegida marinha e declarou tolerância zero contra
comércio ilegal de animais silvestres.
- Panamá
-
restaurará 1 milhão de hectares de terras degradadas dentro de áreas
protegidas.
- Canadá
-
protegerá 600 mil Km2 da atividade industrial para conservação da
biodiversidade.
- Rússia
-
criará 27 novas áreas protegidas federais e aumentará a área de 12
existentes, ampliando a proteção marinha em 28%.
- África
do Sul -
triplicará a área marinha protegida na próxima década.
Fonte: WWF Brasil
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