COP21: Um
acordo ambicioso requer cooperação.
Foto: Reinaldo Canto
Por Reinaldo Canto e Paulina Chamorro, especial de
Paris para a Envolverde –
Em entrevista exclusiva à Envolverde, o governador
Tião Viana, apresenta os bons resultados do Estado do Acre no combate ao
desmatamento.
Paris, França, 7/12/2015 – Na manhã desta
segunda-feira (07), representantes de estados brasileiros, do governo federal e
de organizações da sociedade civil se reuniram em evento paralelo à Conferência
do Clima, em Paris, para apresentar caminhos alternativos para reduzir o
desmatamento e consequentemente combater o aquecimento global.
Em entrevista exclusiva à Envolverde, o governador
do Estado do Acre, Tião Viana, fala sobre os principais objetivos do evento
“Acre Day: Consolidando uma Economia Verde e Inclusão Social na Amazônia”,
e apresenta números positivos da redução do desmatamento ilegal na
Amazônia. Tião espera que os líderes mundiais, reunidos em Paris, entendam que podem
fazer mais e que isso não envolve sacrifício de ninguém. Envolve apenas uma
exigente mudança de paradigma, de visão de desenvolvimento, de cooperação e de
lucro. Confira!
Envolverde: Quais sãos os principais objetivos
deste encontro aqui em Paris?
Tião Viana: Desde a COP15 nós consolidamos um papel de
presença marcante, que reúne não só Estados do Brasil, mas também o Governo
Federal, organismos de financiamento e comunidades de outros povos, como os
estados da Amazônia Peruana, estados da região amazônica boliviana e de outros
países. E o Acre conseguiu assumir junto com o GCF – representado pelo governo
da Califórnia – que tem em sua liderança um grupo de força tarefa de
governadores contra o desmatamento e a favor do desenvolvimento sustentável, já
articulado a um grupo de 29 estados subnacionais, em quatro continentes que
atuam mostrando que se queremos assegurar vitória no desafio de luta contra o
aquecimento global, temos que consolidar uma cooperação e exemplos articulados.
Não será uma solução de governos federais apenas, será uma solução de governos
estaduais, de governos municipais, de micros, médias e grandes regiões da
região amazônica, das regiões de florestas, e das regiões que estão vinculadas
e que possam se vincular ao desenvolvimento sustentável.
Recentemente nós tivemos um anúncio dos resultados
do desmatamento no País e houve um aumento desse desmatamento. O Acre veio na
contramão. Como foi possível essa redução?
O Acre conseguiu reduzir 10%. Estamos no acumulado
de 62% e já anunciamos aqui que vamos assegurar 100% do fim do desmatamento
ilegal na Amazônia até 2018, enquanto os estados estão apontando uma redução de
80% até 2020. Em 2020 não queremos ter desmatamento nenhum, a não ser
desmatamento residual em nosso território, porque temos uma luta como se fosse
a afirmação de uma cultura, de um valor civilizatório, um valor de comunidade,
de vida pessoal. Precisamos diversificar bases econômicas, assegurar
crescimento econômico, assegurar conservação e as boas práticas de
desenvolvimento, entendendo que uma união entre comunidade, setor empresarial
pequeno, médio, mercado e governo, podem fazer uma diferença quando você tem a
criatividade pra ver que fontes alternativas de desenvolvimento e economia
podem ser compartilhadas.
Apesar disso, o senhor falou aqui na abertura do
encontro que o Estado do Acre também já está vendo as consequências das
mudanças climáticas. Que tipo de mudanças ou alterações o Acre vem sofrendo?
Temos várias mudanças, como a alteração do regime
de chuvas e a mudança de temperatura. Mas o efeito mais observado são as
cheias. Nós tínhamos uma cheia, em média, a cada 7 anos. Em toda a história do
Acre era quase sempre esse comportamento. Na última década tivemos cheias
durante 7 anos, dos 10 últimos anos. Isso demonstra uma mudança de ambiente,
com cheias registrando índices recordes. Por exemplo, a última nós tivemos
acima do nível normal do rio, 18 metros e 66 centímetros, inundando 28% do
território da capital Rio Branco, uma tragédia, um verdadeiro tsunami, em
muitas micro regiões do estado.
Ao mesmo tempo por conta dessas consequências,
justamente os mais pobres, os pequenos produtores, são os mais afetados. Eu
queria que o senhor comentasse da importância desses contratos de inclusão
social que se tornam cada vez mais necessários, nos estados da Amazônia, por
causa dessas alterações climáticas.
Quando nós conseguimos cooperação com organismos
internacionais, com governos como o da Alemanha, com o KFW – banco de
desenvolvimento alemão -, com o Fundo Amazônia, com membros do governo da
Noruega e com representantes do governo da Califórnia, esses recursos vão
exatamente pra essa ponta, porque nós trabalhamos com metas. Eles veem o
resultado da redução das emissões, entendem que é um ponto de comunicação com o
REDD
– sigla para “Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal”
_, com o REDD Plus, que nos une para mensurar qual seria a contribuição que a
região estaria dando à redução das emissões, e eles ajudam a financiar como
metas. Isso é inovador pra que outros estados participem e pra que o governo
federal esteja cada vez mais junto alcançando os melhores resultados. Hoje,
substitui a visão policial, por criatividade, por cooperação, para alcançar o
melhor resultado.
O que o senhor espera dos resultados da COP21? O
que seria de grande interesse para o Estado do Acre?
Desde o Protocolo de Kyoto que nós temos as
melhores expectativas, mas sempre ficamos desapontados com o resultado final. O
que se pode dizer hoje em um mundo de coalizões e não mais de lideranças
isoladas, é que parece que houve um despertar de maior preocupação, de maior
tensão, e de uma resposta de maior curto prazo. Eu espero que os líderes
mundiais entendam que podem fazer mais e que isso não envolve sacrifício de
ninguém, envolve apenas uma exigente mudança de paradigma, de visão de
desenvolvimento, de visão de cooperação e de visão de lucro. Não será apenas a
agenda da preocupação com as migrações que vai nos afetar, e não será apenas a
agenda do terrorismo, mas a agenda do meio ambiente. Ou ela é o carro chefe
global, ou as consequências serão imprevisíveis.
Fonte: ENVOLVERDE
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