Riqueza
de 1% da população mundial supera a dos 99% restantes em 2015.
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Uma crescente desigualdade criou um mundo onde 62
pessoas possuem tanta riqueza quanto a metade da população mais pobre – um
número que despencou dos 388 de 5 anos atrás, de acordo com o relatório da
Oxfam publicado nesta segunda-feira (18), às vésperas da reunião das elites
econômica e política mundiais em Davos.
Por Redação da Oxfam –
Uma economia para o 1% (An Economy for the 1%) mostra que a riqueza da metade mais
pobre da população mundial caiu em 1 trilhão de dólares desde 2010, uma queda
de 41%. Isso ocorreu a despeito do crescimento da população global em 400
milhões de pessoas no mesmo período. Enquanto isso, a riqueza dos 62 mais ricos
cresceu em mais de meio trilhão de dólares, chegando a 1,76 trilhão de dólares.
O relatório também mostra como as mulheres são desproporcionalmente afetadas
pela desigualdade – dos 62 mais ricos, 53 são homens e apenas 9 são mulheres.
Embora os líderes mundiais falem cada vez mais
sobre a necessidade de enfrentar a desigualdade, e que em setembro passado
tenham acordado um esforço para reduzi-la, a distância entre os mais ricos e os
demais se ampliou enormemente nos últimos 12 meses. A previsão da Oxfam, feita
antes da reunião do ano passado em Davos, se confirmou com um ano de
antecedência: na época a organização afirmou que 1% da população teria mais
riquezas que todos os demais em 2016.
A Oxfam está chamando para uma ação urgente para
enfrentar essa crise de desigualdade extrema, que ameaça minar todos os
progressos feitos no sentido de combater a pobreza nos últimos 25 anos. A
organização coloca como prioridade o fim desta era de paraísos fiscais, em que
indivíduos ricos e grandes empresas recorrem cada vez mais a centros offshore
para escapar do pagamento dos justos impostos devidos à sociedade. Estas
manobras têm negado aos governos acesso a recursos necessários para combater a
pobreza e a desigualdade.
Kátia Maia, diretora da Oxfam Brasil, declarou: “É
simplesmente inadmissível que a metade mais pobre da população não tenha mais
do que poucas dúzias de super-ricos, que mal dariam para lotar um ônibus. A
preocupação dos líderes mundiais com a crescente desigualdade até agora não se
traduziu em ações concretas – o mundo se tornou um lugar ainda mais desigual e
essa tendência está se acelerando. Não podemos continuar permitindo que
centenas de milhões de pessoas passem fome enquanto recursos que poderiam ser
usados para ajudá-las sejam sugados por aqueles que estão no topo da pirâmide.
Nós desafiamos os governos, empresas e elites presentes em Davos a fazer sua
parte pondo fim à era dos paraísos fiscais, que alimenta a desigualdade
econômica e impede que centenas de milhões de pessoas escapem da pobreza. As
multinacionais e elites financeiras jogam com regras diferentes, recusando-se a
pagar os impostos de que a sociedade precisa para funcionar. O fato de 188 das
201 maiores empresas do mundo terem presença em pelo menos um dos paraísos
fiscais mostra que é hora de agir.”
Em termos globais, estima-se que um total de 7,6
trilhões de dólares em fortunas individuais estejam depositados offshore.
Se impostos fossem cobrados pela renda gerada por essa fortuna, eles gerariam
190 bilhões de dólares a mais, que estariam disponíveis para os governos
anualmente.
Acredita-se que 30% de toda riqueza financeira da
África seja mantida offshore, com uma perda em arrecadação de impostos
estimada em 14 bilhões de dólares por ano. Essa quantia é suficiente para
custear assistência médica a mulheres e crianças que poderiam salvar a vida de
4 milhões de crianças por ano, além de empregar professores suficientes para
garantir escola para cada criança africana.
Nove entre dez corporações membros do Fórum
Econômico Mundial (ou World Economic Forum, da sigla em inglês) estão
presentes em pelo menos um paraíso fiscal e estima-se que a evasão fiscal por
parte de multinacionais custe aos países em desenvolvimento pelo menos 100
bilhões de dólares por ano. Os investimentos de grandes corporações em paraísos
fiscais praticamente quadruplicaram entre 2000 e 2014.
Se os líderes mundiais realmente pretendem atingir
a meta, estabelecida em setembro passado na reunião das Nações Unidas, de
erradicar a pobreza extrema até 2030, é fundamental que os governos coletem os
impostos devidos por grandes empresas e indivíduos super-ricos.
Embora o número de pessoas vivendo em extrema
pobreza tenha caído pela metade entre 1990 e 2010, o ganho anual médio dos 10%
mais pobres cresceu menos de 3 dólares por ano nos últimos 25 anos. Isso
equivale a um aumento no ganho individual de menos de 1 centavo de dólar por
dia.
Se a desigualdade interna em cada país não tivesse
crescido entre 1990 e 2010, 200 milhões de pessoas a mais teriam saído da linha
da pobreza.
Segundo o relatório da Oxfam, outra das
tendências-chave por trás da crescente desigualdade é a queda na parcela da
renda nacional que vai para os trabalhadores em praticamente todos os países
desenvolvidos e na maioria dos países em desenvolvimento e uma distância cada
vez maior entre o pagamento dos que estão no topo e os que estão na base da
pirâmide de renda. As mulheres constituem a maioria dos trabalhadores com pior
remuneração.
Em contraste, os já ricos se beneficiaram das taxas
de retorno de capital através de pagamentos de juros e dividendos, entre
outros, que foram consistentemente mais elevados que as taxas de crescimento
econômico. Essa vantagem se soma ao uso de paraísos fiscais, que talvez seja o
exemplo mais gritante no relatório de como as regras do jogo econômico foram
reescritas de forma a potencializar a capacidade de os ricos e poderosos
reterem suas fortunas.
A Oxfam pede que uma ação consistente contra os
paraísos fiscais seja parte de uma ofensiva de três pontos contra a
desigualdade. Uma ação para recuperar os bilhões de dólares perdidos para
paraísos fiscais deve ser acompanhada por um compromisso por parte dos governos
para que esses recursos sejam investidos em assistência à saúde, escola e
outros serviços públicos essenciais, que fazem grande diferença na vida dos
mais pobres.
Os governos também devem assegurar que o trabalho
pague por aqueles na base tanto quanto para aqueles no topo da escala – o que
incluiu elevação dos salários mínimos para valores mais dignos e o combateàs
diferenças salariais entre homens e mulheres.
Kátia Maia acrescentou: “Os mais ricos não podem
mais fingir que sua riqueza beneficia a todos – na verdade, sua riqueza extrema
mostra uma economia global doente. A recente explosão na riqueza dos
super-ricos ocorreu às custas da maioria das pessoas, especialmente das mais
pobres.”
Além da campanha contra a desigualdade, a Oxfam
participará de Davos (representada pela diretora-executiva da Confederação
Oxfam Internacional, Winnie Byanima) com o objetivo de pressionar lideranças
políticas e econômicas a enfrentar as mudanças climáticas e agir para
solucionar as crises humanitárias, inclusive a da Síria.
Número de pessoas cuja riqueza é igual à da metade
mais pobre do planeta desde 2010:
2010
|
388
|
2011
|
177
|
2012
|
159
|
2013
|
92
|
2014
|
80
|
2015
|
62
|
(*)A riqueza dos 62 mais ricos foi calculada usando
a lista anual dos bilionários da Forbes , publicada em março.
(**)Os cálculos incluem riqueza negativa (i. e.
dívida). Por segurança, a Oxfam recalculou a parcela e riqueza dos 1% mais
ricos depois da exclusão da riqueza negativa, não havendo alteração
significativa (queda de 50,1% para 49,8%). A riqueza negativa como parcela da
riqueza total permaneceu constante ao longo do tempo, de forma que a tendência
de distribuição de renda se manteve inalterada.
Fonte: ENVOLVERDE
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