O renascer do jornalismo de
qualidade.
por Dal
Marcondes, da Envolverde
O jornalista está em um momento especial de
libertação das grandes mídias, como ator principal em novos meios que podem
chegar a milhões de pessoas com a velocidade de um click. Foto:
Reprodução/Internet.
Uma das principais garantias para a construção e
manutenção da democracia é o jornalismo de qualidade, comprometido com fatos e
dados relevantes para a sociedade.
O jornalismo costuma ser a primeira vítima das
ditaduras. A censura e a mentira são armas utilizadas por forças autoritárias,
de direita ou de esquerda, para manter o controle da sociedade. Durante mais de
20 anos no Brasil o jornalismo esteve no centro da resistência ao
autoritarismo, com publicações “alternativas” defendendo bandeiras específicas,
como os jornais Movimento, Ex, Mulher, CooJornal, Pasquim, Lampião e muitos
outros já registrados em livros e documentos históricos. Além disso, mesmo
jornalões como O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde tiveram seus capítulos de
oposição, assim como a Veja, que um dia foi muito diferente do que é hoje, sob
a batuta do jornalista Mino Carta e uma valorosa equipe de profissionais.
No entanto, nem só de patrões venais é feito o mau
jornalismo. Jornalistas descomprometidos com a sociedade e que buscam apenas a
fama da bazófia fazem da profissão um exercício inútil e sem relevância. Nesse
novo momento da democracia brasileira o jornalismo de qualidade precisa
ressurgir das cinzas em que foi lançado durante a campanha eleitoral e
reassumir um papel relevante como guardião da democracia. Agora que as eleições
foram decididas, manda a democracia que quem venceu governe e quem perdeu
assuma a oposição responsável, com foco maior em políticas públicas, lambendo
as feridas partidárias na espera por um novo pleito.
O jornalismo comprometido precisa ajudar na
recomposição das teias sociais e políticas sem o peso do partidarismo. É
preciso que jornalistas reassumam a vanguarda informativa tomada de assalto
pelas redes sociais durante a campanha eleitoral. O momento é outro, de
formação de opinião não mais sobre propostas, mas sobre ações que deverão
repercutir no cotidiano da cidadania.
Talvez seja bom, também, lembrar que o jornalista
está em um momento especial de libertação das grandes mídias, como ator
principal em novos meios que podem chegar a milhões de pessoas com a velocidade
de um click. Essa libertação transforma os profissionais em grifes, em
referências onde os leitores buscam uma “certificação” da informação que está
sendo divulgada.
Acabou a campanha, é preciso trabalhar pela boa
governança do Estado e da democracia, e isso somente é possível com fatos e
versões comprometidos com a sociedade brasileira e não mais apenas com
bandeiras partidárias. O bom jornalismo foi uma das vítimas da campanha
presidencial, no entanto, para o bem do Brasil, é melhor que esteja apenas
combalido e não mais um corpo estendido no chão.
* Dal Marcondes é jornalista, diretor da
Envolverde e especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
Fonte: Carta Capital
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