Liderança
em economia de baixo carbono.
A elevação do nível do mar pode alagar várias áreas
de Recife, em Pernambuco, no Nordeste do Brasil, como outras localidades costeiras
da América Latina. Foto: Alejandro Arigón/IPS.
Por Fabíola Ortiz, da IPS –
Nova York, Estados Unidos, 25/11/2015 – Se os
países da América Latina passarem a incluir em suas políticas nacionais os
riscos da mudança climática, a região terá o potencial para liderar o caminho
rumo a uma economia baixa em carbono no mundo, segundo especialistas
consultados pela IPS. “A América Latina não representa a maior parte das
emissões mundiais dos gases de efeito estufa (GEE), mas pode se converter em
líder nesse processo para uma economia mais limpa”, afirmou Timmons Roberts,
catedrático de estudos ambientais e sociologia da Universidade de Brown, nos
Estados Unidos.
Roberts recordou que a região é extremamente
vulnerável a fenômenos climáticos como furacões, secas, inundações,
deslizamentos de terra e derretimento de geleiras. “Há razões muito urgentes
para que a América Latina se preocupe e leve a sério o clima’, advertiu em
entrevista à IPS. Ele é coautor do livro Um Continente Fragmentado: A
América Latina e a Política Global de Mudança Climática (tradução livre),
publicado em inglês e lançado este mês em Nova York, na sede do Conselho das
Américas.
“Queríamos entender o comportamento dos países da
região nas negociações do clima em Paris”, disse se referindo à 21ª Conferência
das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança
Climática (CMNUCC), que acontecerá na capital francesa entre os dias 30 deste
mês e 11 de dezembro.
Roberts e Guy Edwards, também pesquisador do Centro
de Estudos Ambientais da Universidade de Brown, analisam a fundo no livro o
papel dos países latino-americanos e sua influência política nas negociações
climáticas dentro da CMNUCC. Na COP 21, os 196 Estados parte deverão acordar um
novo tratado climático, universal e vinculante, para entrar em vigor em 2020.
Segundo os dois especialistas, essa será a última oportunidade para chegar a um
acordo global a fim de evitar que o aquecimento global ultrapasse os níveis
seguros para a humanidade. E os países da América Latina não podem se isolar
dessa discussão.
Para Edwards, codiretor do Laboratório de Clima e
Desenvolvimento da Universidade de Brown, um problema para uma liderança
climática da América Latina é que a região se apresenta fragmentada para as
cruciais negociações em Paris. “Há grupos com posicionamentos distintos. São
múltiplas posições, mas vemos que se faz um esforço coletivo na região em busca
de um acordo ambicioso, em especial no tocante aos temas de adaptação
climática”, apontou à IPS.
O último informe da CMNUCC, de 30 de outubro,
indica que os países latino-americanos e caribenhos em conjunto representam
apenas 7% das emissões mundiais de GEE, que provocam o aquecimento global. A
Costa Rica é o país da região que apresentou a mais ambiciosa contribuição prevista
e determinada em nível nacional (INDC), e se comprometeu a alcançar a
neutralidade em carbono até 2021.
A INDC representa os compromissos voluntários de
cada país para reduzir os GEE, que serão incluídos no novo tratado climático.
Brasil e México são os únicos países da região que aparecem entre os dez
primeiros do mundo em suas emissões de GEE, embora o ranking tenha a
particularidade de os 28 membros da União Europeia serem contabilizados em
bloco.
Guy Edwards (esquerda) e Timmons Roberts, durante a
apresentação de seu livro sobre a fragmentação com que a América Latina se
apresenta para as cruciais negociações climáticas de Paris, na sede do Conselho
das Américas, em Nova York. Foto: Fabíola Ortiz/IPS.
As contribuições da região se focam principalmente
na luta contra o desmatamento, no impulso às energias renováveis e nas ações
para tornar mais sustentáveis as práticas agrícolas, promover um transporte
mais limpo e administrar adequadamente os resíduos.
O Brasil é um dos países com INDC mais ambiciosa,
ao propor a redução em 37% de seus GEE até 2025 e chegar a 43% em 2030, com
relação aos níveis de 2005. O país também prometeu eliminar o desmatamento
ilegal e reflorestar áreas verdes perdidas. Mas a presidente Dilma Rousseff
defendeu, em seu discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York,
em setembro, o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas,
segundo as quais os países do Norte industrializado devem assumir os maiores
custos do aquecimento.
A Aliança Bolivariana para a América (Alba) forma
um segundo grupo mais de esquerda, liderado por Bolívia, Equador, Nicarágua e
Venezuela, que busca enfatizar o discurso da mãe terra e da justiça climática,
mas que, com exceção da Nicarágua, são economias dependentes da exportação de
combustíveis fósseis. Chile, Costa Rica, Peru e México integram outro grupo na
região que apresenta nítidas reduções em suas emissões de carbono e quer se
distinguir por suas políticas nacionais e seus investimentos em tecnologias
mais inteligentes e inovadoras contra a mudança climática.
Para os dois especialistas, enquanto a Costa Rica
tem compromissos mais ambiciosos, o Brasil apresenta metas que são importantes,
enquanto as propostas de Colômbia e México são animadoras. Também destacaram
que a Venezuela é a única nação das de maior economia que não apresentou INDC,
e “não temos informação de quando pensam fazê-lo”, pontuou Roberts. Para
Edwards, a CMNUCC reconhece que a região tem uma postura proativa diante da
questão climática. “A INDC poderá ser útil como estratégia para que os países
adotem parâmetros mais sustentáveis”, afirmou.
Entretanto, os autores criticaram o papel do setor
privado, que não tem protagonismo suficiente na América Latina, e destacaram
que a sociedade civil chegou tarde às negociações, porque alguns governos
falharam em não incluir nelas os representantes sociais. Para Edwards, os
países da região entendem que a cúpula na capital da França, em lugar de ser o
destino final, representará “uma nova direção” para modelos mais sustentáveis
que será possível construir tendo o novo tratado como base.
“Apesar de serem vulneráveis, os países
latino-americanos são proativos nas discussões e demonstram interesse em se
abrirem a oportunidades de investimento nas energias limpas, tecnologias mais
eficientes e transportes sustentáveis”, enfatizou Edwards. Muitos países da
região são de economias médias e em desenvolvimento, cujos governos utilizarão
seus próprios orçamentos nacionais para financiar as ações de mitigação e
adaptação diante do aquecimento global.
Entretanto, Edwards ressaltou que mesmo assim é
provável que muitos necessitem de apoio internacional para implantar seus
planos climáticos. “O nível de mitigação e adaptação é tão alto que vão
precisar do apoio dos países mais ricos que detenham a tecnologia e a
capacidade de ajudar os latino-americanos a concretizarem suas ambições”,
destacou.
Fonte: ENVOLVERDE
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