O
impossível foi possível na COP 21.
O presidente da COP 21, Laurent Fabius (centro), e
outros líderes da cúpula de Paris aplaudem e fazem sinais de vitória pelo
histórico acordo universal e vinculante para enfrentar a mudança climática.
Foto: CMNUCC.
Por Diego Arguedas Ortiz, da IPS –
Paris, França 14/12/2015 – O impossível foi
possível. Governos de 195 países fizeram história ao assinarem no dia 12, em
Paris o primeiro acordo universal e vinculante para mitigar as emissões de
gases-estufa e adaptar-se aos efeitos negativos da mudança climática no mundo.
Após 14 dias de intensas negociações dentro da 21ª
Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a
Mudança Climática (CMNUCC), diplomatas e ministros, alguns emocionados até às
lágrimas, aplaudiram o chamado Acordo de Paris, como o encerramento de um longo
processo de quatro anos e com muitas paradas por todo o mundo.
Um processo alinhavado pela diplomacia francesa
conseguiu evitar um destino como o do falido acordo climático de 2009, a última
tentativa para conseguir um acordo climático global, e entregou um robusto
tratado que inclui elementos que vão desde o respeito aos direitos humanos e à
integridade dos ecossistemas até às obrigações dos países.
“Tenho a profunda convicção de que conseguiremos um
acordo ambicioso e balanceado. Hoje é o momento da verdade”, disse o ministro
de Assuntos Exteriores da França, Laurent Fabius, que presidiu a cúpula de duas
semanas.
Após quase três horas de espera no plenário e uma
discussão sobre o emprego de um verbo em um artigo crucial do acordo (“deverá”
em lugar de “deveria”), Fabius pôde convocar os delegados aos seus lugares e
segurar o documento para referendar as decisões da COP 21. “É um volume pequeno,
mas creio que pode fazer um grande trabalho”, destacou.
Se os países que oassinaramo ratificarem, este será
o primeiro acordo universal e vinculante que obrigará cada nação a realizar
ações diante da mudança climática e sucederá o fracassado Protocolo de Kyoto,
um tratado obsoleto que nunca conseguiu atender as expectativas e que só
obrigava os países industrializados a reduzirem as emissões.
O acordo surgido em Paris conseguiu encontrar um
ponto médio que foi aceito por todos os grupos nas complexas negociações da
CMNUCC, desde o bloco de pequenos Estados insulares até a aliança de nações
industrializadas.
“O texto não é perfeito, mas é um bom ponto de
partida para a ação climática”, pontuou a ministra sul-africana de Água e
Assuntos Ambientais, Edna Molewa, após a ovação registrada depois de o texto
ser aprovado. “Este é o primeiro passo de um longo caminho” acrescentou a
ministra, a primeira a falar entre os que tomaram a palavra no plenário final.
A maioria dos delegados que fizeram uso da palavra
durante a noite do dia 12 recordaram a necessidade de continuar a ação
climática e conseguir a implantação do acordo nos próximos anos, especialmente
na cúpula climática de 2016, que acontecerá em Marrakesh, no Marrocos.
Por meio desse acordo o mundo concordou em limitar
o aumento da temperatura global “bem abaixo dos dois graus Celsius e em busca
de 1,5 grau”, um objetivo que pode salvar muitos dos países mais vulneráveis do
mundo, especialmente as ilhas do Pacífico, do Índico e do Caribe.
Também estabelece um fundo de US$ 100 bilhões por
ano após 2020, formaliza um mecanismo estabelecido há dois anos para reembolsar
danos causados pela mudança climática e define um objetivo de longo prazo, que
foi determinado como balanço entre as emissões e as capturas de gases-estufa
entre 2050 e 2100.
O consenso chegoudepois de duas semanas de
negociações sem descanso, no Centro de Conferências em Le Bourget, na periferia
de Paris, desenhadas ao longo das chamadas Conversas Climáticas de Paris, que
começaram em 2011 seu caminho até o acordo alcançado no dia 12.
“Apesar da diversidade e divergência, encontramos
terreno comum”, destacou em um comunicado Emmanuel M. de Guzmán, comissário de
Mudança Climática e chefe da delegação das Filipinas. “Nos demos 1,5 grau para
sobrevivermos e irmos além. Agora cabe a nós levar essa visão à realidade, por
meio de ações nacionais e da cooperação internacional”, acrescentou.
Uma vez mais, as Filipinas foram uma das vozes
líderes durante as negociações, desta vez por intermédio do Fórum de Vulnerabilidade
Climática, autodefinido como um “grupo de liderança” de 33 países que
participou das negociações e pressionou fortemente em temas como a meta de 1,5
grau.
“Agora, como uma família de nações (como irmãos e
irmãs de um mundo) podemos nos mover para frente com ambição, com a esperança
de vencer essa luta contra a mudança climática. Podemos ser vulneráveis, mas
também somos capazes de trabalhar juntos”, ressaltou Guzmán.
Na manhã do dia 12,Fabius apresentou aos países o
que considerava ser um ponto médio do acordo, o quinto rascunho em apenas dois
meses, e que foi a versão assinadaquando já era noite, um dia após a data
prevista para o encerramento da Conferência. Este acordo foi reconhecido como
um resultado positivo pela maioria dos observadores da sociedade civil, e um
sinal da crescente transição do modelo do século 20, baseado em combustíveis
fósseis, para uma economia baseada em energia renovável e verde.
“A meta de temperatura do acordo, o objetivo de
zero emissão e o processo de aumentar paulatinamente a ambição dos compromissos
nacionais de redução de emissões enviam uma clara mensagem à indústria de
combustíveis fósseis: após décadas de negociação e engano, seus esforços para
bloquear a negociação climática já não dão resultado”, apontou em um comunicado
Alden Meyer, diretor de Políticas e Estratégia da União de Cientistas
Preocupados.
Muitos ativistas e inclusive o secretário-geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, disseram esperar que esse
acordo e sua aprovação final envie um forte sinal ao setor privado e aos
mercados que trabalham no setor energético para deixar os combustíveis fósseis
e investir em energias renováveis.
Outra grande vitória da sociedade civil e de
líderes internacionais, como a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, foi a
inclusão dos direitos humanos e do tema de gênero como um elemento fundamental
no acordo.Após receber as reservas de países árabes, como a Arábia Saudita, e
de nações industrializadas, como os Estados Unidos e a Noruega, o apoio dos principais
atores do Sul em desenvolvimento, como México, Filipinas e algumas economias
emergentes da América Latina, foi fundamental para manter esse elemento no
acordo.
Ainda assim, os especialistas foram claros ao
reconhecer que esse é apenas um passo na urgente transição para economias mais
limpas e resilientes.“Todos os países concordaram em deixar para trás os
combustíveis fósseis, mas não conseguiram seguir plenamente por esse caminho.
Por essa razão, o trabalho duro deve continuar depois da cúpula”, enfatizou
Wendel Trio, diretor da Rede de Ação Climática Europa.
Fonte: ENVOLVERDE
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