quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mudança climática, África e migração.
Refugiados africanos chegam à ilha de Lampedusa, na Itália. Foto: IlariaVechi/IPS.

Por Friday Phiri, da IPS – 

Paris, França, 14/12/2015 – Uma das razões para que milhares de africanos cheguem à Europa a cada mês, frequentemente com risco de sofrerem a bordo de embarcações instáveis para conseguir uma vida melhor, poderia ser a falta de acesso à energia. Os problemas da África estão bem documentados. Nos últimos anos, houve uma profunda discussão sobre a maneira como a mudança climática agrava essa situação e altera a sorte econômica do continente.

A falta de acesso à energia, por exemplo, foi mencionada na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), encerrada no dia 12, em Paris, como uma das razões pelas quais os jovens africanos abandonam o continente em busca de melhores oportunidades, sobretudo na Europa.

Embora a Organização Internacional para as Migrações afirme que os vínculos entre a mobilidade urbana e as consequências climáticas são muito complexos, é bastante importante assinalar que na maioria das situações as pessoas escolhem emigrar ou se ver obrigada a fazê-lo por uma série de fatores, e a mudança climática poderia ser o principal ou a chave de muitos fatores secundários.

AkinwumiAdesina, o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), concorda com esse argumento e disse que a falta de eletricidade na África é um dos motivos que explicam o êxodo para a Europa. “As secas em toda a África – o Sahel está queimando, o lago Chade está seco, meios de vida devastados – fazem com que os jovens subam nos barcos rumo à Europa porque não há oportunidades econômicas”, disse à IPS durante a COP 21.

O continente “não tem eletricidade e, portanto, a industrialização não acontece, as pequenas e médias empresas não funcionam em sua capacidade máxima. Como resultado, a África hoje perde de 3% a 4% de seu produto interno bruto”, acrescentou o presidente do BAD, que acredita que a eletrificação poderia dar aos jovens africanos enormes oportunidades em seus próprios países.

O problema “também está vinculado à migração. Naturalmente. Se a luz apaga e fica escuro, você vai para onde há luz. Inclusive os insetos passam da escuridão para a claridade”, ponderou. “Por isso devemos iluminar e dar eletricidade à África”, acrescentou se referindo à Iniciativa de Energia Renovável na África, que foi apresentada na COP 21 e cuja meta é alcançar uma capacidade de dez gigawatts (GW) nos próximos cinco anos, e de 300 GW até 2030.

Essa iniciativa exigirá milhares de milhões de dólares para ser concretizada, mas, se compararmos o custo da crise migratória na Europa com o do financiamento climático para a África, pode haver uma oportunidade para o investimento europeu de longo prazo, a fim de frear o problema migratório em sua origem.

NiclasHallstrom, diretor do Wath Next Forum, um centro de pesquisa sueco, afirmou que a iniciativa de energia renovável oferece uma oportunidade para que a Europa realize fortes investimentos pelo seu próprio bem. “Os países desenvolvidos têm o imperativo moral de apoiar a adaptação à mudança climática na África, mas isso também responde ao seu próprio interesse”, destacou.

A Iniciativa de Energia Renovável na África pretende “alcançar o acesso universal para todos os africanos no mais tardar em 2030. Requer milhares de milhões de dólares em financiamento para o clima, mas vai gerar postos de trabalho e melhorar o bem-estar das pessoas em todo o continente”, pontuouHallstrom.

Os fundos para enfrentar a mudança climática têm sido um ponto de atrito nas negociações há anos.Sam Ogallah, da Aliança Pan-Africana por Justiça Climática, disse que “a realidade presente na conferência confirmava que os países passaram a primeira semana voltando a defender suas antigas posições e deixando a maior parte dos debates importantes sem resolver”.

Ogallah chegou a pedir aos ministros durante a COP 21 que injetassem energia no processo para se chegar a um acordo justo que refletisse o princípio de responsabilidade comum mas diferenciada e abordasse as questões de perdas e danos, o financiamento para a adaptação e a mitigação e que o aquecimento global fosse mantido abaixo de 1,5 grau Celsius.

Entretanto, um informe que o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) apresentou na COP 21 acusa os principais meios de comunicação de não identificarem a mudança climática como um fator que contribui para algumas das maiores crises do planeta, como a migração, a insegurança alimentar e os conflitos armados.

“Se o mundo se der conta da maneira com que a mudança climática ameaça nossa segurança alimentar ou o motivo de ser um catalizador para a migração e os conflitos (armados), então poderemos esperar um maior apoio às políticas e aos investimentos que possam evitar as futuras crises”, previu o presidente do Fida, KanayoNwanze.


Fonte: ENVOLVERDE

Nenhum comentário:

Postar um comentário