Placemaking chega ao Brasil e
quer planejar cidades voltadas para pessoas.
por
Danilo Mekari, do Portal Aprendiz
PPS ocupa rua de Long Island City (NY) com ioga.
PPS ocupa rua de Long Island City (NY) com ioga. Foto: Divulgação.
“Cidades têm a capacidade de fornecer algo para
todos apenas quando esse algo é criado por todos.” A frase da escritora e
ativista estadunidense Jane Jacobs serve de inspiração para os criadores de um
conceito ainda pouco conhecido no Brasil: o Placemaking (criação de lugares, em
tradução livre).
Criado nos anos 1980, nos Estados Unidos, o Placemaking
é um processo de planejamento, criação e gestão de espaços públicos, que
estimula uma maior interação entre as pessoas e propõe a transformação dos
pontos de encontro de uma comunidade (parques, praças, ruas e calçadas) em
lugares mais agradáveis e atrativos.
Para isso, nada melhor do que ouvir os desejos e
necessidades daqueles que vivem e usufruem do local a ser transformado.
“Queremos incentivar a criação de espaços onde amigos possam se encontrar e
pessoas possam se conhecer. Em suma, lugares onde a convivência cidadã
floresça”, destaca Jeniffer Heemann, secretária-executiva do Conselho
Brasileiro de Lideranças em Placemaking (CBLT) – plataforma lançada no início
de outubro, que pretende articular esforços de poder público, iniciativa privada,
academia e projetos da sociedade civil que tenham confluência neste tema.
“O Conselho vai debater questões sobre como
transformar a cidade de uma forma que melhore a qualidade de vida e a saúde
pública, trazendo mais bem-estar aos cidadãos.”
Placemaking realizado em ponto de ônibus de Londres
(Inglaterra). Placemaking realizado em ponto de ônibus de Londres (Inglaterra).
Foto: Divulgação.
Carros x Pessoas
A Conferência Internacional Future of Places
(Futuro dos Lugares), promovida pela ONU Habitat, em setembro de 2014, em
Buenos Aires, foi o berço do CBLT. “Um grupo de 20 brasileiros que participavam
da Conferência teve a ideia de reunir esforços, pessoas e coletivos que têm
interesse em desenvolver projetos ligados às melhorias urbanas”, explica
Jeniffer. Hoje, o Conselho conta com cerca de 50 membros e continua aberto para
a participação de novos interessados.
Outra fonte de inspiração é a iniciativa Project
for Public Spaces – PPS (Projetos para Espaços Públicos), uma das organizações
mais assíduas na promoção internacional do Placemaking, além de referência no
tema. Após diversos estudos em cerca de três mil comunidades de 50 países, o
PPS identificou quatro qualidades comuns em espaços públicos bem-sucedidos:
acessos e conexões; conforto e imagem; usos e atividades; e sociabilidade (leia
mais no box).
O PPS organiza eventos como o Pro Walk Pro Bike,
realizado em setembro em Pittsburgo (EUA), que discutiu a necessidade de se
criar alternativas aos veículos motorizados. Foi uma frase de outro escritor
estadunidense que serviu de mote para os debates: “Esqueçam os malditos carros
e construam cidades para os amantes e amigos” (Lewis Mumford).
Em suas discussões no Brasil, o CBLP também
prioriza a disparidade entre uma cidade para o automóvel e uma cidade para as
pessoas. “Em visita ao nosso país, membros do PPS afirmaram que estamos
copiando os mesmos erros do urbanismo ao construir vias largas apenas para
carros. Para quem anda a pé, a cidade deixa de ser interessante e convidativa e
passa a ser assustadora”, aponta Jeniffer.
Para ela, a largura da calçada, as atividades e
serviços proporcionados pelo bairro e até mesmo a sombra podem propiciar uma
experiência melhor para os cidadãos que se deslocam a pé ou de bicicleta. “Fora
dos carros, as pessoas trazem vida para as ruas. E quanto mais gente na rua,
mais segura ela é”, acredita. “Queremos recuperar um outro estilo de cidade que
estimule esses pequenos trajetos a pé, o que ajuda tanto na questão de
segurança como na de saúde pública, pois desencorajar o uso de carro reduz a
poluição e incentiva o exercício físico.”
Bryant Park, em Nova
York.Bryant Park, em Nova York. Foto: Divulgação.
Agenda política
Para além da articulação entre diferentes setores
interessados em uma nova cidade, o CBLP tem a intenção de promover workshops e
oficinas sobre as ferramentas do Placemaking que trazem melhorias para os
espaços públicos. Elas terão o apoio do PPS, que possui expertise no assunto.
Por fim, o Conselho quer inserir na agenda política
brasileira as reais demandas de quem vive e utiliza os espaços das cidades. “Em
suma, fazer com que o planejamento urbano voltado ao protagonismo das pessoas
entre ainda mais na pauta dos governos”, declara Jeniffer, parabenizando a
prefeitura de São Paulo pelo projeto Centro Aberto.
Fonte: Portal Aprendiz
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