Investir
mais em energias renováveis.
Os painéis solares são parte da geografia de
variados países na América Latina, em particular em instituições públicas, como
estes instalados no teto do Ministério do Meio Ambiente do Chile. Foto:
MarianelaJarroud.
Por Marianela Jarroud, da IPS –
Santiago, Chile, 14/12/2015 – A América Latina
investiu em 2015 mais de US$ 23 bilhões em energias eólica, solar, biomassa,
geotérmica e outras renováveis. Mas deverá fazer um esforço maior nas próximas
décadas nessa estratégia para responder aos desafios da mudança climática.
“Para avançar em mitigação da mudança climática
será preciso concretizar medidas fundamentais, como potencializar fortemente na
região as energias renováveis, que por sua vez nos permitam revalorizar nossos
recursos naturais”, afirmou Andrés Romero, secretário executivo da
governamental Comissão Nacional de Energia do Chile.
Junto a isso, acrescentou Romero em conversa com a
IPS, “deve-se alcançar uma integração elétrica que nos permita a
complementariedade de recursos na região, e trabalhar por uma integração que
nos permita usar o gás natural como combustível de transição para uma matriz
energética mais limpa”.
As energias renováveis são consideradas um dos
mecanismos mais importantes para limitar o aquecimento global e reduzir as
emissões de gases de efeito estufa (GEE). Segundo um informe do Fundo Mundial
para a Natureza (WWF), se a América Latina explorasse uma pequena parte de sua
capacidade renovável hidráulica, poderia atender o aumento da demanda por
energia nas suas economias.
O tema foi protagonista nos discursos dos
mandatários latino-americanos quando participaram da 21ª Conferência das Partes
(COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática
(CMNUCC), realizada em Paris entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro.
Em seu discurso na cúpula, o presidente do
Paraguai, Horacio Cartes, assegurou que seu país tem abundância de recursos
naturais e é o maior produtor e exportador de energia renovável do mundo. A
presidente do Chile, Michelle Bachelet, por sua vez, pontuou que desde 2013 a
capacidade de energia renovável em seu país triplicou, e que as últimas
licitações de energia fizeram com que os custos sejam até 50% menores do que há
dois anos.
Já a presidente Dilma Rousseff ratificou que o
Brasil tem uma “ambição” de conseguir 43% de redução nas emissões até 2030,com
o aumento da disponibilidade de energias renováveis, como solar, eólica e biomassa,
e pela redução do desmatamento na Amazônia.
Segundo o informe Climascópio 2015,
elaborado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e pela Bloomberg, a
América Latina investiu,no último ano, mais de US$ 23 bilhões em energia
eólica, solar, biomassa, geotérmica e outras renováveis. E, embora a maior
parte da atividade na região se concentre nas economias maiores, alguns países
de menor dimensão também se destacaram entre os líderes de energias limpas.
Brasil, Chile, México e Uruguai estão entre os dez primeiros do ranking mundial
nessa área.
De acordo com o documento, o Brasil, que está
atualmente entre os maiores emissores de GEE vem sendo líder regional no
desenvolvimento de energias limpas nos últimos quatro anos. Já o México, a
segunda economia regional, está abrindo oportunidades para os geradores
privados e mais capacidade para as energias limpas.
O Uruguai deverá terminar 2015 com quase 30% de sua
capacidade elétrica instalada procedente de parques eólicos.O Chile possui um
total de 19.725,72 megawatts de potência instalada. Destes, 58,4% provêm de
geração a diesel, carvão e gás natural, e o restante corresponde a energias
renováveis que incluem, em sua grande maioria, a mega hidroeletricidade.Apenas
13,5% do total corresponde a energias renováveis não convencionais, como eólica
(4,57%), solar fotovoltaica (3,79%), mini-hidrelétricas (2,8%) e biomassa
(2,34%).
O governo de Bachelet propôs uma nova agenda
energética, na qual se considera viável que, em 2050, 70% da geração de energia
no Chile provenha de fontes renováveis, indicou à IPS o ministro do Meio
Ambiente, Pablo Badenier. “No Chile, 70% das emissões de gases-estufa provêm do
setor energético. Assim, são os compromissos em energia que nos permitirão
chegar à meta de redução em 30% das emissões até 2030”, como ratificou a
presidente em Paris, ressaltou o ministro.
“Se olharmos o mapa do caminho da energia 2050,
estima-se viável que, em 2050, 70% da geração de energia no Chile provenham de
energias renováveis. Isso é o que faz possível e serio comprometer essa meta de
GEE”, acrescentou Badenier.
Para Andrés Romero, o caminho para a massificação
das energias renováveis na América Latina implica, primeiro, avançar para o
desenvolvimento da eficiência energética, entendendo-a como a primeira e mais
limpa fonte de energia. Junto a isso “será necessário acabar com os subsídios
ao uso de hidrocarbonos, que pressionam os orçamentos fiscais e geram
inadequados sinais para os consumidores”.
Porém, Romero alertou que um novo modelo de
desenvolvimento energético latino-americano, baseado em uma política climática
e, portanto, sem carbono, poderá ser um sucesso desde que também esteja
conectado com os demais aspectos sociais e culturais da região.
“Deve continuar avançando na redução da pobreza
energética, na desigualdade no acesso a fontes de energia, no aprofundamento
dos espaços de participação, na proteção dos bens naturais, no ambiente e na
biodiversidade entre outros temas relevantes para a América Latina”, explicou o
especialista.
Mas, além do pré-requisito de resolver essas
brechas, estima-se que nos próximos anos a capacidade instalada de energias
renováveis na região aumentará consideravelmente pelas mãos das empresas
mundiais do setor, que voltaram sua atenção para a região devido ao grande
potencial para seu desenvolvimento.
No México, por exemplo, a empresa Enel Green Power
iniciou em julho a construção de um novo parque eólico de cem megawatts de
capacidade instalada na região de Zacatecas, enquanto a companhia alemã Siemens
anunciou no mesmo mês sua decisão de aumentar sua capacidade eólica na região,
especialmente com projetos no Brasil e no México.
Também o grupo espanhol Iberdrola informou que
investirá cerca de US$ 4 bilhões em projetos para a expansão da rede de
distribuição e na construção de sete parques eólicos no Brasil, nos próximos
três anos.
No Chile, outro exemplo, empresas de energias
renováveis ganharam em outubro uma licitação para desenvolver 1.200
gigawatts/hora por ano, durante 20 anos, a partir de janeiro de 2017. O governo
espera que no próximo processo de licitação do fornecimento elétrico, que
acontecerá em abril de 2016 e incluirá 30% da demanda em energia (13.750
gigawatts/hora/ano por 20 anos), se mantenha a consolidação das renováveis.
Fonte: ENVOLVERDE
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