Previsão
do tempo para 2040.
Tornado em Brasília em novembro de 2014. Foto:
Divulgação/Corpo de Bombeiros do DF.
Mesmo com corte de emissões, eventos extremos e
altas temperaturas ficarão mais frequentes no Brasil;
o climatologista José Marengo dá uma amostra do que pode estar nos telejornais no futuro.
Por José Marengo, especial para o OC –
Vida de meteorologista tem lances inusitados. Uma
vez, quando trabalhava no CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos
Climáticos do Inpe) me ligou uma noiva querendo saber se choveria no dia 23 de
setembro, pois tinha sua festa de casamento planejada para aquela data.
Detalhe: ela ligou no dia 18 de março. Obviamente não da para saber se vai
chover daqui a seis meses – a previsão do tempo é feita com até sete dias de
antecedência. Mesmo que a tecnologia tenha melhorado, como melhorou, e que a
confiança das pessoas na previsão do tempo seja maior hoje do que no passado,
as incertezas aumentam quanto mais se tentar enxergar adiante, devido à
natureza essencialmente caótica dos fenômenos meteorológicos. Mesmo que seja
possível prever o tempo para as próximas seis horas e para a próxima estação do
ano, o acerto será maior numa previsão para hoje pela noite que para fevereiro
2016.
Agora, já pensou como seria a previsão de tempo num
futuro mais quente, como aqueles projetados pelo IPCC, o painel do clima da
ONU? Resultados de pesquisas em todo o mundo sugerem que, mesmo com o sucesso
do Acordo de Paris e quaisquer que sejam os esforços feitos para limitar as
emissões de gases de efeito estufa, ondas de calor mais fortes e frequentes e
episódios de chuva intensas e períodos secos e secas seriam inevitáveis nos
próximos 30 anos. Até 2040, a frequência de episódios de calor extremos, chuvas
intensas e secas vai aumentar, independente das emissões de dióxido de carbono
na atmosfera. Trata-se de uma conta a pagar pelos gases de efeito estufa que já
emitimos no passado, em grande parte enquanto protelávamos a decisão de fazer
algo a respeito.
Imagine em um dia qualquer, digamos, de fins de
fevereiro de 2040, a moça de tempo falando o seguinte: “Temperaturas podem
chegar ate 39oC na média em São Paulo e há previsão de uma onda de calor a
partir de amanhã, com máximas previstas de 42oC durante os próximos quatro dias
dias. Recomenda-se às pessoas não se exporem entre 10h e 15h horas ao sol e se
hidratarem continuamente. Já no Nordeste, as máximas amanhã podem chegar ate
42oC em Fortaleza e Recife, mas tem previsão e pancadas de chuva intensa pela
tarde, e de noite as mínimas pode chegar ate 32oC. A seca nessa região continua
no seu quinto ano. No Norte do Brasil, a seca que começou em 2038 continua se
estendendo pela Amazônia, e a secura do ar favoreceu um maior número de
queimadas, que bateram um novo recorde ao crescerem 200% em relação a 2039. As
temperaturas médias chegam a até 45oC. Com a baixa do nível dos rios, o
transporte fluvial foi cancelado na região até segunda ordem. No Sul do Brasil,
as chuvas intensas continuam pelo quinto dia consecutivo, e o risco de
deslizamentos de terra no Vale de Itajaí aumentou, e as máximas em Porto Alegre
podem chegar a 35o C”.
É claro que em 2040 as previsões mostradas na média
podem ser mais sofisticadas, com mapas e imagens 3D, e a ótima Maria Júlia
Coutinho poderá ter dado lugar a uma apresentadora ou um apresentador do tempo
virtual. O que não muda, porém, é que o futuro terá um clima mais quente e com
mais eventos extremos, e que se um imenso esforço de políticas de redução de
gases de efeito estufa não for feito para amenizar o aquecimento global, a
previsão de tempo no futuro deixará de ser uma parte amena dos jornais para
virar uma dor de cabeça para a população e os governantes.
* José Antonio Marengo Orsini é doutor em
meteorologia pela Universidade de Wisconsin-Madison (EUA) e chefe de pesquisas
do Cemaden (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
Participou dos relatórios de avaliaçãoo 4 e 5 do IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e é membro do Painel Brasileiro
sobre Mudanças Climáticas.
Fonte: Observatório do Clima
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