terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A difícil situação agrícola na Índia.
Neste ano, as consequências da mudança climática na Índia causaram perdas agrícolas que superam os US$ 4 bilhões. Foto: Manipadma Jena/IPS.

Por Manipadma Jena, da IPS – 

Nova Délhi, Índia, 4/12/2015 – “Se nos fixarmos nas INDC de mais de 150 países, veremos que a maioria propõe metas centradas na mitigação, mas a mudança climática também tem a ver com a adaptação”, afirmou Ashok Lavasa, alto funcionário do Ministério de Ambiente, Florestas e Mudança Climática da Índia. “A Índia é um dos poucos que apresentou INDC (Contribuições Previstas e Determinadas em Nível Nacional) integrais”, destacou Lavasa, que integra a delegação indiana na 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que acontece em Paris até o dia 11.

Um novo informe do Centro para a Ciência e o Ambiente (CSE), com sede em Nova Délhi, concluiu que em 2013 a mudança climática afetou cinco dos 36 Estados indianos e 350 mil hectares cultivados, e que em 2014 prejudicou seis Estados e 5,5 milhões de hectares cultivados, a apenas um mês da colheita.

E em 2015 o dano gerado pelo clima afetou 15 Estados e 18,23 milhões de hectares, ou um terço da superfície cultivada. As perdas agrícolas superaram os US$ 4 bilhões. Cerca de 62% dos mais de 1,27 bilhão de habitantes da Índia dependem da agricultura, e seis em cada dez agricultores dependem da chuva para irrigação e são vulneráveis às mudanças nos padrões climáticos.

“Os negociadores nas conversações sobre o clima em Paris devem levar em conta o impacto da mudança climática na agricultura, e as devastadoras consequências para os agricultores, bem como as perspectivas para a segurança alimentar mundial”, recomendou Chandra Bhushan, do CSE.

Mankombu Sambasivan Swaminathan, o geneticista reconhecido como o pai da revolução verde nesse país, na década de 1960, considera que o impacto dos fenômenos climáticos na agricultura indiana se revela na recente importação de dez milhões de toneladas de legumes. “Há 50 anos, quando a Índia começou a revolução verde, importava dez milhões de toneladas de trigo. Parece que voltamos à mesma situação devido à mudança climática”, afirmou.

O informe O Custo Humano dos Desastres Relacionados com o Clima 1995-2015, do Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR), diz que nos últimos 20 anos houve 6.457 inundações, tempestades, ondas de calor, secas e outros eventos climáticos que afetaram 4,1 bilhões de pessoas em todo o mundo. Desse total, 805 milhões viviam na Índia.

A Ásia ficou com a pior parte, principalmente devido à sua grande e diversa massa terrestre, que inclui muitas bacias fluviais, planícies inundáveis e outras áreas propensas a desastres naturais, além da elevada densidade demográfica nessas áreas. Em geral, os desastres naturais provocam perdas econômicas em todo o mundo, as quais o UNISDR calcula entre US$ 250 bilhões e US$ 300 bilhões por ano.

Lavasa destacou a necessidade de recursos por parte dos países em desenvolvimento para poderem se adaptar à mudança climática. “A Índia é uma economia em desenvolvimento que tem muitas demandas sobre seus recursos. Para tirar as pessoas da linha de pobreza deve oferecer enormes quantidades de emprego rural, educação para todos, proporcionar assistência sanitária básica e moradias seguras. Some-se a isso o acesso à energia, do qual um terço da população indiana, principalmente rural, carece. Tudo isso exige grandes recursos”, apontou.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), na Índia vivem 194 milhões de pessoas desnutridas, um quarto do total no mundo. O país deve lidar com o problema da segurança alimentar, mesmo tendo 25% de sua superfície sofrendo desertificação e 32% enfrentando a degradação devido às secas e à erosão do solo. Aproximadamente cem milhões de hectares estão oficialmente classificados como terras degradadas no país.

A experiência com as consequências adversas da mudança climática transcendem o setor agrícola. “A Índia tem mais de sete mil quilômetros de costa, para abrigar até 15% da população total”, explicou Lavasa. “Essas são regiões onde vivem as pessoas mais pobres e elas enfrentam a fúria dos ciclones e tsunamis. O país também tem mais de 1.200 ilhas, vulneráveis como os pequenos Estados insulares”, acrescentou. Doze de seus 36 Estados recorrem à cordilheira do Himalaia, afetada pelo derretimento das geleiras, o que também afeta as principais fontes de água.

“O argumento da Índia para o acordo climático da COP 21 é que, devido à sua diversa e aguda vulnerabilidade, está disposta a agir, mas sempre disse que esses problemas foram criados historicamente pela ação de outros países, e agora há uma consciência de que se trata de um problema global. Portanto, é necessário não apenas haver uma decisão mundial para resolver o problema, mas também recursos mundiais para isso”, ressaltou Lavasa.

Segundo o funcionário indiano, as negociações climáticas “não podem deixar os países sozinhos e não se pode dizer: vocês, países em desenvolvimento, façam as coisas segundo suas capacidades e nós (países industrializados) as faremos segundo nossas capacidades”.


Fonte: ENVOLVERDE

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