A difícil
situação agrícola na Índia.
Neste ano, as consequências da mudança climática na
Índia causaram perdas agrícolas que superam os US$ 4 bilhões. Foto: Manipadma
Jena/IPS.
Por Manipadma Jena, da IPS –
Nova Délhi, Índia, 4/12/2015 – “Se nos fixarmos nas
INDC
de mais de 150 países, veremos que a maioria propõe metas centradas na
mitigação, mas a mudança climática também tem a ver com a adaptação”, afirmou
Ashok Lavasa, alto funcionário do Ministério de Ambiente, Florestas e Mudança
Climática da Índia. “A Índia é um dos poucos que apresentou INDC (Contribuições
Previstas e Determinadas em Nível Nacional) integrais”, destacou Lavasa, que
integra a delegação indiana na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção
Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que acontece em
Paris até o dia 11.
Um novo informe do Centro para a Ciência e o
Ambiente (CSE), com sede em Nova Délhi, concluiu que em 2013 a mudança
climática afetou cinco dos 36 Estados indianos e 350 mil hectares cultivados, e
que em 2014 prejudicou seis Estados e 5,5 milhões de hectares cultivados, a
apenas um mês da colheita.
E em 2015 o dano gerado pelo clima afetou 15
Estados e 18,23 milhões de hectares, ou um terço da superfície cultivada. As
perdas agrícolas superaram os US$ 4 bilhões. Cerca de 62% dos mais de 1,27
bilhão de habitantes da Índia dependem da agricultura, e seis em cada dez
agricultores dependem da chuva para irrigação e são vulneráveis às mudanças nos
padrões climáticos.
“Os negociadores nas conversações sobre o clima em
Paris devem levar em conta o impacto da mudança climática na agricultura, e as
devastadoras consequências para os agricultores, bem como as perspectivas para
a segurança alimentar mundial”, recomendou Chandra Bhushan, do CSE.
Mankombu Sambasivan Swaminathan, o geneticista
reconhecido como o pai da revolução verde nesse país, na década de 1960,
considera que o impacto dos fenômenos climáticos na agricultura indiana se
revela na recente importação de dez milhões de toneladas de legumes. “Há 50
anos, quando a Índia começou a revolução verde, importava dez milhões de
toneladas de trigo. Parece que voltamos à mesma situação devido à mudança
climática”, afirmou.
O informe O Custo Humano dos Desastres
Relacionados com o Clima 1995-2015, do Escritório das Nações Unidas para a
Redução do Risco de Desastres (UNISDR), diz que nos últimos 20 anos houve 6.457
inundações, tempestades, ondas de calor, secas e outros eventos climáticos que
afetaram 4,1 bilhões de pessoas em todo o mundo. Desse total, 805 milhões
viviam na Índia.
A Ásia ficou com a pior parte, principalmente
devido à sua grande e diversa massa terrestre, que inclui muitas bacias
fluviais, planícies inundáveis e outras áreas propensas a desastres naturais,
além da elevada densidade demográfica nessas áreas. Em geral, os desastres
naturais provocam perdas econômicas em todo o mundo, as quais o UNISDR calcula
entre US$ 250 bilhões e US$ 300 bilhões por ano.
Lavasa destacou a necessidade de recursos por parte
dos países em desenvolvimento para poderem se adaptar à mudança climática. “A
Índia é uma economia em desenvolvimento que tem muitas demandas sobre seus
recursos. Para tirar as pessoas da linha de pobreza deve oferecer enormes
quantidades de emprego rural, educação para todos, proporcionar assistência
sanitária básica e moradias seguras. Some-se a isso o acesso à energia, do qual
um terço da população indiana, principalmente rural, carece. Tudo isso exige
grandes recursos”, apontou.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), na Índia vivem 194 milhões de pessoas
desnutridas, um quarto do total no mundo. O país deve lidar com o problema da
segurança alimentar, mesmo tendo 25% de sua superfície sofrendo desertificação
e 32% enfrentando a degradação devido às secas e à erosão do solo.
Aproximadamente cem milhões de hectares estão oficialmente classificados como
terras degradadas no país.
A experiência com as consequências adversas da
mudança climática transcendem o setor agrícola. “A Índia tem mais de sete mil
quilômetros de costa, para abrigar até 15% da população total”, explicou
Lavasa. “Essas são regiões onde vivem as pessoas mais pobres e elas enfrentam a
fúria dos ciclones e tsunamis. O país também tem mais de 1.200 ilhas,
vulneráveis como os pequenos Estados insulares”, acrescentou. Doze de seus 36
Estados recorrem à cordilheira do Himalaia, afetada pelo derretimento das
geleiras, o que também afeta as principais fontes de água.
“O argumento da Índia para o acordo climático da
COP 21 é que, devido à sua diversa e aguda vulnerabilidade, está disposta a
agir, mas sempre disse que esses problemas foram criados historicamente pela
ação de outros países, e agora há uma consciência de que se trata de um
problema global. Portanto, é necessário não apenas haver uma decisão mundial
para resolver o problema, mas também recursos mundiais para isso”, ressaltou
Lavasa.
Segundo o funcionário indiano, as negociações
climáticas “não podem deixar os países sozinhos e não se pode dizer: vocês,
países em desenvolvimento, façam as coisas segundo suas capacidades e nós
(países industrializados) as faremos segundo nossas capacidades”.
Fonte: ENVOLVERDE
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