Campeonato
do desperdício.
Somos um país pobre com mania de rico. E nosso lixo
é mais rico do que o lixo dos países ricos. Foto: Marcello Casal Jr./Agência
Brasil.
Vocês já ouviram falar em lixo rico? Somos os
campeões. Nosso lixo faria a fartura de um Haiti.
Por Menalton Braff, da Carta Capital –
No campeonato do desperdício, somos campeões em
várias modalidades. Algumas de que nos orgulhamos e outras de que nem tanto.
Meu amigo Adamastor, antropólogo das horas vagas, não me deu as causas
primeiras de nossa primazia, mas forneceu-me uma lista em que somos imbatíveis.
Claro, das modalidades que “nem tanto”.
Vocês já ouviram falar em lixo rico? Somos os
campeões. Nosso lixo faria a fartura de um Haiti. Com o que jogamos fora e que
poderia ser aproveitado, poder-se-ia alimentar muito mais do que a população do
Haiti. Há pesquisas a respeito do assunto e cálculos exatos que “nem tanto”.
Somos um país pobre com mania de rico. E nosso lixo é mais rico do que o lixo
dos países ricos.
Vocês já imaginaram as toneladas e toneladas de
petróleo que jogamos fora diariamente em forma de sacos plásticos? O leite,
antigamente, era vendido em garrafas de vidro que, lavadas, continuavam
servindo por meses, por anos, sem custo maior do que um pouco de sabão e água.
Bem, dirão os mais ingênuos, mas as embalagens são brindes dos laticínios.
Aqui, oh! Uma banana pra vocês se acreditam nisso.
Outra modalidade em que somos campeões absolutos é
o desperdício no transporte. Parece que o campeonato nessa modalidade nos enche
de orgulho e nos dá imenso prazer. Ninguém no mundo consegue, tanto quanto nós,
jogar grãos nas estradas. Não viajo pouco e me considero testemunha ocular.
Outro dia (época da safra) passei pela Anhanguera, por exemplo. Descobri
verdadeiras plantações de soja em suas margens. Plantações involuntárias que
não chegarão a produzir. Quando pego uma traseira de caminhão e aquela chuva de
grãos me assusta, penso rápido e fico calmo: faz parte da competição e temos de
ser campeões.
Vocês viram os ratos no centro de uma capital de
estado brasileiro? Quem os alimenta, senão o rico lixo que poderia estar, pelo
menos, servindo de adubo para melhorar a performance das terras agricultáveis?
Que são muitas, mas carentes de nutrientes. Já andei viajando pelo Mato Grosso.
Passei há pouco por uma estrada que está tendo
duplicação de pista. O mato já cobriu os arranhões que as máquinas fizeram na
terra. O Adamastor, sagaz como é, observou que as máquinas pararam por causa da
chuva, que não para, pois é a estação das águas, como dizem os mais velhos. Ah,
mas disso também se tira uma lição. Quando começaram os trabalhos, já não
sabiam que iria chover?
Então por que começaram? É grande o custo do transporte
das máquinas, que sumiram, do deslocamento do pessoal, que voltou para casa ou
para outras obras. São horas jogadas fora, é combustível desperdiçado, e por aí
vai.
Será que apenas começaram para calar a imprensa? Às
vezes fico pensando… bem, deixemos a imprensa em paz. Por enquanto.
Fonte: Carta Capital
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