Quiosque
solar muda vidas no Quênia.
Um dos quiosques solares com produtos à venda. Além
de bebidas e alimentos, oferece acessórios e serviços como recarregar celulares.
Foto: Justus Wanzala/IPS.
Por Justus Wanzala, da IPS –
Olkiramatian, Quênia, 10/12/2015 – A mudança
climática afetou o povo masai, especialmente na região árida do lago Magadi, no
sul do Quênia, onde pouco a pouco adquirem hábitos sedentários, embora sem
serviços porque, entre outras coisas, não estão conectados à rede elétrica.
O mercado de Olkiramatian, aldeia do distrito de
Kajiado, é quente e poeirento. O sol ardente que ilumina a região durante o dia
contrasta com a escuridão que a envolve à noite. Mas, há dois anos, se
transforma e ferve de atividade graças à Solar KioskKenyaLimited, que instalou
um quiosque solar desenhado pelaGraft, sócia cofundadora da Solarkiosk AG, cuja
matriz fica em Berlim, na Alemanha.
O quiosque, chamado Solarkiosk E-HUBB, é uma
estrutura alimentada com energia fotovoltaica, que pode ser facilmente
instalada em comunidades rurais que não estão conectadas à rede elétrica
nacional. Esses quiosques facilitam os empreendimentos locais e o
desenvolvimento sustentável das comunidades na base da pirâmide, ao permitir a
venda de produtos para cozinha, bebidas, oferecer serviços de energia, bem como
produtos de energias limpas e soluções de conectividade.
Até o final deste ano, a empresa terá instalado
mais de cem quiosques solares em três continentes. Essas estruturas empregam
energia solar para gerar eletricidade e beneficiar as comunidades que não estão
ligadas a nenhuma rede. Os operadores podem usá-la durante o dia e continuar
com luz até à noite.
A Solar KioskKenyaLimited é responsável pelas
operações no Quênia, com um modelo de negócio que permite a um empresário local
comercializar diversos produtos e oferecer serviços que requerem eletricidade.
A iniciativa, que é implantada em áreas afastadas e periurbanas, consegue um triplo
impacto: social, ambiental e econômico.
A companhia também amplifica o vínculo entre
energia e desenvolvimento. Para os moradores de Olkiramatian, contar com uma
fonte de eletricidade limpa era um grande sonho. Como em muitas aldeias do
Quênia, nesta dependiam de lampiões de querosene ou geradores a diesel, que
contaminam e são barulhentos.
“A energia solar é uma fonte renovável com o
potencial de acelerar o crescimento em áreas afastadas sem conexão com a rede
elétrica”, ressaltou Jan Willem Van Es, gerente da Solar KioskKenya.
“Trata-se
de uma estrutura modular extensível que pode ser transportada e armada em zonas
distantes. O E-HUBB de Olkiramatianfoi o quarto que instalamos nesse país. O
quiosque combina um design de última geração com um painel no teto com
capacidade de dois quilowatts, além de uma bateria que pode funcionar pelo
menos 24 horas sem receber radiação solar”, explicou.
O operador do quiosque, SeuriLesino, contou que
funcionano horário noturno para faturar mais.
“Antes, para ter um negócio
dependia dos lampiões que mal iluminavam, mas agora, quando chega a noite,
pode-se pensar que se está em uma cidade. Abrimos até meia-noite e as pessoas
gostam, a energia é abundante”, contou. Lesino acrescentou que a “energia do
quiosque, instalado em 2013, permite alimentar uma televisão, impressora,
carregadores de telefone e oferecer serviços de barbeiro, fotocópias e
plastificação”.
Além dos serviços de energia e alimentos, o
quiosque oferece produtos como fogões eficientes, briquetes de carvão vegetal
fabricados a partir dos resíduos agrícolas e outros insumos sustentáveis. Van
Es disse também que os quiosques oferecem serviços de internet, além de se
converterem em plataforma para outros empreendimentos, como salão de beleza e
barbearia, e de oferecerem cinema e esportes.
“No futuro será possível ampliar para um minicentro
comercial, se vier outro empresário e oferecer serviço de açougue, por exemplo,
pode-se acrescentar mais painéis, e isso funciona comfornecedores como as
empresas de telecomunicações interessadas em colocar uma torre”, destacou Van
Es.
“Tirar partido do abundante sol gratuito deu seus
dividendos”, destacou o chefe de área JosphatMaiponyi. Antes as pessoas andavam
grandes distâncias para carregar seus celulares, mas isso acabou. Ele também
contou que os idosos utilizam um salão provisório próximo ao quiosque para suas
reuniões, mesmo após o pôr do sol.O professor FredrickSankori contou que
aproveita a luz para trabalhar sem sofrer as consequências negativas da fumaça
liberada pelos lampiões de querosene.
Os quiosques são montados com peças procedentes da
Alemanha, mas logo poderão ser fabricados no Quênia. Atualmente há 23 deles
distribuídos em todo o país, servindo a milhares de pessoas, além de oferecer
trabalho. A Solarkiosk AG também opera em Botsuana, Etiópia, Gana, Ruanda e
Tanzânia.
A Avaliação de Iluminação, realizada em 2010 pelo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), indica que a população
fora da rede elétrica nacional no Quênia é de 34 milhões de pessoas, dos 40,5
milhões de habitantes. O número pode ser maior, mas dá uma ideia da necessidade
de sistemas alternativos de geração elétrica, especialmente em zonas rurais. No
mundo, cerca de 1,5 bilhão de pessoas não têm eletricidade, das quais 800
milhões estão na África.
Segundo o Banco Mundial, o Quênia tem radiação
solar entre quatro e seis quilowatts/hora por metro quadrado durante o dia, o
que permitiria acabar com a pobreza energética se for bem aproveitada.Mas a
preocupação de Van Es é o péssimo estado das estradas e da infraestrutura em
geral nas zonas rurais do Quênia, pois pode prejudicar os investimentos do
setor. “Não houve muita boa vontade das autoridades, cairia bem algum apoio
governamental”, enfatizou.
A infraestrutura é um desafio para as empresas do
setor de energias renováveis que pretendem investir em zonas rurais, concordou
Peter George, diretor de serviços da Global Village Energy Partnership, empresa
que participa de várias iniciativas para reduzir a pobreza e melhorar o acesso
à energia no Quênia.O investimento em energias renováveis é vital porque
protege o ambiente e gera emprego.
“O desenvolvimento tangível e real só pode ocorrer
com uma eficiente e sustentada geração de energia no país”, pontuou George.
Quanto maior for o acesso, mais fácil será para o país pôr fim à pobreza. “Por
isso, apoiamos empresas como a SolarKiosk, que investem na oferta de energia às
comunidades excluídas da rede nacional”, ressaltou.
Fonte: ENVOLVERDE
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