terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Quiosque solar muda vidas no Quênia.
Um dos quiosques solares com produtos à venda. Além de bebidas e alimentos, oferece acessórios e serviços como recarregar celulares. Foto: Justus Wanzala/IPS.

Por Justus Wanzala, da IPS – 

Olkiramatian, Quênia, 10/12/2015 – A mudança climática afetou o povo masai, especialmente na região árida do lago Magadi, no sul do Quênia, onde pouco a pouco adquirem hábitos sedentários, embora sem serviços porque, entre outras coisas, não estão conectados à rede elétrica.

O mercado de Olkiramatian, aldeia do distrito de Kajiado, é quente e poeirento. O sol ardente que ilumina a região durante o dia contrasta com a escuridão que a envolve à noite. Mas, há dois anos, se transforma e ferve de atividade graças à Solar KioskKenyaLimited, que instalou um quiosque solar desenhado pelaGraft, sócia cofundadora da Solarkiosk AG, cuja matriz fica em Berlim, na Alemanha.

O quiosque, chamado Solarkiosk E-HUBB, é uma estrutura alimentada com energia fotovoltaica, que pode ser facilmente instalada em comunidades rurais que não estão conectadas à rede elétrica nacional. Esses quiosques facilitam os empreendimentos locais e o desenvolvimento sustentável das comunidades na base da pirâmide, ao permitir a venda de produtos para cozinha, bebidas, oferecer serviços de energia, bem como produtos de energias limpas e soluções de conectividade.

Até o final deste ano, a empresa terá instalado mais de cem quiosques solares em três continentes. Essas estruturas empregam energia solar para gerar eletricidade e beneficiar as comunidades que não estão ligadas a nenhuma rede. Os operadores podem usá-la durante o dia e continuar com luz até à noite.

A Solar KioskKenyaLimited é responsável pelas operações no Quênia, com um modelo de negócio que permite a um empresário local comercializar diversos produtos e oferecer serviços que requerem eletricidade. A iniciativa, que é implantada em áreas afastadas e periurbanas, consegue um triplo impacto: social, ambiental e econômico.

A companhia também amplifica o vínculo entre energia e desenvolvimento. Para os moradores de Olkiramatian, contar com uma fonte de eletricidade limpa era um grande sonho. Como em muitas aldeias do Quênia, nesta dependiam de lampiões de querosene ou geradores a diesel, que contaminam e são barulhentos.

“A energia solar é uma fonte renovável com o potencial de acelerar o crescimento em áreas afastadas sem conexão com a rede elétrica”, ressaltou Jan Willem Van Es, gerente da Solar KioskKenya. 

“Trata-se de uma estrutura modular extensível que pode ser transportada e armada em zonas distantes. O E-HUBB de Olkiramatianfoi o quarto que instalamos nesse país. O quiosque combina um design de última geração com um painel no teto com capacidade de dois quilowatts, além de uma bateria que pode funcionar pelo menos 24 horas sem receber radiação solar”, explicou.

O operador do quiosque, SeuriLesino, contou que funcionano horário noturno para faturar mais. 

“Antes, para ter um negócio dependia dos lampiões que mal iluminavam, mas agora, quando chega a noite, pode-se pensar que se está em uma cidade. Abrimos até meia-noite e as pessoas gostam, a energia é abundante”, contou. Lesino acrescentou que a “energia do quiosque, instalado em 2013, permite alimentar uma televisão, impressora, carregadores de telefone e oferecer serviços de barbeiro, fotocópias e plastificação”.

Além dos serviços de energia e alimentos, o quiosque oferece produtos como fogões eficientes, briquetes de carvão vegetal fabricados a partir dos resíduos agrícolas e outros insumos sustentáveis. Van Es disse também que os quiosques oferecem serviços de internet, além de se converterem em plataforma para outros empreendimentos, como salão de beleza e barbearia, e de oferecerem cinema e esportes.

“No futuro será possível ampliar para um minicentro comercial, se vier outro empresário e oferecer serviço de açougue, por exemplo, pode-se acrescentar mais painéis, e isso funciona comfornecedores como as empresas de telecomunicações interessadas em colocar uma torre”, destacou Van Es.

“Tirar partido do abundante sol gratuito deu seus dividendos”, destacou o chefe de área JosphatMaiponyi. Antes as pessoas andavam grandes distâncias para carregar seus celulares, mas isso acabou. Ele também contou que os idosos utilizam um salão provisório próximo ao quiosque para suas reuniões, mesmo após o pôr do sol.O professor FredrickSankori contou que aproveita a luz para trabalhar sem sofrer as consequências negativas da fumaça liberada pelos lampiões de querosene.

Os quiosques são montados com peças procedentes da Alemanha, mas logo poderão ser fabricados no Quênia. Atualmente há 23 deles distribuídos em todo o país, servindo a milhares de pessoas, além de oferecer trabalho. A Solarkiosk AG também opera em Botsuana, Etiópia, Gana, Ruanda e Tanzânia.

A Avaliação de Iluminação, realizada em 2010 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), indica que a população fora da rede elétrica nacional no Quênia é de 34 milhões de pessoas, dos 40,5 milhões de habitantes. O número pode ser maior, mas dá uma ideia da necessidade de sistemas alternativos de geração elétrica, especialmente em zonas rurais. No mundo, cerca de 1,5 bilhão de pessoas não têm eletricidade, das quais 800 milhões estão na África.

Segundo o Banco Mundial, o Quênia tem radiação solar entre quatro e seis quilowatts/hora por metro quadrado durante o dia, o que permitiria acabar com a pobreza energética se for bem aproveitada.Mas a preocupação de Van Es é o péssimo estado das estradas e da infraestrutura em geral nas zonas rurais do Quênia, pois pode prejudicar os investimentos do setor. “Não houve muita boa vontade das autoridades, cairia bem algum apoio governamental”, enfatizou.

A infraestrutura é um desafio para as empresas do setor de energias renováveis que pretendem investir em zonas rurais, concordou Peter George, diretor de serviços da Global Village Energy Partnership, empresa que participa de várias iniciativas para reduzir a pobreza e melhorar o acesso à energia no Quênia.O investimento em energias renováveis é vital porque protege o ambiente e gera emprego.

“O desenvolvimento tangível e real só pode ocorrer com uma eficiente e sustentada geração de energia no país”, pontuou George. Quanto maior for o acesso, mais fácil será para o país pôr fim à pobreza. “Por isso, apoiamos empresas como a SolarKiosk, que investem na oferta de energia às comunidades excluídas da rede nacional”, ressaltou.


Fonte: ENVOLVERDE

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