Sinais
dos Oceanos.
Foto: Shutterstock
Por Ricardo Barreto, da Página 22 –
Um dos argumentos mais repetidos sobre os impactos
das mudanças climáticas é a ameaça de elevação de nível dos mares, pelo
derretimento das calotas polares. Este não é um indicador desprezível,
certamente, como bem alertaram as nações insulares que participaram da COP 21.
Um caso recente e dramático é do Atol de Biquini, parte das Ilhas Marshall, que
gerou pedido aos Estados Unidos para abrigar toda a sua população, uma vez que
já não vê condições de perpetuação na ilha constantemente invadida pelas águas
do mar. O caso noticiado pela BBC aponta
para o contexto de deslocamentos humanos forçados por impactos ambientais que
deve se tornar mais frequente com as mudanças climáticas.
Indicadores de outra natureza têm sido apresentados
pela mídia e por uma rede de cientistas ao redor do mundo, mostrando que as
mensagens vindas dos oceanos vão muito além do nível das águas. O aumento da
temperatura no Pacífico Norte é um deles, conforme alerta da National Oceanic
and Atmospheric Administration dos EUA, registrado pela Rolling Stone ). A reportagem destaca
depoimento de cientistas e pescadores classificando o fenômeno como “jamais
visto antes” e ilustra um amontoado de morsas em uma das poucas praias do
Ártico que restaram para descanso durante o degelo de 2015.
A Universidade de Southern California já
identificou também uma disrupção no ritmo reprodutivo da bactéria thricodesmium,
em decorrência das mudanças climáticas. Segundo reportagem da Scientific
American, essa bactéria é fundamental para a vida marinha pois converte
nitrogênio da atmosfera em uma forma de nitrogênio que pode ser absorvida pela
cadeia alimentar.
Um estudo do ARC Centre of Excellence for Coral
Rief Studies da Universidade de Queensland, Austrália, mostra que toda a
biodiversidade marinha está sendo afetada de modo geral e sofrerá impactos
ainda maiores com o agravamento do aquecimento global. Publicado na Nature
Climate Change e noticiado pelo Science Daily,
o estudo aponta, entre os desdobramentos, a migração de espécies para outras
regiões, impondo nova competição e predação a espécies já existentes ali.
Também fala em menos diferenciação de comunidades biológicas de uma mesma
região, o que pode causar o declínio de espécies.
E ainda o relatório da agência norte-americana
NOAA, que mostra a forte queda nos estoques pesqueiros, segundo matéria do The Sault.
Entre as razões, a redução do fitoplancton – alimento que é base para a maioria
dos filhotes de peixes. O Atlântico Norte é apontado como o local onde este
efeito das mudanças climáticas está mais intenso.
Mas a ciência ainda não tem uma noção completa do
comportamento dos oceanos frente à mudança do clima, o que traz mais incertezas
sobre o futuro. Um exemplo vem de estudo publicado na Science e noticiado
pelo Guardian. Pesquisadores constataram um novo ciclo de
absorção de carbono no oceano do hemisfério Sul do planeta, um dos principais
sumidouros de gases de efeito estufa da Terra.
Outra descoberta que traz uma certa esperança em
relação ao sequestro de carbono veio de uma pesquisa feita com bactérias Thiomicrospira
crunogena, encontradas nas profundezas do oceano. Cientistas da UF
College of Medicine descobriram que ela produz anidrase carbônica, uma
enzima que ajuda a remover dióxido de carbono de organismos. A ideia é estudar
a aplicação dessas bactérias em processos industriais para reduzir a emissão de
CO2, explica matéria do Tech Times.
Enquanto essa e outras soluções não se concretizam,
os oceanos seguem o processo de aquecimento das águas e de acidificação e os
sinais se multiplicam à velocidade da Internet.
Fonte: Página 22
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