Polêmicas
não bastam, soluções são urgentes.
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Por Washington Novaes*
Que fará o Brasil para emergir da assustadora crise
política em que está mergulhado? Ainda mais com os partidos políticos sem saber
que rumos tomarão, com a proibição judicial de doações de empresas a candidatos
e suas legendas. E com a opinião pública mostrando que a avaliação negativa do
governo federal é de 70,2% (pesquisa CNT) e os principais partidos políticos
também têm índices muito baixos de aprovação (Ibope, novembro).
Haverá caminhos novos para sairmos dos impasses,
com parte dos políticos e dos eleitores pedindo o impeachment da presidente da
República e o Tribunal de Contas da União rejeitando as contas de 2014 do
governo federal? São muitas as vozes que pregam nessas direções, até com
propostas de caminhos não previstos na legislação.
Felizmente, paira serena a voz do eminente
constitucionalista José Afonso da Silva, professor emérito, segundo quem “a
Constituição federal tem elementos para resolver essa crise dentro dos
parâmetros democráticos” (5/10). Mas está em curso decisão do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), que, por cinco votos a dois, resolveu (6/10) iniciar processo
de impugnação do mandato presidencial e do vice-presidente.
O professor Oliveiros S. Ferreira, da USP e da
PUC-SP, pensa (Estado, 10/11) que, “sendo ética a crise, o que poderá estar
perturbando a tranquilidade dos comandos é uma pergunta muito simples: até que
ponto as instituições militares não foram afetadas e não estão elas mesmas em
crise?”.
Felizmente, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, tem
assegurado que, embora haja “uma crise ética” (Estado, 22/11) e “a corrupção
esteja instalada no País”, as instituições “estão em pleno funcionamento” e
“não há chance de intervenções militares (…) as instituições sólidas e
amadurecidas estão cumprindo o seu papel”.
Também o ministro Ricardo Lewandowski, presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), adverte: “O Brasil precisa ter paciência e
não embarcar em golpe institucional, que pode pôr em risco as instituições
democráticas” (Folha de S.Paulo, 14/11).
Opiniões importantes têm vindo em favor da tese do
impeachment da presidente. O jurista Miguel Reale Júnior, por exemplo (Estado,
1.º/8), tem reiterado que a chefe do governo precisa responder às acusações de
doações ilícitas na campanha eleitoral e de “pedaladas fiscais”; nossas
dificuldades decorreriam da inexistência de um regime de responsabilidade, “que
não existe no presidencialismo”, e pode vir por meio do parlamentarismo. Um
primeiro-ministro e seu Gabinete podem ser destituídos e, dissolvida a Câmara,
convocadas novas eleições; o presidente da República, eleito diretamente,
garantiria a estabilidade institucional. E se eliminaria o presidencialismo que
“coopta apoio no Congresso por dinheiro, emendas parlamentares ou distribuição
de cargos (…) a crise de governabilidade no parlamentarismo é resolvida
rapidamente por moção de censura”.
Nos roteiros atuais, a pedido do presidente da
Comissão de Constituição e Justiça, uma comissão especial, com representantes
dos partidos, fez um levantamento de como seria a tramitação interna de um
pedido de impeachment da presidente, sem passar por comissão de justiça. E há
um pedido de deposição apresentado pelo Movimento Brasil Livre. Além disso, o
jurista Hélio Bicudo, fundador do PT (do qual saiu em 2005), também quer o impeachment,
porque “a presidente não governa mais, quem governa são seus acólitos”. As
pedaladas justificariam esse caminho político.
No STF, porém, os caminhos nessa direção parecem
sofrer uma pausa. E o jurista Dalmo de Abreu Dallari pensa que o TSE, segundo o
artigo 85 da Constituição da República (Estado, 8/10), não tem competência para
cassar mandato de presidente da República. Com tantas controvérsias, e sem
apoio da oposição, a presidência da Câmara parece haver deixado a decisão para
2016 (Estado, 19/11).
Debate paralelo tem sido o das doações de empresas
e pessoas físicas a candidatos eleitorais. O STF decidiu por unanimidade (Folha
de S.Paulo, 13/11) barrar as doações ocultas a candidatos nas eleições –
constantes da minirreforma eleitoral aprovada no Congresso este ano, que previa
até a possibilidade de doações de empresas a partidos serem transferidas para
candidatos; e estes não precisariam detalhar os doadores nas prestações de
contas, impedindo o eleitor de saber quem financiara os candidatos. Segundo o
ministro Dias Toffoli, tratava-se de decisão inconstitucional, porque o eleitor
precisa saber quem financia. Segundo o Estado (28/9), os diretórios nacionais
dos nossos três maiores partidos receberam R$ 2 bilhões de pessoas jurídicas
entre 2010 e 2014.
E não é só, há ainda a polêmica entre os que
defendem o retorno ao voto impresso, por acharem que a urna eleitoral facilita
fraudes, e os que defendem exatamente o contrário. O terreno eleitoral continua
prenhe de discussões, mas com racionamento de soluções.
Talvez um caminho fértil para enfrentar tantas
angústias à nossa frente seja aquele que já foi muitas vezes discutido, mas
encontra oposição dos candidatos mais poderosos e de alguns partidos: o do voto
distrital direto, com o chamado recall. O candidato a deputado ou vereador
seria escolhido pelos eleitores num único distrito, sem lista e sem coeficiente
eleitoral – o que permitiria aos votantes conhecimento mais próximo e
permanente do candidato desse local. E o recall permitiria uma votação específica
para destituir o eleito, se este não correspondesse aos desejos dos que os
elegeram no distrito e tivessem motivos fortes para isso. Entre outras
manifestações nessa direção, está a do leitor José A. M. Ozores, que cita
artigo de 14/11 de quem escreve estas linhas e opiniões do jornalista Fernão
Lara Mesquita, do professor Roberto Macedo e do senador José Serra.
Enfim, seja como for, precisamos com urgência de
novos caminhos.
* Washington Novaes é jornalista (e-mail:
wlrnovaes@uol.br).
Fonte: O Estado de S. Paulo
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