terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Plano contra a perda de biodiversidade.
Zainab Samo, seu filho e sua filha plantam um limoeiro em sua propriedade na aldeia de Oan, no desértico distrito de Tharparkar, no sudeste do Paquistão. Foto: Saleem Shaikh/IPS.

Por Saleem Shaikh e Sughra Tunio, da IPS – 

Islamabad, Paquistão, 10/12/2015 – O Paquistão adotou um plano de conservação e proteção da biodiversidade a fim de recuperar ecossistemas e promover o uso sustentável dos recursos naturais para o bem-estar das gerações presente e futuras. Esta é uma boa notícia para os agricultores ZainbSamo e Aziz Hingorjo, que perderam sua rica terra de cultivo por causa da desertificação generalizada no distrito deTharparkar, na província de Sindh.

“A rápida perda de árvores e cobertura vegetal no nosso desértico distrito deTharparkar, com mais de 1,6 milhão de habitantes, se converteu em uma das causas do avanço do deserto”, explicou Hingorjo. “Essa sombria situação já obrigou muitas famílias a emigrarem para áreas urbanas em busca de oportunidades de subsistência e para onde podem encontrar abundante disponibilidade de água e forragem para seu gado”, acrescentou.

A aprovação do Plano de Ação e Estratégia Nacional de Biodiversidade (NBSAP), no dia 6 de novembro, preparou o caminho para sua implantação no começo de 2016, segundo Raja NaeemAshraf, diretor de Biodiversidade do Ministério de Mudança Climática.

Os objetivos principais desse plano são proteção do ambiente e da vida silvestre, conservação dos ecossistemas e uso sustentável dos recursos naturais. O plano esboça medidas para abordar as causas subjacentes da perda de biodiversidade mediante a transversalização do tema no governo e na sociedade em geral. Além disso, inclui a forma de melhorar o estado da biodiversidade, protegendo os ecossistemas, as espécies e a diversidade genética.

“Também vemos como podemos utilizar o NBSAP para conseguir a segurança alimentar sustentável, enquanto dialogamos com todos os usuários dos recursos naturais para conseguir uma exploração duradoura dos recursos, que atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”, destacouAshraf à IPS.

O plano foi redigido pela direção florestal do Ministério de Mudança Climática, em colaboração com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e especialistas em reflorestamento, água, ambiente e vida silvestre.

Javed Ahmed, um dos autores do plano, explica que este foi preparado para cumprir as obrigações internacionais assumidas pelo país dentro do Convênio sobre Diversidade Biológica (1992) e para conseguir as 20 Metas de Aichi para a Diversidade Biológica, acordadas durante a Conferência das Partes do Convênio realizada no Japão em 2010, quando foi adotado um Plano Estratégico para a Diversidade Biológica 2011-2020.

Entre as 20 metas constam “reduzir pela metade, e a zero quando for possível,o ritmo de perda dos habitats naturais, incluídas as florestas; fixar uma meta de conservação de 17% das zonas de águas terrestres e continentais e de 10% nas zonas marinhas e costeiras; e recuperação de pelo menos 15% das áreas degradadas”, explicou Ahmed, especialista em biodiversidade da UICN.

O controle da degradação ambiental é difícil por causa do limitado conhecimento a respeito das consequências da perda de biodiversidade e da insuficiente capacidade institucional para seu controle, pelo uso em grande escala de fertilizantes químicos na agricultura, uso insustentável dos recursos naturais e maciço corte de árvores, de acordo com SeeratAsghar, secretário federal de Segurança Alimentar e Pesquisa.

Isso se traduziu em uma redução da fertilidade do solo, desmatamento e perda de produtividade dos cultivos e da biodiversidade, o que agrava gradualmente a pobreza e a fome, destacou Asghar.

ZainabSamo e seu filho passam oito horas por dia em sua propriedade familiar de pouco mais de um hectare na localidade de Nagarparkar, onde cultivam cebola, tomate e pimenta, que bastam a esta viúva para manter a si e aos seus dois filhos. Suas terras de cultivo também têm mais de 250 árvores autóctones, plantadas para combater a desertificação e a insegurança alimentar na cidade árida de quase meio milhão de pessoas.

Algumas das árvores, como os limoeiros plantados há três anos, também lhe dão uma fonte de renda.Samo foi uma das escolhidas para um projeto agroflorestal quinquenal, implantado em 2011 por uma organização de base comunitária, a BaanhBeli, com apoio financeiro da UICN. A agricultora recebeu assistência financeira e técnica para o plantio das árvores autóctones nos limites de suas terras de cultivo, detalhou à IPS HanifSamo, coordenador da entidade.

“Há poucas semanas colhi 9.600 quilos de cebola, que me renderam 60 mil rúpias paquistanesas (US$ 572). O custo total da plantação de cebola foi de 38 mil rúpias paquistanesas (US$ 362)”, contou a agricultora.

A mesma filosofia impulsiona um projeto de pecuária sustentável em Tharparkar, com apoio das organizações Drynet, CatholicRelief Services e do Programa Mundial de Alimentos. O projeto, iniciado em 2003, instalou 35 pequenas propriedades-piloto agropecuárias como parte do plano do distrito para combater o avanço do deserto e conservar a biodiversidade.

O pecuarista Hingorjo, de 43 anos, estava muito preocupado pelo esgotamento dos recursos naturais, como a água subterrânea e a vegetação. “Mas o apoio econômico, sob a forma da agricultura agropecuária, a ajuda na gestão e no desenvolvimento de capacidades para um uso melhor e eficiente dos recursos da água para o gado e a agricultura, salvaram a mim e a minha família de cairmos na armadilha da fome e da pobreza”, ressaltou.

Agora Hingorjo tem 3.300 árvores autóctones de diferentes espécies graças ao projeto. Seu estabelecimento pecuário de 2,5 hectares lhe proporciona forragem suficiente para suas 21 cabeças de gado bovino. “As árvores ajudaram a limitar a desertificação ao estabilizar as dunas de areia móveis nos arredores. Além disso, meu gado cresce sadio e se multiplica devido ao fornecimento contínuo de forragem da fazenda”, acrescentou.

No distrito também foram instalados 15 estabelecimentos agropecuários graças à Sociedade para a Conservação e Proteção do Ambiente (Scope), com apoio da Drynet, cada um tendo no máximo de dois a três hectares. Essas propriedades combinam os cultivos alimentares, a agrosilvicultura e a pecuária, instaladas como unidades produtivas e de exposição. Agricultores de diferentes partes das zonas áridas do país as visitam para aprender técnicas de combate à desertificação.

“Aproximadamente um quarto dos 180 milhões de habitantes do país é pobre e depende diretamente dos recursos naturais para sua subsistência, seja a agricultura, caça, silvicultura, pesca, etc.”, afirmou TanveerArif, presidente da Scope.“A pobreza, combinada com o rápido aumento da população e a crescente urbanização, gera intensas pressões sobre a terra. O Paquistão, como muitos outros lugares do mundo, sofre graves problemas de degradação da terra e desertificação”, acrescentou Arif.


Fonte: ENVOLVERDE

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