Plano
contra a perda de biodiversidade.
Zainab Samo, seu filho e sua filha plantam um
limoeiro em sua propriedade na aldeia de Oan, no desértico distrito de
Tharparkar, no sudeste do Paquistão. Foto: Saleem Shaikh/IPS.
Por Saleem Shaikh e Sughra Tunio, da IPS
–
Islamabad, Paquistão, 10/12/2015 – O Paquistão
adotou um plano de conservação e proteção da biodiversidade a fim de recuperar
ecossistemas e promover o uso sustentável dos recursos naturais para o
bem-estar das gerações presente e futuras. Esta é uma boa notícia para os
agricultores ZainbSamo e Aziz Hingorjo, que perderam sua rica terra de cultivo
por causa da desertificação generalizada no distrito deTharparkar, na província
de Sindh.
“A rápida perda de árvores e cobertura vegetal no
nosso desértico distrito deTharparkar, com mais de 1,6 milhão de habitantes, se
converteu em uma das causas do avanço do deserto”, explicou Hingorjo. “Essa
sombria situação já obrigou muitas famílias a emigrarem para áreas urbanas em
busca de oportunidades de subsistência e para onde podem encontrar abundante
disponibilidade de água e forragem para seu gado”, acrescentou.
A aprovação do Plano de Ação e Estratégia Nacional
de Biodiversidade (NBSAP), no dia 6 de novembro, preparou o caminho para sua
implantação no começo de 2016, segundo Raja NaeemAshraf, diretor de
Biodiversidade do Ministério de Mudança Climática.
Os objetivos principais desse plano são proteção do
ambiente e da vida silvestre, conservação dos ecossistemas e uso sustentável
dos recursos naturais. O plano esboça medidas para abordar as causas
subjacentes da perda de biodiversidade mediante a transversalização do tema no
governo e na sociedade em geral. Além disso, inclui a forma de melhorar o
estado da biodiversidade, protegendo os ecossistemas, as espécies e a
diversidade genética.
“Também vemos como podemos utilizar o NBSAP para
conseguir a segurança alimentar sustentável, enquanto dialogamos com todos os usuários
dos recursos naturais para conseguir uma exploração duradoura dos recursos, que
atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”, destacouAshraf à IPS.
O plano foi redigido pela direção florestal do
Ministério de Mudança Climática, em colaboração com a União Internacional para
a Conservação da Natureza (UICN) e especialistas em reflorestamento, água,
ambiente e vida silvestre.
Javed Ahmed, um dos autores do plano, explica que
este foi preparado para cumprir as obrigações internacionais assumidas pelo
país dentro do Convênio sobre Diversidade Biológica (1992) e para conseguir as
20 Metas de Aichi para a Diversidade Biológica, acordadas durante a Conferência
das Partes do Convênio realizada no Japão em 2010, quando foi adotado um Plano
Estratégico para a Diversidade Biológica 2011-2020.
Entre as 20 metas constam “reduzir pela metade, e a
zero quando for possível,o ritmo de perda dos habitats naturais, incluídas as
florestas; fixar uma meta de conservação de 17% das zonas de águas terrestres e
continentais e de 10% nas zonas marinhas e costeiras; e recuperação de pelo
menos 15% das áreas degradadas”, explicou Ahmed, especialista em biodiversidade
da UICN.
O controle da degradação ambiental é difícil por
causa do limitado conhecimento a respeito das consequências da perda de
biodiversidade e da insuficiente capacidade institucional para seu controle,
pelo uso em grande escala de fertilizantes químicos na agricultura, uso insustentável
dos recursos naturais e maciço corte de árvores, de acordo com SeeratAsghar,
secretário federal de Segurança Alimentar e Pesquisa.
Isso se traduziu em uma redução da fertilidade do
solo, desmatamento e perda de produtividade dos cultivos e da biodiversidade, o
que agrava gradualmente a pobreza e a fome, destacou Asghar.
ZainabSamo e seu filho passam oito horas por dia em
sua propriedade familiar de pouco mais de um hectare na localidade de
Nagarparkar, onde cultivam cebola, tomate e pimenta, que bastam a esta viúva
para manter a si e aos seus dois filhos. Suas terras de cultivo também têm mais
de 250 árvores autóctones, plantadas para combater a desertificação e a
insegurança alimentar na cidade árida de quase meio milhão de pessoas.
Algumas das árvores, como os limoeiros plantados há
três anos, também lhe dão uma fonte de renda.Samo foi uma das escolhidas para
um projeto agroflorestal quinquenal, implantado em 2011 por uma organização de
base comunitária, a BaanhBeli, com apoio financeiro da UICN. A agricultora
recebeu assistência financeira e técnica para o plantio das árvores autóctones
nos limites de suas terras de cultivo, detalhou à IPS HanifSamo, coordenador da
entidade.
“Há poucas semanas colhi 9.600 quilos de cebola,
que me renderam 60 mil rúpias paquistanesas (US$ 572). O custo total da
plantação de cebola foi de 38 mil rúpias paquistanesas (US$ 362)”, contou a
agricultora.
A mesma filosofia impulsiona um projeto de pecuária
sustentável em Tharparkar, com apoio das organizações Drynet, CatholicRelief
Services e do Programa Mundial de Alimentos. O projeto, iniciado em 2003,
instalou 35 pequenas propriedades-piloto agropecuárias como parte do plano do
distrito para combater o avanço do deserto e conservar a biodiversidade.
O pecuarista Hingorjo, de 43 anos, estava muito
preocupado pelo esgotamento dos recursos naturais, como a água subterrânea e a
vegetação. “Mas o apoio econômico, sob a forma da agricultura agropecuária, a
ajuda na gestão e no desenvolvimento de capacidades para um uso melhor e eficiente
dos recursos da água para o gado e a agricultura, salvaram a mim e a minha
família de cairmos na armadilha da fome e da pobreza”, ressaltou.
Agora Hingorjo tem 3.300 árvores autóctones de
diferentes espécies graças ao projeto. Seu estabelecimento pecuário de 2,5
hectares lhe proporciona forragem suficiente para suas 21 cabeças de gado
bovino. “As árvores ajudaram a limitar a desertificação ao estabilizar as dunas
de areia móveis nos arredores. Além disso, meu gado cresce sadio e se
multiplica devido ao fornecimento contínuo de forragem da fazenda”,
acrescentou.
No distrito também foram instalados 15
estabelecimentos agropecuários graças à Sociedade para a Conservação e Proteção
do Ambiente (Scope), com apoio da Drynet, cada um tendo no máximo de dois a
três hectares. Essas propriedades combinam os cultivos alimentares, a
agrosilvicultura e a pecuária, instaladas como unidades produtivas e de
exposição. Agricultores de diferentes partes das zonas áridas do país as
visitam para aprender técnicas de combate à desertificação.
“Aproximadamente um quarto dos 180 milhões de
habitantes do país é pobre e depende diretamente dos recursos naturais para sua
subsistência, seja a agricultura, caça, silvicultura, pesca, etc.”, afirmou
TanveerArif, presidente da Scope.“A pobreza, combinada com o rápido aumento da
população e a crescente urbanização, gera intensas pressões sobre a terra. O
Paquistão, como muitos outros lugares do mundo, sofre graves problemas de
degradação da terra e desertificação”, acrescentou Arif.
Fonte: ENVOLVERDE
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