Novas
sacolas plásticas: a vez da educação.
O momento é propício para uma campanha educativa
pelo uso correto das sacolas plásticas e da ampliação da coleta seletiva na
cidade de São Paulo. Foto: Shutterstock.
Por Roberto Araújo*
Ao curso de uma interminável discussão sobre quem
deve pagar pelas novas sacolas plásticas reutilizáveis para descartar o lixo na
cidade de São Paulo (a verde para o materiais recicláveis secos e a cinza para
materiais não recicláveis), os consumidores paulistanos continuam sem receber
orientações adequadas. Estão polemizando um tema que precisa de uma solução
técnica e muito investimento na educação da população. Quantas sacolas
são necessárias para acomodar as nossas compras? Quanto custa a sacola? Por que
os supermercados oferecem apenas duas sacolas de cortesia? Por que a maioria
dos supermercados não querem pagar esta conta? Poderiam diluir o custo e
repassar a conta para os consumidores? A questão primordial deveria ser outra.
Como educar e engajar os paulistanos contra a poluição gerada pelo lixo?
Estamos perdendo a oportunidade de endereçar
objetivamente uma solução interessante para o gigantesco volume de lixo urbano
em São Paulo. Talvez a caracterização de resíduos por meio das sacolas
plásticas verdes e cinzas tenha sido a ideia mais viável para ajudar a educar a
população mais rapidamente. Se o índice de coleta seletiva aumentar, o custo da
coleta de lixo por tonelada vai reduzir, juntamente com a poluição e tantas
outras externalidades associadas aos impactos ambientais e sociais, resultando
em melhor qualidade de vida para todos. O momento é propício para uma campanha
educativa pelo uso correto das sacolas plásticas e da ampliação da coleta
seletiva na cidade de São Paulo. Segundo pesquisa do Datafolha deste ano, 80%
dos paulistanos são contra a cobrança pelas novas sacolas plásticas. Na opinião
de 79% destes, esse custo deveria ser bancado pelos supermercados e pela prefeitura.
Em ambos os casos, quem paga a conta é o consumidor, o contribuinte.
Já passamos do momento de apontar a sacola plástica
como vilã. Agora, a sacola faz parte da solução do problema. Realizamos um
estudo em 2011, analisando e compararando a ecoeficiência de dois tipos de
sacolas: as descartáveis de plástico provenientes de diversas formas
(tradicional, de álcool de cana-de-açúcar e oxidegradável) e as retornáveis,
também chamadas “ecobags”, feitas com diversos materiais (papel, Tecido
Não-Tecido (TNT), polietileno tradicional, tecido e ráfia). O desafio foi saber
qual a solução mais ecoeficiente para transportar as compras do supermercado
para as residências. Ao final do estudo, constatou-se que o desempenho das
sacolas é determinado em função dos hábitos de compra e de descarte dos
consumidores. Caso haja pouco uso das sacolas (ex. poucas idas ao mercado), as
melhores opções são o uso de sacolas descartáveis, sendo a alternativa de menor
impacto. Em situações de hábitos mais intensos as sacolas retornáveis de
plástico são melhores alternativas, devido a sua maior durabilidade. Portanto,
os consumidores precisam ser orientados e educados sobre a melhor forma de
utilizar e reutilizar as sacolas plásticas.
A pesquisa do Datafolha ainda apontou que 63% da
população já reutiliza as sacolas plásticas para embalar o resíduo doméstico
destinado à reciclagem e 69% para descartar o lixo não reciclável. Sabemos das
dificuldades técnicas em se implementar a coleta seletiva e dos impactos
gerados pelas sacolas, principalmente pelo descarte incorreto e o volume de
embalagens e sacolas nas grandes cidades.
As novas sacolas plásticas verdes e cinzas são
importantes neste processo educativo. Além de serem 40% maiores e mais
resistentes do que as tradicionais brancas, as duas cores ajudam na formação do
hábito para o descarte correto. Afinal, quem nunca parou com dúvida em frente
às lixeiras coloridas para identificar onde deveria jogar o papel, o plástico,
o metal, o vidro e resíduos não recicláveis?
Acreditamos que será necessária uma padronização
visual das atuais ferramentas de coleta seletiva por meio de uma campanha
educativa. As lixeiras espalhadas pelas ruas e condomínios, os caminhões de
coleta e até os uniformes dos trabalhadores de coleta de resíduos deveriam ter as
mesmas cores que as sacolas, além de ações de comunicação pelo uso e descarte
responsável e seus benefícios àqueles que fizeram a coleta seletiva. À medida
que mais pessoas tiverem acesso a informação, mais vão aderir e agir
corretamente.
Após a consolidação desta primeira etapa educativa,
avanços ocorrerão naturalmente. Conhecendo os diversos tipos de resíduos,
os cidadãos e as empresas vão enxergar outras oportunidades, como obter geração
de renda, melhoria nas embalagens e passarão a separar ainda mais. Até lá há um
longo caminho, mas precisamos dar o primeiro passo proporcionando mais
informação e simplificando o processo de destinação final do lixo urbano.
Fabricantes, varejistas, consumidores e governo
estão todos no mesmo barco. Hoje, em São Paulo, há 21 cooperativas de catadores
para reciclagem, no total de mil catadores, cadastradas no projeto de coleta
seletiva. Com a mudança, ajudaremos a inclusão social de muitas outras pessoas
excluídas e ainda em situação de subemprego. Não basta reclamar. Está na hora
de unir esforços e fazer mais.
Afinal, todos somos responsáveis pelo lixo que
geramos e devemos fazer a nossa parte para reduzi-lo e destiná-lo corretamente
para reciclagem e reaproveitamento.
* Roberto Araújo, diretor-presidente da
Fundação Espaço ECO®.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário