Mudança
climática, África e migração.
Refugiados africanos chegam à ilha de Lampedusa, na
Itália. Foto: IlariaVechi/IPS.
Por Friday Phiri, da IPS –
Paris, França, 14/12/2015 – Uma das razões para que
milhares de africanos cheguem à Europa a cada mês, frequentemente com risco de
sofrerem a bordo de embarcações instáveis para conseguir uma vida melhor,
poderia ser a falta de acesso à energia. Os problemas da África estão bem
documentados. Nos últimos anos, houve uma profunda discussão sobre a maneira
como a mudança climática agrava essa situação e altera a sorte econômica do
continente.
A falta de acesso à energia, por exemplo, foi
mencionada na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações
Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), encerrada no dia 12, em Paris, como
uma das razões pelas quais os jovens africanos abandonam o continente em busca
de melhores oportunidades, sobretudo na Europa.
Embora a Organização Internacional para as
Migrações afirme que os vínculos entre a mobilidade urbana e as consequências
climáticas são muito complexos, é bastante importante assinalar que na maioria
das situações as pessoas escolhem emigrar ou se ver obrigada a fazê-lo por uma
série de fatores, e a mudança climática poderia ser o principal ou a chave de
muitos fatores secundários.
AkinwumiAdesina, o presidente do Banco Africano de
Desenvolvimento (BAD), concorda com esse argumento e disse que a falta de
eletricidade na África é um dos motivos que explicam o êxodo para a Europa. “As
secas em toda a África – o Sahel está queimando, o lago Chade está seco, meios
de vida devastados – fazem com que os jovens subam nos barcos rumo à Europa
porque não há oportunidades econômicas”, disse à IPS durante a COP 21.
O continente “não tem eletricidade e, portanto, a
industrialização não acontece, as pequenas e médias empresas não funcionam em
sua capacidade máxima. Como resultado, a África hoje perde de 3% a 4% de seu
produto interno bruto”, acrescentou o presidente do BAD, que acredita que a
eletrificação poderia dar aos jovens africanos enormes oportunidades em seus
próprios países.
O problema “também está vinculado à migração.
Naturalmente. Se a luz apaga e fica escuro, você vai para onde há luz.
Inclusive os insetos passam da escuridão para a claridade”, ponderou. “Por isso
devemos iluminar e dar eletricidade à África”, acrescentou se referindo à
Iniciativa de Energia Renovável na África, que foi apresentada na COP 21 e cuja
meta é alcançar uma capacidade de dez gigawatts (GW) nos próximos cinco anos, e
de 300 GW até 2030.
Essa iniciativa exigirá milhares de milhões de
dólares para ser concretizada, mas, se compararmos o custo da crise migratória
na Europa com o do financiamento climático para a África, pode haver uma
oportunidade para o investimento europeu de longo prazo, a fim de frear o
problema migratório em sua origem.
NiclasHallstrom, diretor do Wath Next Forum, um
centro de pesquisa sueco, afirmou que a iniciativa de energia renovável oferece
uma oportunidade para que a Europa realize fortes investimentos pelo seu
próprio bem. “Os países desenvolvidos têm o imperativo moral de apoiar a
adaptação à mudança climática na África, mas isso também responde ao seu
próprio interesse”, destacou.
A Iniciativa de Energia Renovável na África
pretende “alcançar o acesso universal para todos os africanos no mais tardar em
2030. Requer milhares de milhões de dólares em financiamento para o clima, mas
vai gerar postos de trabalho e melhorar o bem-estar das pessoas em todo o
continente”, pontuouHallstrom.
Os fundos para enfrentar a mudança climática têm
sido um ponto de atrito nas negociações há anos.Sam Ogallah, da Aliança
Pan-Africana por Justiça Climática, disse que “a realidade presente na
conferência confirmava que os países passaram a primeira semana voltando a
defender suas antigas posições e deixando a maior parte dos debates importantes
sem resolver”.
Ogallah chegou a pedir aos ministros durante a COP
21 que injetassem energia no processo para se chegar a um acordo justo que
refletisse o princípio de responsabilidade comum mas diferenciada e abordasse
as questões de perdas e danos, o financiamento para a adaptação e a mitigação e
que o aquecimento global fosse mantido abaixo de 1,5 grau Celsius.
Entretanto, um informe que o Fundo Internacional de
Desenvolvimento Agrícola (Fida) apresentou na COP 21 acusa os principais meios
de comunicação de não identificarem a mudança climática como um fator que
contribui para algumas das maiores crises do planeta, como a migração, a
insegurança alimentar e os conflitos armados.
“Se o mundo se der conta da maneira com que a
mudança climática ameaça nossa segurança alimentar ou o motivo de ser um
catalizador para a migração e os conflitos (armados), então poderemos esperar
um maior apoio às políticas e aos investimentos que possam evitar as futuras
crises”, previu o presidente do Fida, KanayoNwanze.
Fonte: ENVOLVERDE
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