Aquicultura
contra a mudança climática.
Jimmi Jones escolhe uma tilápia para preparar filés para seus clientes. Foto:
Zadie Neufville/IPS.
Por Zadie Neufville, da IPS –
Kingston, Jamaica, 15/12/2015 – Jimmi Jones e sua
mulher Sandra Lee têm na capital de Belize uma fazenda de peixes muito original.
O tanque de criação fornece água e nutrientes à horta, onde o líquido é
filtrado e posteriormente reciclado, voltando a ser usado para os peixes.Jones
mostra seu estilo de cultivo orgânico Acuaponia JimSam em reuniões em toda a
região, para apoiar o Mecanismo Regional de Pesca do Caribe (CRFM)e promover a
aquicultura como uma opção para garantir a segurança alimentar e combater os
efeitos da mudança climática.
Na medida em que o aquecimento global eleva a
temperatura do mar, a pesca pode diminuir em até 50%, segundo o Grupo
Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC). Estima-se
que o aumento da temperatura do mar devastará a pesca regional ao modificar a
rota do peixe pelágico e a distribuição de espécies de alto valor, ao mesmo
tempo em que causará a morte de outras espécies marinhas populares.
Um estudo divulgado em setembro, pela Universidade
de Colúmbia Britânica, diz que a temperatura mais alta dos oceanos pode alterar
a distribuição de espécies marinhas e piorar os efeitos da contaminação, da
sobrepesca e degradar o habitat, o que teria consequências econômicas negativas
em todo o mundo.
Para fomentar a segurança alimentar, o CRFM, o
órgão regional encarregado do uso responsável dos recursos, promove a
aquicultura como parte das iniciativas para consolidar uma pesca resiliente à
variabilidade climática. A secretaria do CRFM elaborou um plano de cinco anos e
criou um grupo de trabalho para acompanhar o processo. Sua estratégia
compreende as atividades que o Centro Técnico para a Cooperação Rural e
Agrícola propôs para reduzir o impacto da mudança climática nos pequenos
produtores.
Com modificações, a aquicultura pode ser aplicada a
operações em maior ou menor escala, reduz o uso de água em 90%, e permite que
os agricultores produzam até dez vezes mais verduras do que as hortas
terrestres similares, e elimina a necessidade de pesticidas e outros
químicos.Além disso, os sistemas de energias renováveis podem contribuir para
reduzir mais os custos de produção.
“Em resumo, alimenta os peixes, que produzem
desperdícios, os quais mediante um processo bacteriológico se decompõem, do
amoníaco ao nitrato, que basicamente é alimento para as plantas, junto com
outros processos”, explicou Jones. “Cultiva-se peixes e verduras com a mesma
infraestrutura: a água circula por um sistema de filtros e cultiva as plantas
sem usar terra”, acrescentou.
Apesar de parecer um empreendimento bastante fácil,
a aquicultura está em queda no Caribe. Em 2012, a produção caiu de cinco mil a
seis mil toneladas para 500 toneladas, quando a indústria piscícola desmoronou
devido às importações baratas. A aquicultura na Jamaica, que foi um grande
produtor na região, caiu de 11 mil toneladas em 2010, para pouco mais de 7.700
toneladas no ano seguinte, e continuou em queda nos últimos anos.
O piscicultor jamaicano Vincent Wright citou as
políticas governamentais que dificultaram a competitividade. “A crise econômica
mundial, o elevado custo da energia, o roubo e a falta de fornecimento adequado
de água pioraram as coisas”, afirmou.
O diretor executivo de CRFM, Milton Haughton,
cobrou dos governos da região a implantação de sistemas e normas que ajudem os
investidores a “superarem os impedimentos” que os aquicultores enfrentam.
“Precisamos fornecer o marco legislativo e normativo necessário, para apoiar as
políticas e oferecer incentivos aos nossos piscicultores e aos investidores
privados para que possam desenvolver o setor e aumentar a produção, não só para
o consumo local, mas para exportação”, destacou.
Wright, que também é cientista, disse que as
fazendas piscícolas jamaicanas são construídas em terras propensas às
inundações e com limitado acesso à água. Por sua localização e pelas condições
particulares das fazendas locais, é provável que a mudança climática aumente as
inundações e doenças, ao mesmo tempo em que reduz a disponibilidade de água
durante as secas, acrescentou.
A incorporação, em 2014, de Martinica e Guadalupe à
família do CRFM, de 18 membros, compensa a falta de pesquisa na indústria por
meio do Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar (Ifremer), uma
organização com décadas de estudos e desenvolvimento de experiências na
piscicultura tropical, nutrição, enfermidades e mortalidade das espécies
cultivadas.
Os cientistas prognosticaram grandes perdas para o
Caribe, mas também sugerem que há informação suficiente para que os governos
desenvolvam políticas para ajudar a indústria a adaptar-se às mudanças
previstas.Para Jones, a aquicultura é uma forma de adaptação à mudança
climática. Este ano ampliou sua estufa de 111,5 metros quadrados para 557,a fim
de duplicar a produção no curto prazo, com a possibilidade de multiplicá-la por
cinco no pico da máxima produção agrícola.
A Jamaica, e o Caribe em geral, sofreu o impacto da
seca generalizada nos últimos dois anos, o que obrigou Wright e outros a
reduzirem sua produção. Mas a estufa e o aquário de Jones não foram afetados. O
sistema perdeu aproximadamente 1%, entre 379 e 750 litros de água, dos 53 mil
litros que normalmente circulam pelo sistema, acrescentou.
Segundo Jones, “a aquicultura é a alternativa se
queremos oferecer proteínas suficientes à nossa população”. E, de fato, seu
argumento conta com apoio de estudos da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO) em seu informe Estado da Pesca e da
Aquicultura, de 2014. “Segundo a dinâmica dos últimos 30 anos, com capturas
bastante estáveis, é provável que o futuro crescimento do setor pesqueiro
derive principalmente da aquicultura”, diz o documento.
De acordo com a FAO, entre 1990 e 2000, a produção
global pesqueira aumentou 9,5% ao ano, de 32,2 milhões para 66,6 milhões de
toneladas, com média anual de 6,2%, entre 2000 e 2012. Mas o crescimento
regional se manteve estável.Independente do método empregado, a aquicultura
“oferece à região as melhores oportunidades de garantir o fornecimento de
alimentos saudáveis para nossa população”, ressaltou Jones.
Fonte: ENVOLVERDE
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