sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Estudo aponta potencial da intensificação pecuária na preservação da floresta.
por Redação do Idesam
Um novo modelo de fazer pecuária vem mostrando resultados em Apuí, no sul do Estado, e surge como alternativa para  unir desenvolvimento econômico e conservação ambiental.

Todo o gado do Amazonas poderia ser mantido em apenas um terço da área hoje utilizada para o rebanho. 

É o que mostra um relatório divulgado esta semana pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas), organização não governamental que atua há 10 anos no estado. A publicação, que utiliza o exemplo do município de Apuí, mostra que o potencial da atividade é utilizar apenas 30% da área atual de pastejo produzindo a mesma quantidade de animais. Com isso, as demais áreas são liberadas para outros usos, como agricultura, silvicultura, piscicultura ou mesmo a recuperação das florestas.

O relatório é resultado de três anos de pesquisa e teve como objetivo analisar a viabilidade econômica do pastejo semi-intensivo como uma alternativa para a redução do desmatamento e a melhoria de renda das propriedades rurais de Apuí. O método utilizado é conhecido como “manejo rotacional”, onde o gado é colocado em uma área subdividida e realiza um ciclo de rotação entre as subáreas, permitindo que o capim possa se recuperar e evitando que novas áreas sejam abertas.

Já foram instaladas 3 unidades demonstrativas no município do sul do estado. Em todas elas, a taxa média de lotação animal passou de 0,75 unidades animais por hectare (UA/ha) para 2,5 UA/ha, chegando a alcançar 4,2 UA/ha no período chuvoso. “Uma fazenda com 300 cabeças de gado teria potencial para criar 1.000, sem derrubar uma única árvore”, explica Gabriel Carrero, coordenador do estudo e coordenador do Programa de Produção Rural Sustentável do Idesam.

Mas ainda é preciso conscientizar os produtores sobre a necessidade de maiores investimentos iniciais em suas fazendas: “Enquanto no sistema tradicional são custos médios por ano – para uma área produtiva de 20 hectares – cerca de R$ 10 mil, para o modelo semi-intensivo o valor é de R$ 27 mil”, exemplifica Carrero.

No entanto, o estudo mostra que, depois de dois anos, essa situação econômica se inverte. Utilizando o exemplo da fazenda de 20 hectares, enquanto o modelo tradicional ainda tem fluxo líquido de -R$ 205 ao produtor, o método semi-intensivo gera uma receita de R$ 5.936. No sétimo ano, a diferença é ainda mais evidente, enquanto o modelo tradicional gera R$ 28 mil de retorno ao produtor, o semi-intensivo supera os R$ 85 mil.

Os pesquisadores alertam, no entanto, que superar a barreira cultural com os produtores é apenas a primeira etapa no processo de mudança na produção pecuária no sul do Amazonas. “A intensificação das pastagens é obrigatória no Brasil, mas em Apuí esbarra na incerteza sobre a posse da terra, na falta de assistência técnica e na carência de linhas de crédito adequadas ao produtor rural”, assevera Carrero, destacando que os investimentos encontram-se aquém do desejável e não vem atrelados a novas tecnologias e comprometimento ambiental.

A partir dos resultados do estudo, que mostraram o potencial da atividade para a economia e para a preservação ao Meio Ambiente, o Idesam busca intensificar o diálogo com fundos de crédito e entidades de assistência técnica para aumentar a escala de implementação da pecuária rotacional semi-intensiva no sul do Estado.

O relatório está disponível na biblioteca virtual do Idesam, no link idesam.org.br/biblioteca.

O sul do Amazonas

O sul do Amazonas é a mesorregião onde o rebanho bovino mais cresceu nos últimos 10 anos no estado. Conforme dados do IBGE utilizados no estudo, o rebanho dessa área passou de 100 mil animais, em 1990, para 750 mil, em 2012, e atualmente representa 50% do rebanho amazonense.  Ao mesmo tempo, informações no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento nesta região também representa quase metade do desmatamento total verificado no estado.

Para os pesquisadores, o desmatamento na área se deve a dois motivos: a migração de novas famílias do sul e sudeste do Brasil – em sua maioria pequenos agricultores sem-terra – ou à ação de pecuaristas já estabelecidos na região, que enviam dinheiro e mantêm trabalhadores nas novas áreas, trabalhando em atividades de derrubada e estabelecimento de pastagens.

Fonte: IDESAM

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