Pescadores
do Caribe estão na COP 21.
A mudança climática já afetou profundamente a pesca
e a população que vive dela no Caribe, afirmou Horace Walters. Foto: Desmond
Brown/IPS.
Por Desmond Brown, da IPS –
Paris, França, 8/12/2015 –Horace Walters viajou
6.903 quilômetros desde sua natal Santa Lucía até Paris para entregar uma
mensagem simples mas urgente à comunidade internacional, reunida na 21ª
Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a
Mudança Climática (CMNUCC).
Walters, que preside a Sociedade Cooperativa de
Pescadores de Sanga Lucía, afirmou que as consequências da mudança climática –
principalmente o aumento do nível do mar e a acidificação dos oceanos –
afetaram profundamente as comunidades costeiras, os pescadores e as fazendas de
piscicultura de seu país.
“Necessitamos que as organizações internacionais e
os países ricos coloquem seu dinheiro onde causaram muitos danos. O dano não
foi feito por nós. Não somos capazes de provocar esse tipo de impacto sobre o
ambiente como fez o mundo desenvolvido, por isso queremos que sejam conscientes
e entendam que precisamos de apoio”, explicou Walters à IPS.
“Precisamos de dinheiro para construir novas
defesas contra o mar, vai nos custar dinheiro comprar barcos novos e maiores.
Necessitamos de ajuda” acrescentou Walters, que trabalha no setor da pesca há
mais de 40 anos.
Para Owen Day, diretor da Aliança Caribenha pelos
Santuários Pesqueiros (C-Fish), as comunidades costeiras que dependem
unicamente da pesca devem receber mais oportunidades. “Os arrecifes de coral
são essenciais para o Caribe e os estamos perdendo. Essa é uma prioridade”,
afirmou em um evento paralelo à COP 21, que acontece até o dia 11, em Paris.
“A mudança climática é uma ameaça enorme, mas não
devemos renunciar. Evidentemente, a redução das emissões de gases-estufa deve
ser urgente, e o aquecimento médio do planeta de 1,5 grau e o máximo pelo qual
temos que lutar, mas também precisamos de medidas locais no terreno para
aumentar a resistência desses ecossistemas”, acrescentou Day.
Na região da Comunidade do Caribe (Caricom), a
população é muito dependente da pesca para seu desenvolvimento econômico e
social. Esse recurso também contribui em grande parte para a segurança
alimentar, a redução da pobreza, o emprego, a entrada de divisas, o
desenvolvimento e a estabilidade das comunidades rurais e costeiras, e sua
cultura, recreação e turismo.
O subsetor proporciona trabalho direto a mais de
120 mil pescadores e oportunidades diretas de emprego a milhares de pessoas,
especialmente as mulheres, no processamento, comercialização, construção de
barcos, elaboração de redes e outros serviços de apoio.
“Queremos garantir que haja um reconhecimento do
impacto negativo da mudança climática em nossa indústria pesqueira, que nosso
povo continue usando de maneira sustentável os recursos. Nossa gente quer comer
boa proteína e o pescado é uma fonte da melhor proteína”, apontou Walters.
Asha Singh, diretora da Unidade de Governança
Oceânica na Organização de Estados do Caribe Oriental, concorda com essa
opinião. “Obtemos cerca de 55% de nossas necessidades em proteína do meio
marinho. A pesca é um setor importante para nós. Mas não conseguimos
transformá-lo em uma atividade econômica viável, e continua sendo uma
porcentagem muito pequena de nosso produto interno bruto”, pontuou.
O aumento do nível do mar e as condições
meteorológicas extremas provocaram a destruição de infraestrutura cara, como
locais para atracar, vestuários e rampas.“Uma grande quantidade de pescadores
vive nas zonas costeiras e se estas inundam… Temos que ter uma nova política de
terras para assentar essa gente. Será uma proposição muito difícil para nosso
povo, porque no Caribe somos consumidores de pescado”, recordou Walters.
Os especialistas alertam que a acidez dos oceanos
poderia aumentar até 170% no final do século, com as consequentes perdas
econômicas. Essa situação modificaria os ecossistemas e a biodiversidade dos mares,
o que geria consequências de longo alcance para os seres humanos.Os cientistas
acrescentam que as perdas econômicas pela redução da aquicultura de mariscos e
a degradação dos arrecifes de coral tropicais seriam importantes, devido à
sensibilização dos moluscos e outras formas de vida à acidificação oceânica.
“Em nossas ilhas usamos armadilhas para pescar e
entendemos que, com o aumento do nível do mar, o coral acabar em águas
profundas. Assim, não teremos peixes nos arrecifes de coral, os pescadores que
usam armadilhas terão sérios problemas”destacou Walters.
Para entender “como é a pesca no Caribe, temos quem
pesca nas zonas próximas da costa e os que pescam em alto mar. Alguns lançam
suas redes na praia, e vamos ter todo tipo de problemas se nossos arrecifes de
coral ficarem muito profundos, se não pudermos pegar lagosta, e espécies de
alto preço devido à acidificação dos oceanos. Teremos que encontrar novas áreas
para pescar”, enfatizou Walters.
O pescador acrescentou que “dessa forma a mudança
climática vai gerar problemas para a comunidade pesqueira e queremos dizer ao
mundo desenvolvido que não devem ter em conta apenas o impacto para seu
desenvolvimento, queremos que entendam que no Caribe precisamos de apoio”.
Ash propôs medidas de adaptação ao problema. “A
redução da pressão pesqueira nos arrecifes de coral é um desafio político às
vezes, mas é uma prioridade. Deve-se dar mais recursos à gestão da pesca.
Trata-se de uma prioridade de adaptação”, ressaltou.
Fonte: ENVOLVERDE
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