As
extremidades do evento climático.
Jovens ativistas com círculos pintados sobre seu
olho direito como simbolismo à sua meta de zero combustíveis fósseis em 2050.
Fotos por: Emma Cassidy | Agência de Meios de Sobrevivência.
Por Ana Carolina Amaral, especial de Paris
para Envolverde –
Uma avalanche de eventos concorrentes. Um turbilhão
de informações. Um furacão de anúncios, notícias, novas parcerias e
investimentos. Tudo isso compõe – licença para o trocadilho – os eventos
climáticos extremos da COP do Clima. Muitas vezes alertados em cima da hora,
eles podem ser extremamente enganosos. Dão a impressão de que está tudo
bombando (sem trocadilho aqui, gente!).
Se a decisão é cobrir o evento do fim dos subsídios
aos combustíveis fósseis (pauta bombada da segunda-feira), vamos lá ouvir o
ministro da Nova Zelândia no palco – quem logo depois ganhou o respaldado
antiprêmio Fóssil do Dia, por ter aprovado mais finaciamento à produção de
combustíveis no seu país. Se a pauta é florestas, vamos lá ouvir o ministro
Joaquim Levy atribuindo ao novo Código Florestal o sucesso da conservação
brasileira – elogiada por outros líderes como um modelo a ser seguido, apesar
do desmatamento ter aumentado no último ano. Alguns alertas de eventos
atribuiram às florestas o grande foco de atenção da terça-feira. Já para essa
quarta os lançamentos, anúncios e parcerias decidiam – como que em um movimento
orgânico, só que não – dar atenção aos esquecidos oceanos e à questão
primordial do clima: a água. Para o últimos dias da semana estão programados
eventos sobre resiliência e adaptação.
É impressionante que em três dias de COP esses
temas importantes tenham marcado presença na agenda com discursos que tocam na
ferida, junto a anúncios de parcerias e investimentos voluntários. Desta vez, o
que nos distrai do que está em jogo não é um problema, mas um chafariz jorrando
permanentemente litros de soluções voluntárias, envolvendo os vários setores da
sociedade. Elas incidem sobre o cerne das questões climáticas e, por isso,
fazem parecer que a COP está dando certo. Quando, factualmente, os acordos,
investimentos e parcerias que nos trazem aqui mal começaram a acontecer.
Enquanto o jogo segue entre colchetes dentro das
salas de negociações, do lado de fora um chafariz jorra permanentemente litros
de soluções voluntárias, envolvendo os vários setores da sociedade. Foto por:
Joel Lukhovi | Agência de Meios de Sobrevivência.
Esta é a chance, em cima da hora, de se chegar a um
acordo climático que substitua o findo Protocolo de Kioto e inaugure uma fase
de compromissos centrais com a questão climática, já que o futuro chegou e
estamos falando de consequências já presentes. O texto desse documento ainda
está praticamente todo entre colchetes, ou seja, com múltiplas sugestões que
podem firmar ou afrouxar os nível de comprometimento dos países. Ainda não se
sabe se o documento terá força de lei, como vamos financiar essa transição para
uma economia de baixo carbono, como distribuir as responsabilidades
diferenciadas entre os blocos de países, como se darão as parcerias para
transferência tecnológica e o suporte aos países mais afetados. As propostas
que os países fizeram ao longo do ano para corte de emissões (os INDC) ajudam e
criam disposição para um acordo, mas não são suficientes para limitar o
aquecimento médio a menos de 2oC. E, adivinha? Também não se sabe ainda qual
instrumento vai complementar o que faltou nas metas voluntárias.
Além dos chamados para os anúncios voluntários no
espaço das negociações, no pavilhão vizinho acontece a conferência paralela,
organizada pela sociedade civil – espalhada também em outros prédios no Centro
de Paris. São milhares de iniciativas locais que vêm mostrar seu trabalho e dar
um recado ao mundo: a transição para a economia de baixo carbono já está
acontecendo. Localmente, mas pelo mundo todo. Ao andar por lá, a intuição fala
alto: vivemos uma transição poderosa e irreversível.
A COP-21 representa bem este momento de transição:
aqui temos a conclusão e início, em que se espera concluir uma acordo climático
global e também dar a largada para um novo modelo econômico. Ela prova que a
mudança acontece nos dois sentidos: de baixo para cima e de cima para baixo, o
tempo todo, em um sistema de retroalimentação natural. Porém, a
retroalimentação só funciona sob a pressão dos que se relacionam. Aí mora minha
pergunta: como delegações e sociedade civil podem se influenciar se pouco se
relacionam, pressionam, propõem? Apartados em diferentes espaços, com pautas
distintas e mensagens concorrentes – “o que importa está aqui e não lá” -,
esses dois grupos de atores perdem a chance de diálogo – justamente o que
deveria ser o cerne de uma conferência mundial. Saímos de todos os cantos para,
no umbigo do planeta, marcar encontro com os nossos? Por ora, tem sido assim:
cada macaco no seu galho. E o jogo segue entre colchetes.
*Ana Carolina Amaral é jornalista formada
pela Unesp, mestra em Ciências Holísticas pelo Schumacher College (UK) e moderadora
da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário