“O futuro
do planeta está nas cidades”.
Sadik-Khan celebrou as mudanças culturais que
ocorrem quando as ruas mudam.
Conhecida por transformar a mobilidade de diversas
cidades do mundo, a urbanista americana Janette Sadik-Khan foi a última
conferencista do Fronteiras do Pensamento Porto Alegre 2015. Na noite de
segunda-feira, 23 de novembro, Sadik-Khan empolgou o público ao enfatizar,
inúmeras vezes, o quão simples pode ser uma mudança no espaço urbano – simples,
rápido e barato, três características sempre presentes em seus planejamentos.
Segundo a urbanista, o diálogo direto com moradores
e comerciantes das regiões a serem transformadas é crucial. Outras prioridades
são as vagas de estacionamento, a carga e a descarga para o comércio e
transporte público de alta qualidade.
Sadik-Khan celebrou as mudanças culturais que
ocorrem quando as ruas mudam. As pessoas se aproximam, o espírito de comunidade
aumenta, mas, para ela, ainda mais importante do que expandir a possibilidade
da vida nas ruas é reduzir o número de mortes por acidentes: “todos os projetos
transformaram a cidade, mas o impacto mais importante foi diminuir os acidentes
e mortes. No final do mandato de Michael Bloomberg, tivemos o número mais baixo
de acidentes desde 1930. As estratégias mudam a hierarquia das ruas. Colocamos
as pessoas em primeiro lugar”, afirmou a convidada.
Após a conferência, Janette Sadik-Khan respondeu as
perguntas do público. Dentre elas, a Pergunta Braskem, enviada pelos seguidores
do Fronteiras nos canais digitais, patrocinados pela Braskem. Desta vez, a
pergunta selecionada veio de Marco Aurélio Soares. Confira abaixo:
Marco Aurélio Soares: “Acho que a Terra tem limites
que faltam ser considerados no crescimento. É preciso reduzir o
desenvolvimento, ou regredir, ou há formas de crescimento urbano que permitam,
ao mesmo tempo, respeitar os limites da Terra?”
Janette Sadik-Khan: Sim, é preciso respeitar os
limites naturais. Este é um ponto muito importante, porque o futuro do planeta
é nas cidades. Metade da população mundial já está nas cidades e, até 2040,
será 70%. Para que as cidades funcionem melhor, levar isso em conta é
importantíssimo. Acho que o primeiro passo é fazer o possível para melhorarmos
nossos padrões de uso de solo. Repensar os sistemas de transporte para o futuro
é outro ponto crucial, porque, no passado, nossa ideia de desenvolvimento
urbano ampliou demasiadamente o tamanho das cidades e isso dificultou a locomoção
das pessoas, gerando diversos problemas. Enfim, é uma pergunta importante com
uma reflexão básica que chega bem ao foco da grande questão: o futuro das
cidades está diretamente ligado ao futuro do planeta.
Confira abaixo outras ideias de Janette Sadik-Khan
ao responder as perguntas do público:
Acessibilidade
“Todos nós, mesmo que temporariamente, teremos
necessidades especiais. Temos que olhar os projetos de nossas ruas desta forma.
Ao rebaixar uma calçada, você não está ajudando apenas cadeirantes, você está
ajudando mães com carrinhos de bebê, são coisas que melhoram a cidade como um
todo.”
Poluição
“Nós monitoramos alguns pontos da cidade, como
Times Square, onde houve uma redução de 40% de CO2. Um dos grandes problemas de
NY é a poluição e o sistema de calefação dos prédios. A cidade de NY é a que
tem a maior pegada de poluição dos Estados Unidos. Nossa estratégia é também
focar na eficiência dos prédios que poluem muito com aquecimento no inverno.”
Uber e empresas similares
“Os sistemas de transporte, incluindo as empresas
de táxi, não estão no nível desejado da população. Então, não é uma surpresa a
popularidade do Uber com toda sua facilidade. O que temos que fazer é desenhar
uma cidade que funcione como rede e que empresas como a Uber possam servir como
coisas positivas à nossa rede e não simplesmente mais e mais carros, repetindo
erros do passado. Em NY, temos 13 mil táxis amarelos e 30 mil Ubers. Não há
volta para isso. Não há dúvida de que o futuro do transporte público incluirá a
Uber e a Lyft.”
Liderança e participação popular
“É muito importante saber para onde você quer ir,
ter uma visão para a cidade. Quando as pessoas sabem para onde você está indo,
elas dão mais apoio às estratégias ao seu objetivo final: melhorar o desempenho
da cidade. Quando fazíamos nossos planejamentos, íamos aos grupos comunitários
e perguntávamos, “qual o problema que vocês estão tentando resolver?”.
Trabalhamos muito mudando as relações entre população e Prefeitura, porque,
quando você envolve a população e seu projeto reflete o que as pessoas desejam
seu projeto fica muito melhor.”
Do sonho do carro próprio ao sonho da mobilidade
urbana
“É uma mudança cultural muito grande. Mas, em
primeiro lugar, para as pessoas não quererem um carro, você tem que dar opções
de altíssima qualidade, ônibus com muita qualidade e bicicletas com faixas
seguras, senão não funcionará. É assim que elas deixarão o carro em casa. Nos
EUA, cada vez mais, os jovens nem compram carros, porque estão fazendo uso da
economia compartilhada. Lá, carros ficam ociosos 98% das vezes, são usados
apenas no fim de semana. O futuro da cidade é mudar o propósito das cidades. É
por isso que você vê as cidades do futuro se afastando de projetos para carros
e investindo em bons ônibus e estratégias para pedestres.”
Fonte: EcoD
Nenhum comentário:
Postar um comentário