Previsão
de seca severa para Antiga.
As precipitações abaixo da média prevista para a
região do Caribe terão um impacto negativo na agricultura, o que pode levar a
um aumento do preço dos alimentos em 2016. Foto: Kenton X. Chance/IPS
Por Kenton X. Chance, da IPS –
Saint John’s, Antiga, 9/12/2015 – Verónica Yearwood
já não entra em pânico quando ouve que o prognóstico para a próxima temporada
seca nesta pequena ilha do Caribe indica que as precipitações estarão abaixo da
média, pois é especialista em hidrologia no departamento de água da Autoridade
de Serviços Públicos de Antiga.“Já superamos essa etapa. Entrávamos em pânico,
mas já nos acostumamos à realidade de que a seca será realmente muito dura, não
terminará amanhã,”explicou à IPS. “Decidimos buscar formas de mitigar os
efeitos, usar o que temos de forma adequada”, acrescentou.
Antiga é uma ilha caribenha de 280 quilômetros
quadrados, com 80 mil habitantes e que há dois anos sofre severa seca. As
pessoas não acreditam, mesmo agora que veem a evidência física. “Toda área de
captação da água de superfície está totalmente seca. Nossos aquíferos mostram
uma queda no nível de água, e passamos de dessalinizar 60% da água usada para
90%”, apontouYearwood.
“Implantamos cronogramas de racionamento”, e
algumas pessoas inclusive guardam água de chuva,pontuou a especialista,que há
mais de 30 anos trabalha como hidróloga. “Os agricultores choram. Alguns que
nunca tiveram água municipal, agora solicitam o serviço. Nunca viram uma
situação tão má, e é a pior já vista”, confirmou. As perspectivas climáticas
para a região nos próximos meses não são nada animadoras, especialmente para
sua população.
No Fórum sobre Perspectiva Climática do Caribe
(CariCOF), realizado nos dias 26 e 27 de novembro, antes da estação seca, que
costuma o ocorrer de dezembro a maio, o prognóstico foi de que a região
receberia menos chuva do que a média. CariCOF reúne meteorologistas, gerentes
de recursos hídricos e outros atores do setor agrícola, entre outros
profissionais.
“Para a próxima temporada seca esperamos
temperaturas acima do normal em toda a região”, afirmou à IPS Elmo Burke,
meteorologista da Autoridade de Aeroportos e Portos de São Cristóvão e Neves.
que são esperadas precipitações abaixo da média em todas as ilhas do norte das
Antilhas Menores até Trinidad, nas costas da América do Sul, acrescentou.
Porém, as nações caribenhas a oeste de Porto Rico
podem receber chuvas superiores à média nos próximos três meses. “Mas, como se
relaciona com as condições de seca regionais, a maioria da cadeia insular estará
sob alerta”, destacou Burke. Algumas partes de Porto Rico ficarão nessa
situação. Este ano, opaís recebeu 55% da média das precipitações.
“Em um momento em que na Federação de São Cristóvão
e Neves prevíamos chuvas significativas, por outro lado enfrentamos uma crise
hídrica por causa das precipitações inferiores à média”, afirmou à IPS Brenda
Boncamper, secretária permanente do Ministério de Infraestrutura Pública.
“Nosso departamento de serviços de água teve um ano muito difícil, uma
realidade que não temos na Federação há mais de 30 anos”, acrescentou.
Burke alertou que “as pessoas experimentarão mais
racionamento na estação seca. A agricultura também sofrerá o impacto, e
inclusive poderá aumentar o custo de alguns alimentos devido à escassez ou à
menor produção”.Toda a região sofre a seca, incluindo Dominica, onde em agosto
o ciclone tropical Erika deixou danos e causou perdas de 95% do produto interno
bruto, segundo estimativas oficiais.
“Claramente se vê a mudança climática em ação com
seus eventos extremos. Só podemos esperar mais desse tipo de clima em 2016”,
observouBoncamper à IPS.“A mudança climática é real chegou para ficar e não irá
embora”, destacou Lester Arnold, coordenador do projeto Redução de Riscos para
os Recursos Humanos e Naturais Derivados da Mudança Climática (RRACC), da
Organização de Estados do Caribe Oriental (OECO).
“A variabilidade climática também cria algum caos
em determinados Estados insulares, como vimos este ano com a seca”, afirmou
Arnold à IPS. “Esta é a segunda vez na história que a represa Potworks em
Antiga (a maior da ilha) ficou seca. Também registramos a maior temperatura dos
últimos 50 anos. Definitivamente, posso afirmar que a variabilidade climática
causa problemas”, ressaltou.
Os negociadores e governantes caribenhos se
basearão em experiências da vida real, como as de Antiga, São Cristóvão e
Dominica, para pressionar a comunidade internacional a chegar a um acordo na
21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre
a Mudança Climática (CMNUCC), que terminará no dia 11, em Paris, a fim de
evitar uma elevação da temperatura maior do que 1,5 grau Celsius.
Numerosos especialistas coincidem que, para evitar
as consequências mais catastróficas do aquecimento global, deve-se evitar uma
elevação da temperatura média do planeta maior do que dois graus em relação aos
níveis registrados na época pré-industrial.
O primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas,
Ralph Gonsalves, opinou que o acordo que surgir da COP 21 não poderá ser “algo
que os Estados possam escolher”. E ressaltou que “não é discricional, mas
vinculante”, e que o acordo deve incluir “dinheiro obrigatório para a adaptação
e mitigação da mudança climática”. Para ele, “os objetivos fixados deverão ser
legalmente vinculantes e contar com mecanismo de verificação”.
Gonsalves deverá enfrentar as eleições gerais hoje
em seu país, mas como as negociações climáticas são tão importantes para seu
país e a região, se for reeleito viajará amanhã, dia 10, para a capital
francesa, um dia antes do encerramento da COP 21.Qualquer que seja o resultado
das negociações em Paris, que segundo os governantes caribenhos são muito
importantes para fracassarem, os meteorologistas estimam que haverá mais dias
secos para a região.
“Sempre tivemos secas, e as pesquisas mostram que
sempre ocorreram em um determinado momento. Mas agora são severas e vêm em um
intervalo menor do que estávamos acostumados, digamos desde a década de 1950
até agora”, enfatizouYearwood à IPS.
Fonte: ENVOLVERDE
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