sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Aquicultura contra a mudança climática.
Jimmi Jones escolhe uma tilápia para preparar filés para seus clientes. Foto: Zadie Neufville/IPS.

Por Zadie Neufville, da IPS – 

Kingston, Jamaica, 15/12/2015 – Jimmi Jones e sua mulher Sandra Lee têm na capital de Belize uma fazenda de peixes muito original. O tanque de criação fornece água e nutrientes à horta, onde o líquido é filtrado e posteriormente reciclado, voltando a ser usado para os peixes.Jones mostra seu estilo de cultivo orgânico Acuaponia JimSam em reuniões em toda a região, para apoiar o Mecanismo Regional de Pesca do Caribe (CRFM)e promover a aquicultura como uma opção para garantir a segurança alimentar e combater os efeitos da mudança climática.

Na medida em que o aquecimento global eleva a temperatura do mar, a pesca pode diminuir em até 50%, segundo o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC). Estima-se que o aumento da temperatura do mar devastará a pesca regional ao modificar a rota do peixe pelágico e a distribuição de espécies de alto valor, ao mesmo tempo em que causará a morte de outras espécies marinhas populares.

Um estudo divulgado em setembro, pela Universidade de Colúmbia Britânica, diz que a temperatura mais alta dos oceanos pode alterar a distribuição de espécies marinhas e piorar os efeitos da contaminação, da sobrepesca e degradar o habitat, o que teria consequências econômicas negativas em todo o mundo.

Para fomentar a segurança alimentar, o CRFM, o órgão regional encarregado do uso responsável dos recursos, promove a aquicultura como parte das iniciativas para consolidar uma pesca resiliente à variabilidade climática. A secretaria do CRFM elaborou um plano de cinco anos e criou um grupo de trabalho para acompanhar o processo. Sua estratégia compreende as atividades que o Centro Técnico para a Cooperação Rural e Agrícola propôs para reduzir o impacto da mudança climática nos pequenos produtores.

Com modificações, a aquicultura pode ser aplicada a operações em maior ou menor escala, reduz o uso de água em 90%, e permite que os agricultores produzam até dez vezes mais verduras do que as hortas terrestres similares, e elimina a necessidade de pesticidas e outros químicos.Além disso, os sistemas de energias renováveis podem contribuir para reduzir mais os custos de produção.

“Em resumo, alimenta os peixes, que produzem desperdícios, os quais mediante um processo bacteriológico se decompõem, do amoníaco ao nitrato, que basicamente é alimento para as plantas, junto com outros processos”, explicou Jones. “Cultiva-se peixes e verduras com a mesma infraestrutura: a água circula por um sistema de filtros e cultiva as plantas sem usar terra”, acrescentou.

Apesar de parecer um empreendimento bastante fácil, a aquicultura está em queda no Caribe. Em 2012, a produção caiu de cinco mil a seis mil toneladas para 500 toneladas, quando a indústria piscícola desmoronou devido às importações baratas. A aquicultura na Jamaica, que foi um grande produtor na região, caiu de 11 mil toneladas em 2010, para pouco mais de 7.700 toneladas no ano seguinte, e continuou em queda nos últimos anos.

O piscicultor jamaicano Vincent Wright citou as políticas governamentais que dificultaram a competitividade. “A crise econômica mundial, o elevado custo da energia, o roubo e a falta de fornecimento adequado de água pioraram as coisas”, afirmou.

O diretor executivo de CRFM, Milton Haughton, cobrou dos governos da região a implantação de sistemas e normas que ajudem os investidores a “superarem os impedimentos” que os aquicultores enfrentam. “Precisamos fornecer o marco legislativo e normativo necessário, para apoiar as políticas e oferecer incentivos aos nossos piscicultores e aos investidores privados para que possam desenvolver o setor e aumentar a produção, não só para o consumo local, mas para exportação”, destacou.

Wright, que também é cientista, disse que as fazendas piscícolas jamaicanas são construídas em terras propensas às inundações e com limitado acesso à água. Por sua localização e pelas condições particulares das fazendas locais, é provável que a mudança climática aumente as inundações e doenças, ao mesmo tempo em que reduz a disponibilidade de água durante as secas, acrescentou.

A incorporação, em 2014, de Martinica e Guadalupe à família do CRFM, de 18 membros, compensa a falta de pesquisa na indústria por meio do Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar (Ifremer), uma organização com décadas de estudos e desenvolvimento de experiências na piscicultura tropical, nutrição, enfermidades e mortalidade das espécies cultivadas.

Os cientistas prognosticaram grandes perdas para o Caribe, mas também sugerem que há informação suficiente para que os governos desenvolvam políticas para ajudar a indústria a adaptar-se às mudanças previstas.Para Jones, a aquicultura é uma forma de adaptação à mudança climática. Este ano ampliou sua estufa de 111,5 metros quadrados para 557,a fim de duplicar a produção no curto prazo, com a possibilidade de multiplicá-la por cinco no pico da máxima produção agrícola.

A Jamaica, e o Caribe em geral, sofreu o impacto da seca generalizada nos últimos dois anos, o que obrigou Wright e outros a reduzirem sua produção. Mas a estufa e o aquário de Jones não foram afetados. O sistema perdeu aproximadamente 1%, entre 379 e 750 litros de água, dos 53 mil litros que normalmente circulam pelo sistema, acrescentou.

Segundo Jones, “a aquicultura é a alternativa se queremos oferecer proteínas suficientes à nossa população”. E, de fato, seu argumento conta com apoio de estudos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em seu informe Estado da Pesca e da Aquicultura, de 2014. “Segundo a dinâmica dos últimos 30 anos, com capturas bastante estáveis, é provável que o futuro crescimento do setor pesqueiro derive principalmente da aquicultura”, diz o documento.

De acordo com a FAO, entre 1990 e 2000, a produção global pesqueira aumentou 9,5% ao ano, de 32,2 milhões para 66,6 milhões de toneladas, com média anual de 6,2%, entre 2000 e 2012. Mas o crescimento regional se manteve estável.Independente do método empregado, a aquicultura “oferece à região as melhores oportunidades de garantir o fornecimento de alimentos saudáveis para nossa população”, ressaltou Jones.


Fonte: ENVOLVERDE

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