Estudo publicado na Science
alerta sobre os perigos de eventuais mudanças em legislação ambiental
brasileira.
Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) participam de estudo internacional publicado pela revista Science,
na sexta-feira (7/11), que alerta sobre os perigos de eventuais mudanças em
legislação ambiental brasileira.
O artigo “Brazil’s
environmental leadership at risk”, que tem entre seus autores Luiz
Aragão e André Lima, pesquisadores da Divisão de Sensoriamento Remoto do INPE,
aponta que ecossistemas do Brasil, de importância mundialmente reconhecida,
podem estar ameaçados se propostas para mineração em unidades de conservação e
para o estabelecimento de hidrelétricas, atualmente em debate no Congresso
Nacional, seguirem em frente.
Segundo os autores do estudo, as mudanças propostas
podem representar uma séria ameaça para as áreas protegidas, enfraquecendo a
posição internacional do Brasil como um líder ambiental.
Uma das propostas consiste em um projeto de lei
para abrir 10% das áreas de proteção integral à mineração. Em uma análise
inédita, a pesquisa mostra que pelo menos 20% da área de todas as reservas
estritamente protegidas e terras indígenas do Brasil coincidem com as áreas que
foram oficialmente registradas como de interesse para a mineração. Além disso,
muitos dos sistemas hídricos associados com áreas protegidas serão
influenciados pela construção de grandes usinas hidrelétricas. A sobreposição
entre áreas protegidas e interesse mineral ou hidrelétrico ocorre
principalmente na Amazônia.
Nos últimos anos o Brasil tem tido um crescente
reconhecimento como líder mundial no combate à destruição ambiental. O país
conta com a maior rede de áreas protegidas do mundo e avanços na governança
ambiental contribuíram para uma redução de 80% na taxa de desmatamento na
Amazônia brasileira durante a última década. No entanto, as novas propostas
podem ameaçar a reputação ambiental do Brasil.
“Nossa preocupação é que, mesmo se propostas de
mitigação fossem efetivadas, estas tendem a ser muito simplistas porque não
consideram os efeitos indiretos de megaprojetos. Esses projetos normalmente
mobilizam milhares de trabalhadores e levam a um rápido crescimento da população
local. Isto, combinado com novas estradas e vias de acesso, é uma receita para
o surgimento de novas fronteiras de desmatamento”, alerta Aragão.
A solução, segundo os autores do estudo,
inicialmente é conscientizar que manter as funções ambientais, através da
preservação de ecossistemas únicos, é parte do desenvolvimento e não um
empecilho. Segundo, é ter a garantia por parte dos tomadores de decisão que as
iniciativas de desenvolvimento sejam sujeitas a uma análise técnica de
custo-benefício, socialmente inclusiva e de longo prazo, baseada em evidências
científicas que comparem os potenciais impactos ambientais e sociais contra
opções alternativas de desenvolvimento, para garantir o cumprimento da
Constituição Federal.
Fonte: INPE
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