Transição
para renováveis é insuficiente.
Para manter as esperanças nos 2°C , a AIE recomenda
investimentos de US$ 400 bilhões em tecnologias renováveis em 2030. Foto:
Shutterstock.
Relatório da Agência Internacional de Energia
mostra que, mesmo crescente, a previsão de investimentos em fontes limpas não é
o bastante para limitar aquecimento global em menos de 2°C.
Por Cíntya Feitosa, do OC –
O principal relatório anual sobre energia no
planeta traz uma boa e uma má notícia. A boa é que a transição para energias
renováveis já é uma realidade. As fontes limpas de energia responderam por
quase metade dos novos investimentos em geração em 2014. O problema é que o
crescimento dessas fontes ainda não nos coloca no caminho para limitar o
aquecimento global em 2°C – o limite considerado seguro pelos cientistas para
evitar mudanças climáticas perigosas. De acordo com o Panorama Energético Global, da AIE (Agência
Internacional de Energia) divulgado nesta terça-feira (10), até 2040 as
renováveis devem representar apenas 15% do total do investimento em energias em
todo o mundo – US$ 7,4 trilhões.
As INDCs – compromissos dos países para a COP21, a
conferência do clima de Paris – devem impulsionar medidas de eficiência
energética e baixa emissão de carbono. As energias renováveis devem liderar os
investimentos em nova capacidade instalada até 2040. O abastecimento provido
por elas deve ultrapassar o carvão em 2030 e, em 2040, deve chegar a 50% na
União Europeia, cerca de 30% na China e no Japão, e ultrapassar os 25% nos
Estados Unidos e na Índia.
Mas a tendência de descarbonização no fornecimento
de energia elétrica não é acompanhada com a mesma velocidade na ponta: ainda é
difícil e caro substituir o carvão e o gás na indústria e o petróleo como
combustível para os transportes. O resultado é que as atuais políticas de
energia levam a um aumento mais lento das emissões de CO2 relacionadas ao
setor, mas não à redução absoluta de emissões necessária para cumprir o
objetivo de 2°C.
A preferência por opções de energia de baixo
carbono é influenciada por fatores econômicos, como o custo elevado de extração
de petróleo e gás enquanto os custos de energias renováveis e de tecnologias
mais eficientes tendem a cair. A Índia, por exemplo, aproveitou a queda nos
preços do petróleo para retirar os subsídios aos combustíveis fósseis – algo
que países desenvolvidos ainda resistem a fazer.
A análise destaca, no entanto, que o preço mais
baixo do petróleo, por si só, não tem grande impacto sobre a implantação de
tecnologias de energias renováveis, a menos que os tomadores de decisão
permaneçam firmes em estabelecer as regras de mercado, políticas e subsídios,
reduzindo a ajuda aos combustíveis fósseis – que foram subsidiados em cerca de
US$ 490 bilhões em 2014.
Para manter as esperanças nos 2°C , a AIE recomenda
investimentos de US$ 400 bilhões em tecnologias renováveis em 2030 – mais que o
dobro em relação aos menos de US$ 150 bilhões em 2014 – e a eliminação dos
subsídios aos combustíveis fósseis para os usuários finais em 2030. Além disso,
é essencial a redução progressiva do uso de usinas movidas a carvão pouco
eficientes, e a proibição de novas construções.
O diretor executivo da AIE, Fatih Birol, alerta
para a necessidade de manter a preocupação com segurança energética. “Agora não
é o momento para relaxar. Muito pelo contrário: um período de baixos preços do
petróleo é o momento para reforçar a nossa capacidade de lidar com futuras
ameaças.”
Mais demanda
Atualmente, 1,2 bilhão de pessoas, 17% da população
mundial, não têm acesso a eletricidade. De acordo com a Agência Internacional
de Energia, a demanda deve crescer cerca de um terço até 2040, quando 800
milhões de pessoas no mundo ainda devem estar sem energia.
O aumento será impulsionado principalmente por
Índia, China, África, Oriente Médio e Sudeste Asiático. Os países em
desenvolvimento, principalmente a Índia, representam todo o aumento no uso de
energia global, devido às tendências econômicas e demográficas. Por outro lado,
nos países da OCDE a tendência é de declínio da demanda, aliada à maior
eficiência energética. Na União Europeia a queda deve ser de 15 % até 2040. No
Japão e Estados Unidos, de 12% e 3%, respectivamente.
“Os preparativos para a COP21 têm sido uma rica
fonte de orientação sobre as intenções futuras de política energética e os
componentes relacionados com os compromissos de energia se refletem em nosso
cenário central”, diz o estudo. Se as INDCs forem alcançadas, as energias
renováveis devem ser 25% do mix global de energia em 2040 – hoje são 19%. Entre
os fósseis, o gás natural é o único que deve crescer.
Fonte: Observatório do Clima
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