África
busca justiça para sua agricultura.
“O perigo de a África não ser capaz de alimentar a
si mesma é real e, se não tivermos os recursos para nos adaptarmos à mudança
climática, o continente não será capaz de liberar o potencial de sua
agricultura”, afirmou Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de
Desenvolvimento. Foto Busani Bafana/IPS.
Por Friday Phiri, da IPS –
Paris, França, 8/12/2015 – A quem muito é dado,
muito se exigirá. Esta é a mensagem que o Banco Africano de Desenvolvimento
(BAD) levou em nome da África à conferência mundial sobre mudança climática que
acontece até o dia 11, em Paris.“Os dedos não são todos iguais. Os que
contaminam mais devem fazer mais para salvar nosso planeta”, afirmou o
presidente do BAD, Akinwumi Adesina, que lidera a delegação de sua instituição
na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas
sobre a Mudança Climática (CMNUCC).
Ex-ministro da Agricultura da Nigéria, Adesina sabe
o que a mudança climática fez e quais serão suas consequências para o
desenvolvimento agrícola da África se nada for feito para deter o aquecimento
global. “O perigo de a África não ser capaz de alimentar a si mesma é real e,
se não tivermos os recursos para nos adaptarmos à mudança climática, a África
não será capaz de liberar o potencial da agricultura”, ressaltou.
A mensagem do BAD na COP 21 é clara. Se o novo
acordo climático que surgirá em Paris não funcionar para a África, então não
será um acordo em absoluto, apontou Adesina. Para ele, os grandes
contaminadores históricos devem assumir a parte que lhes cabe da
responsabilidade, não só para reduzir suas emissões de gases-estufa, mas também
para ajudar os que sofrem a se adaptarem aos impactos climáticos.
A postura do BAD está em linha com a postura
histórica do Grupo Africano de Negociações, que defende um princípio comum mas
diferenciado, no sentido de exigir que os países contaminadores reduzam suas
emissões para manter o aquecimento do planeta abaixo de 1,5 grau Celsius e deem
financiamento para a adaptação dos países vulneráveis, a maioria dos quais
localizados na África.
Os impactos variam entre as secas e as inundações
que afetam a produção agrícola e a disponibilidade de água nas regiões do sul e
do Sahel, à redução do caudal dos rios. Os países africanos esperam que na COP
21 se chegue a um acordo climático que aborde esses problemas, no curto e longo
prazos.
“A adaptação é crucial para a África, mas dessa vez
estamos exigindo um alto nível de adaptação igual à mitigação, porque sabemos
que ambas estão estreitamente ligadas”, afirmou o presidente do Grupo Africano
de Negociadores, Nagmeldin Elhassan, em um painel de discussão de alto nível na
capital francesa. Ele pontuou que os chefes de Estado e de governo africanos
esperam nada menos que um acordo justo e equitativo para o continente, que é
uma vítima de circunstâncias que não provocou.
A adaptação é um tema fundamental para a África na
mesa de negociações da COP 21, já que ao longo dos anos o Grupo Africano de
Negociadores busca a paridade entre mitigação, adaptação e disposições
relativas para melhorar os meios de aplicação.“Quando falamos de adaptação, a
vinculamos aos meios de implantação como uma forma de conseguir que os países
desenvolvidos envolvidos proporcionem seu apoio”, explicou Elhassan.
“A menos que consigamos um bom acordo aqui, que
ajude com a tecnologia adequada, não poderemos modernizar e transformar a
agricultura”, disse, categoricamente, em Paris, a comissária da União Africana
para a Economia Rural e a Agricultura, Rhoda Peace Tumutsime, A questão dos
meios de implantação é um ponto crítico da COP 21.
Segundo o Centro Africano de Política Climática da
Comissão Econômica das Nações Unidas para a África (Cepa), a mudança climática
poderia fomentar a adoção de vias de desenvolvimento sustentável nas economias
do Sul, por meio de oportunidades empresariais e espaços para que as
autoridades abordem os problemas de igualdade de gênero e políticas de
juventude.
Carlos López, da Cepa, afirma que,“apesar de todas
as notícias negativas sobre a África, há oportunidades que podemos aproveitar.
É muito importante interpretar bem as percepções sobre os desafios e as
oportunidades disponíveis… Em todas as más notícias existem áreas potenciais
para o crescimento”.A África tem uma vantagem enorme para se desenvolver de
maneira diferente ao apoiar as oportunidades que a mudança climática oferece
para o desenvolvimento sustentável, acrescentou.
“Também é importante nos darmos conta de que não
vamos consegui-lo mediante o mesmo modelo ostensivo de carbono, por exemplo, no
contexto da agenda 2063, temos que criar 122 milhões de postos de trabalho.
Seguindo o caminho do carbono, criaremos apenas 54 milhões de postos… mas o que
acontece com o déficit?”, perguntouLópez.
López mencionou vários exemplos de oportunidades,
entre elas a energia renovável devido ao potencial natural africano em energia
solar. O continente deve ser parte da solução e “conseguir uma industrialização
que seja mais limpa, mais verde, sem seguir o modelo do carbono”, ressaltou.
Entretanto, o problema dos recursos segue de pé. O
acordo climático de Paris oferecerá uma oportunidade à África? Os próximos dias
decidirão.
Fonte: ENVOLVERDE
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