A
biodiversidade do dia-a-dia.
Foto: Shutterstock
Por Sara Juarez e Tiago Egydio*
Você já observou do que é feita sua casa? Quantas
espécies fazem parte de seu cardápio? Sabe do que é feita sua roupa? Qual é o
caminho da água até você abrir uma torneira e desfrutar deste valioso recurso?
O que mantém o ar fresco todos os dias? Já parou para observar o estado de
tranquilidade que sua mente fica ao contemplar uma bela paisagem natural ou
escutar o relaxante som das ondas ou de uma cachoeira?
Você poderá chegar a diferentes conclusões, mas
entre estas, você notará que o que sustenta seu telhado são madeiras de
excelente qualidade que cresceram algum dia em alguma floresta; que em sua
dieta há mais de 60 espécies de frutas, legumes e animais; com certeza a água
que sai em sua torneira viajou muito mais do que você viajará em toda a sua
vida neste planeta – uma única gota d’água já foi nuvem, água salgada, fez
parte de um rio caudaloso, esteve em uma planta, esteve nas camadas mais
profundas do solo até sair como uma água cristalina e pura de uma pequena
nascente; todo calor emanado pela sua respiração, pela queima do combustível de
seu carro e pelas ilhas de calor dos grandes centros urbanos são
contrabalanceados pelas brisas frescas do oceano e dos remanescentes de
vegetação nativa. Todos estes benefícios nos sãos proporcionados diariamente
pela natureza e os chamamos de serviços ecossistêmicos.
Segundo o estudo realizado, em 1997, pelo
pesquisador norte-americano Robert Constanza, se naquele momento houvesse uma
valoração dos serviços ecossistêmicos que direta ou indiretamente consumimos,
esta chegaria a um total de $18 trilhões por ano, já os danos gerados pela ação
humana alcançariam os 6,6 trilhões anualmente.
Ampliando um pouco mais o campo de reflexão, segundo
o pesquisador John Dixon, o consumo anual dos recursos naturais pela humanidade
ultrapassa a capacidade da terra de auto recuperação e estamos utilizando cerca
de 40% a mais dos recursos disponíveis por ano. É como se recebêssemos um
salário anual e gastássemos tudo até agosto, e nos meses seguintes, a fonte de
nosso dinheiro fosse o cheque especial.
A boa notícia é que existem iniciativas que visam
traçar outro panorama para este cenário e, que embora ainda sejam discretas,
vem ganhando força em debates nacionais e internacionais, tanto no campo
teórico como prático. Entre estas iniciativas encontra-se o que é chamado de
PSE ou PSA – Pagamento por Serviços Ecossistêmicos ou Ambientais, que são
práticas estruturadas a partir de políticas públicas que valorizam e remuneram
proprietários de terra que conservam nascentes de rios e matas ciliares – que
protegem rios, entre outras áreas ambientais, fazendo o que se chama de
serviços ecossistêmicos.
O grande desafio é como valorar estes serviços
ecossistêmicos, como mensurar o ganho gerado pelas iniciativas de PSA e como
engajar os diferentes atores que podem promover a mudança comportamental
desejada para o sucesso da conservação da biodiversidade. No âmbito da
indústria, uma ferramenta que pode auxiliar a visualizar onde ocorre maior
demanda de recursos naturais são os estudos de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)
de produtos e serviços, que visam quantificar o impacto do uso destes recursos,
desde a extração e produção de matérias primas até o descarte do material
produzido.
A valoração vem sendo aplicada por diferentes
ferramentas que avaliam os estoques de diferentes serviços ecossistêmicos
prestados em um determinado território, como também, quantificam os fluxos
destes serviços desde sua fonte até os usuários finais. O resultado destes
estudos orienta ações para a redução do consumo de matéria prima, do uso da
água e de emissão de gases estufa; para a disseminação de práticas mais
sustentáveis em toda a cadeia produtiva e para conscientizar a sociedade consumidora.
Especificamente no ambiente agrícola, os estudos
revelam a importância das práticas de recuperação de matas ciliares, da
contenção da perda de solo, melhora da produção de água, a fixação de carbono e
o aumento da biodiversidade.
Consideramos que a biodiversidade e todos os
serviços da terra possuem um valor imaterial, contudo, buscar atribuir um valor
econômico aos recursos naturais é uma forma de tangibilizar e inserir este tema
dentro de todos os setores da sociedade.
Certificar-se de que o valor do capital natural
esteja visível para todas as economias pode ajudar a sociedade a abrir o
caminho para soluções direcionadas a promover um planeta saudável para as
futuras gerações.
* Sara Juarez Sales é gerente de
Educação para Sustentabilidade da Fundação Espaço ECO®. Tiago
Egydio Barreto é consultor de Conservação Ambiental da Fundação Espaço
ECO®.
Fonte: ENVOLVERDE
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