Brics não
está em risco de desaparecer.
O Estádio Nacional da Costa Rica, doado pela China
como presente pelo estabelecimento de relações bilaterais em 2007, construído
em 2009 e 2010 por uma companhia e mão de obra chinesas. Foto: Diego Arguedas
Ortiz/IPS.
Por N Chandra Mohan, da IPS –
Nova Délhi, Índia, 30/11/2015 – O banco Goldman
Sachs fechou seu fundo destinado a investimento nos cinco países que integram o
Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) porque lhe causava
constantes perdas. Isso implica que se fechou a cortina para esse grupo que
chegou a concentrar o interesse dos banqueiros pelos “mercados emergentes”?
Parece que sim, depois que a queda do mercado de valores da China e sua
economia em rápida desaceleração provocaram o temor de que o dragão chinês
desencadeie a próxima recessão mundial.
A economia do Brasil passa por sua pior recessão
nos últimos 25 anos. A Rússia também está em um período de contração, devido à
queda do preço do petróleo e às sanções internacionais por causa do conflito
armado com a Ucrânia. A Índia continua sendo um remanso de estabilidade. O
crescimento da África do Sul é lento, com um desemprego de muito alto nível.
Nesse contexto sombrio, quais as perspectivas de
que o Brics possa desempenhar um papel vital na economia mundial? Há 14 anos o
Brics era em grande parte uma ideia para a qual havia chegado sua hora. O
Goldman Sachs projetava os seus integrantes como os futuros motores de
crescimento da economia mundial. O grupo logo se converteu em uma palavra de moda
com vida própria.
A atenção dada a essas economias emergentes,
sobretudo a partir de 2006, gerou atraentes benefícios que chegaram ao seu
máximo em 2010. Porém, desde então, os ativos do Fundo Brics caíram, de US$ 842
milhões para US$ 98 milhões no final de setembro deste ano, segundo a agência
de notícias Bloomberg.
Sem esperança de que no futuro próximo ocorra um
“crescimento importante dos ativos”, o Goldman Sachs jogou a toalha no dia 23
de outubro, último dia em que o fundo foi negociado na bolsa. Essa situação
reflete claramente a franca deterioração das perspectivas de crescimento das
economias do Brics. Esperava-se que em conjunto as cinco superassem o tamanho
da economia dos Estados Unidos este ano. Mas não é provável que isso aconteça.
A desaceleração da economia chinesa, de fato,
ameaça com a primeira recessão mundial em 50 anos sem influência dos Estados
Unidos, segundo um banco de investimento. Brasil e Rússia estão muito pior, já
que dependem em grande parte das exportações de seus produtos básicos para
impulsionar seu crescimento. Como a China é o maior importador mundial de
petróleo, minério de ferro e outras matérias-primas, essa é uma má notícia para
as perspectivas impulsionadas pelos produtos básicos. Somente os antecedentes
da Índia levam a considerá-la a economia de crescimento mais rápido do mundo.
Essas preocupações só fazem com que o Brics (que
concentra 20% do produto interno bruto, 42% da população, 17,3% do comércio,
41% das reservas de divisas e 45% da produção agrícola do mundo) perca coesão
para exercer sua importância geoeconômica no planeta. Os analistas consideram
que o grupo é uma aliança de economias de tamanho médio que poderiam liderar
uma séria tentativa de contrapeso aos Estados Unidos, a economia mais poderosa
do mundo.
Isso não é nada evidente, exceto, talvez, para a
Rússia, que sofre o peso das sanções lideradas pelos Estados Unidos devido à
sua intervenção na Ucrânia. O argumento se aplica menos à Índia, que está
aprofundando suas relações com Washington.
Mas o Brics não está contente com a arquitetura
financeira mundial liderada pelos Estados Unidos. Uma característica comum, que
se destaca nas sete declarações divulgadas pelas cúpulas do grupo entre 2009 e
2015, é que seus integrantes têm como objetivo promover a paz, a segurança, a
prosperidade e o desenvolvimento de uma ordem mundial multipolar, equitativa e
democrática.
O Brics pretende ter mais voz e participação nas
instituições de governança internacional, como o Fundo Monetário Internacional
(FMI), Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização das
Nações Unidas (ONU). A cúpula realizada na cidade africana de Durban em 2013,
por exemplo, assinalou que a OMC necessita de um líder novo que demonstre seu
compromisso com o multilateralismo e que seja um representante de um país em
desenvolvimento.
A formação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD)
é, de fato, uma expressão concreta da vontade do Brics de estabelecer sua
própria alternativa ao FMI e ao Banco Mundial liderados pelos Estados Unidos. O
presidente do NBD, KV Kamath, indicou que o banco buscaria um caminho diferente
ao das instituições de Bretton Woods, que impõem condições inaceitáveis para
conceder seus empréstimos.
Em acentuado contraste, espera-se que o NBD
priorize os interesses dos que tomam empréstimo e não os dos que emprestam, o
que refletiria melhor as expectativas e aspirações dos países em
desenvolvimento. Mas o Brics não tem desejos de apresentar o NBD como um rival
do Banco Mundial ou do FMI. Em uma reunião do Brics, realizada antes da cúpula
do Grupo dos 20 na Turquia, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi,
afirmou que seu país guiará o NBD para que financie as necessidades das
economias emergentes.
A Índia assumirá a presidência do Brics em
fevereiro de 2016 e o tema de sua presidência será “Construção de soluções
receptivas, inclusivas e coletivas”. Segundo Modi, houve um momento em que se
questionou a lógica e a capacidade de duração do grupo. Mas seus integrantes
deram demasiadas provas de sua relevância e seu valor com suas medidas em uma
época de grandes desafios globais, acrescentou.
A boa notícia é que os países do Brics estão
cooperando e competindo entre si para ocupar seu lugar no mundo. As sete
cúpulas realizadas, de São Petersburgo a Ufa, são testemunha disso. Os cinco
países são os novos motores de crescimento para os países de baixa renda,
especialmente na África, se levarmos em conta a crescente importância de seu
comércio e seu investimento estrangeiro direto nessas economias.
O Brics está passando por tempos difíceis, mas
constitui um mercado de consumo importante. Sua renda cresce na medida em que
cada vez mais pessoas se somam à classe média, o que resulta em maior demanda
por petróleo, automóveis e produtos básicos nos principais países membros, como
China e Índia.
Entretanto, o grupo deverá abordar seriamente os
problemas que implica encaminhar seu ritmo de expansão para impulsionar o
crescimento global como antes. É possível que o Brics não esteja gerando
benefícios financeiros aos bancos de investimento, mas não estão em perigo
iminente de desaparecer.
Afinal, seus países membros levam as coisas
suficientemente a sério para criar um rival potencial ao Banco Mundial e ao
FMI. Embora o Goldman Sachs tenha fechado o Fundo Brics, essas economias
continuarão sendo relevantes no futuro.
Sua capacidade de recuperação somente destaca a
profunda verdade, sobre a qual o famoso economista britânico John Maynard
Keynes falou há muito tempo, de que as ideias dos economistas e dos filósofos
políticos, estejam certas ou erradas, são mais poderosas do que se entende
comumente. De fato, o mundo é regido por elas.
Fonte: ENVOLVERDE
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