Ano
começa com luta contra desigualdade.
A desigualdade entre ricos e pobres é um dos temas
da assembleia anual do Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos. Foto:
Pablo Unzueta/IPS.
Por Jenny Ricks, da IPS –
Davos, Suíça, 22/1/2016 – Agora que a maioria das
pessoas já se esqueceu de seus propósitos de Ano Novo, a atenção se concentra
no que nos reserva 2016. E assim é para aqueles que querem resolver os maiores
problemas do mundo. Entreos dias 20 e 23, políticos e empresários se reúnem em
Davos para a assembleia anual do Fórum Econômico Mundial, e uma vez mais a
desigualdade está na ordem do dia.
O consenso geral é que estamos vivendo uma crise de
desigualdade e que a brecha que separa os mais ricos do resto da população tem
uma profundidade que não se via em um século. Então, qual é a diferença em
2016? A iniquidade já é reconhecida como um fator social e economicamente
nocivo por toda uma gama de pessoas influentes, como o papa Francisco, e
instituições como o Fundo Monetário Internacional e a Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos.
Não há escassez de reconhecimento de pelo menos uma
parte do problema.E todos os países se comprometeram a combatê-la,por meio dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conhecidos como a Agenda 2030,
e o acordo climático acordado em Paris, em dezembro.Porém, o problema está
longe de ser resolvido. A crua realidade, em contraste com esses compromissos,
é que a desigualdade não está retrocedendo e os países e as instituições que
pretendem combatê-la continuam aplicando as estratégias do status quo
que exacerbam a iniquidade.
Então, o que se pode fazer? O desafio agora é
passar do reconhecimento do problema para a solução. Para isso precisamos de
três coisas: mudança nas políticas, mudança no poder, mudança na mentalidade e
nas ideias referentes à forma como ocorrerá essa mudança.
A sociedade civil compreende claramente a
contradição que existe entre o discurso e a realidade, bem como os próprios
pobres que sofrem a pior parte dessa desigualdade e com os quais a ActionAid
trabalha em todo o mundo. Eles não esperam que os líderes do mundo mudem sua
forma de proceder, estão ocupados combatendo a iniquidade desde a raiz e
criando uma nova realidade.
No dia 20, os dirigentes de uma diversidade de grupos
de desenvolvimento, religiosos, sindicatos e organizações dedicadas ao
ambiente, aos direitos da mulher e aos direitos humanos se reuniram para
explicar o que falta fazer para lidar realmente com a desigualdade e se
comprometer a redobrar a luta. Esta é umanotícia que entusiasma.
Por que esse problema tem importância para tal
diversidade de grupos? “A crise de desigualdade ameaça as lutas por um mundo
melhor. Os trabalhadores de todo o mundo vêm como os salários e as condições de
trabalho são socavados, na medida em que aumenta a iniquidade. Os direitos das
mulheres são sistematicamente piores em situações de maior desigualdade
econômica”, denuncia uma declaração conjunta dessas organizações.
A grande maioria das pessoas mais ricas do mundo é
de homens. Quem realiza os trabalhos mais precários e mal remunerados são as
mulheres. Os jovens enfrentam uma crise de desemprego.Outros grupos – como os
imigrantes, as minorias étnicas, pessoas com deficiências, lésbicas, gays,
bissexuais, transgêneros, intersexuais e os povos indígenas – continuam sendo
marginalizados e sofrem uma discriminação sistemática. Essas disparidades na
riqueza e no poder prejudicam constantemente a luta para tornar realidade os
direitos humanos da maioria.
Frequentemente, a extrema desigualdade também está
relacionada com o aumento das restrições ao espaço cívico e aos direitos
democráticos, já que as elites políticas e econômicas confabulam entre si para
protegerem seus interesses.O direito ao protesto pacífico e a capacidade dos
cidadãos para desafiar o discurso econômico dominante estão sendo restringidos
em quase todas as partes, porque as elites sabem que a desigualdade extrema e a
democracia participativa não podem coexistir por muito tempo.
Inclusive o futuro do nosso planeta depende de que
se acabe com essa grande fratura, já que o consumo de dióxido de carbono por
parte de 1% da população equivale a 175 vezes mais o consumo dos mais
pobres.Embora o caminho seja árduo, sabemos que a mudança para forjar um novo
sistema econômico, que coloque as pessoas e o planeta em primeiro lugar,
somente será possível por um movimento popular.
Este não é um ano de cúpulas e compromissos de alto
perfil. É um ano para construir o poder debaixo para cima e gerar um movimento
em muitos países com estes grupos e outros que inclua os movimentos sociais e
os jovens.Há motivos para a esperança e existe experiência para construir.
Sabemos que isso é possível porque vemos em nosso
trabalho com comunidades em todo o mundo, por alguns exemplos positivos atuais
e períodos anteriores de redução da desigualdade em países como o Brasil, e
porque as pessoas ganharam grandes lutas no passado. Essa nova luta contra a
desigualdade começou seriamente.
*Jenny Ricks é diretora da Iniciativa Contra
a Desigualdade, da organização humanitária ActionAid International.
Fonte: ENVOLVERDE
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