sexta-feira, 31 de julho de 2015

É possível um futuro com zero emissão?
Recente informe do Banco Mundial afirma que ter metas de longo prazo, corrigir os preços nas políticas de investimento e facilitar a ajuda aos mais vulneráveis são os três pilares para que seja possível estabilizar as consequências da mudança climática e conseguir um desenvolvimento sustentável com zero emissão. Foto: Flickr de Otger!

Por Conexion COP* 

Conexão COP 21, 14/7/2015 – Conseguir que até 2100 não existam emissões de carbono é a meta de milhões no planeta. Para isso é necessário que os países se foquem em um desenvolvimento sustentável e reorganizem a economia mundial. É o que afirma o informe do Banco Mundial Desenvolvimento Sem Emissões de Carbono: Três Passos Para um Futuro Com Zero Emissão, no qual se indica a necessidade de planejamento de longo prazo, correção dos preços como parte de um conjunto amplo de políticas mundiais e, por fim, apoiar os afetados pelo aquecimento global. E nisso as empresas têm um papel muito importante.

Para conseguir os três pontos é necessário estabelecer mudanças fundamentais na vida do ser humano. Mudanças, que, segundo Daniel Buira Clark, do Instituto Nacional de Ecologia e Mudança Climática no México, são possíveis, ainda que difíceis.

“O que propõe o Banco Mundial são mudanças necessárias e a proposta é fazê-las mais manejáveis, com um enfoque para encontrar oportunidades além dos custos. Fazer com que a mudança seja menos difícil exige que desde agora tomemos iniciativas quanto a políticas públicas em matéria de energia, investimento em infraestrutura, preços, impostos, tarifas sobre o carbono e uma série de medidas adicionais. A mensagem principal é a de que, quanto antes começarmos com as mudanças, menos cara será a transição”, pontuou Clark.

As bases para a mudança

O informe do Banco Mundial detalha que é preciso planejar em longo prazo e para isso as políticas e os investimentos não devem se centrar apenas nos benefícios imediatos. Também devem focar em desenvolver tecnologias e infraestrutura de baixas emissões de carbono necessárias para conseguir zero emissão. O informe é muito claro e indica que, se nada for feito até 2030, os custos subirão em cerca de 50%, fazendo com que o atraso aumente a gravidade da redução de emissões necessária.

Beatriz Zavariz, do Conselho Civil Mexicano para a Silvicultura Sustentável, apontou que o planejamento deve estar acompanhado de mudanças institucionais que gerem novas ferramentas, estruturas institucionais e novos recursos, e que se dê o respectivo acompanhamento.

“Para cumprir metas de prazos tão longos (2050 ou mais), é preciso estabelecer mecanismos que facilitem a transição entre administrações governamentais, de forma que a priorização da carbonização da economia seja contínua até o final do prazo. Uma opção pode ser a criação de órgãos descentralizados com funcionalidade independente das administrações governamentais que possam dar continuidade às estratégias e aos planos em grandes escalas de tempo”, afirmou Zavariz.

Como segundo ponto, o estudo propõe corrigir os preços do carbono, já que cerca de 40 países fixaram seus valores, ou planejam fazê-lo, mas os impostos não são fáceis de implantar e são difíceis de evitar, quando comparados com outros. Por isso, é necessário desenvolver políticas complementares entre eles, optar pela eficiência energética, impor aos fornecedores de eletricidade a obrigação de obter de fontes renováveis determinada porcentagem da energia que distribuem, e que recebam incentivos para as opções com baixas emissões de carbono. Sabe-se, por exemplo, que até o momento 114 países no mundo já definiram objetivos de energia renovável.

Alejandra López Carbajal, diretora de Assuntos Ambientais do Instituto Nacional de Ecologia e Mudança Climática no México, explicou que mais de um país trabalhou e trabalha atualmente na implantação de instrumentos econômicos relacionados ao preço do carbono. “Esse tema em particular requer maior trabalho e um acordo de toda a comunidade internacional, se possível a partir das Nações Unidas, que transmita sinais claros de como devem ser redirecionados os investimentos e fomente a transição de emissões requerida”, ressaltou.

Finalmente, o informe aponta a necessidade de facilitar a transição e proteger as famílias pobres contra os efeitos dos aumentos de preços. As empresas podem ajudar para que se tenha um mundo mais limpo, atuando de maneira eficiente. Assim, 60% da população que tem menores rendas seria beneficiada com uma reforma em direção a economias mais sustentáveis.

Mudanças no setor pecuário

Jacobo Arango, biólogo molecular e pesquisador da LivestockPlus, que pertence ao Programa de Pesquisa Mudança Climática, Agricultura e Segurança Alimentar, afirmou que, para se conseguir zero emissão em setores como a pecuária, os pesquisadores e todos os interessados devem combinar esforços para reduzir as emissões em 30% com relação às registradas atualmente. “Uma vez obtida essa redução, serão necessários mecanismos de compensação para fazer o balanço de zero emissão”, explicou.

Para o setor pecuário, várias estratégias são propostas para reduzir emissões, entre elas se destacam a mudança do uso do solo (sem desmatamento), utilização de pastagens melhoradas, gestão do esterco, uso responsável dos fertilizantes e lavoura de conservação. Segundo Arango, se, depois dessas intervenções, as emissões continuarem sendo superiores às reduções, há outros mecanismos disponíveis, como créditos de carbono, a fim de chegar à desejada emissão zero.

“No projeto LivestockPlus, procuramos quantificar as emissões da pecuária na Colômbia e na Costa Rica para a construção de uma linha de base. Depois disso serão identificadas, implantadas e quantificadas ações de mitigação para a construção do NAMA (Nationally Appropriate Mitigation Actions) do setor pecuário, com forte ênfase em pastagens melhoradas”, destacou Arango.

Baixe aqui o informe do Banco Mundial em inglês.

* Publicado originalmente no site Conexion COP. Tradução e edição: Envolverde.


Fonte: ENVOLVERDE
Tietê, um rio de sujeira e contradições.
Hoje, 665 mil pessoas vivem em favelas ou loteamentos irregulares na região de mananciais, de acordo com a Secretaria Municipal de Habitação. Foto: José Cícero da Silva.

Por Giulia Afiune e Jessica Mota – 

Responsável pelo projeto de despoluição do rio, a própria Sabesp joga esgoto sem tratamento em seu leito. Bilhões de dólares e 23 anos depois, verbas para saneamento são reduzidas em meio à crise de abastecimento, gerando dúvida se metas serão cumpridas.

Um rio de esgoto atravessa a região metropolitana de São Paulo. Grande parte dos dejetos do polo urbano que concentra a maior riqueza do Brasil vai parar no Tietê, o que transformou o maior curso de água do estado em um canal fedorento de aspecto sujo. Quem chega a São Paulo pelo aeroporto de Guarulhos ou pela rodoviária do Tietê é recebido pelo odor desagradável desse anti-cartão postal. Não raro, motoristas da marginal Tietê levantam as janelas para tentar conter o mau cheiro. O odor é o sintoma mais perceptível de que algo está errado com o rio. E, ao contrário do que se pensa, a culpa não é só das moradias improvisadas e sem saneamento básico. A Pública visitou sete bairros e verificou que o despejo de esgoto sem tratamento vem tanto de barracos quanto de mansões.

Desde 1992, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) administra o Projeto Tietê, cujo objetivo é ampliar a coleta e o tratamento de esgoto na Grande São Paulo e, consequentemente, despoluir o rio. A conta do projeto não é exata, mas pelo menos US$ 3,6 bilhões já foram direcionados para as obras.

O problema é que a própria Sabesp é uma das grandes responsáveis pela poluição das águas. A Pública descobriu que em vários pontos da capital a empresa capta o esgoto das casas e o joga sem tratamento nos rios, córregos e represas que compõem a Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, cujo perímetro coincide com os limites da Grande São Paulo – onde vivem 20,2 milhões de pessoas. A prática configura crime ambiental segundo o Artigo 208 da Constituição Estadual.

A empresa foi denunciada pelo Ministério Público em outubro de 2012, e, ao contrário das águas do rio, a peça de acusação é cristalina: “Ocorre que a SABESP vem, desde sua criação, direta e ininterruptamente, em maior ou menor escala, lançando nos corpos d’água os esgotos sanitários in natura coletados nessas cidades, isto é, sem nenhum tipo de tratamento, provocando poluição hídrica não só na bacia hidrográfica do Alto Tietê onde estão inseridos os municípios, mas também nos reservatórios Billings e Guarapiranga, com vultosos prejuízos ao meio ambiente e à sociedade”, relata então o promotor de Justiça do Meio Ambiente José Eduardo Ismael Lutti. O texto aponta também o município, o estado de São Paulo e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que financia o projeto de despoluição, como corresponsáveis pela prática ilegal. Na ação, o Ministério Público exige que até 2018 os réus parem progressivamente de lançar esgoto sem tratamento nos corpos d’água e realizem todas as obras necessárias à universalização do serviço de coleta e tratamento de esgoto.
Marzeni Pereira, ex-funcionário da Sabesp, trabalhou como tecnólogo em uma estação de tratamento por 12 anos. Foto: José Cícero da Silva.

A ação deu início a um processo que agora está tramitando na Justiça paulista. Em sentença de setembro de 2014, a juíza Liliane Keyko Hioki reconhece que a Sabesp é responsável pela prática ilícita, mas julga improcedente o pedido do Ministério Público, alegando que não é possível antecipar a meta de universalização para 2018, uma vez que a Sabesp já está tomando as providências para realizá-la até 2024. O Ministério Público recorreu. A meta considerada pela juíza difere da estipulada pelo governador Geraldo Alckmin. Em decreto, ele determina que o esgoto seja universalizado no estado até 2020.

Marzeni Pereira, tecnólogo que trabalhou em uma estação de tratamento da Sabesp por 12 anos, explica que sentir cheiro de esgoto, algo comum na região metropolitana, é sinal de que há algo errado. “Quando se sente cheiro de esgoto saindo dos bueiros, ou os moradores jogaram o esgoto na rede de águas da chuva ou a Sabesp”, explica. Isso acontece onde não há tubos que levam o esgoto dos bairros para as estações de tratamento. Em vez disso, ele é levado para galerias de água da chuva que deságuam em córregos.

Idealmente, o esgoto é transportado dentro de tubos subterrâneos, dos pontos mais altos para os mais baixos. Tudo que é eliminado no vaso sanitário, nas pias e nos ralos sai das casas dentro de ligações domiciliares em direção a redes coletoras que passam em cada rua. Várias redes são ligadas a um coletor-tronco e vários coletores, a um interceptor. Construídos próximos a rios, os interceptores levam o esgoto de diversos bairros até as estações de tratamento (ETEs). Quando não há declividade suficiente, estações elevatórias são construídas para bombear o esgoto pela tubulação. Já a água da chuva escorre para dentro de bueiros ou bocas de lobo até as galerias de água pluvial, que a levam, por baixo do asfalto, até rios de grande ou pequeno porte, os córregos.

A poluição e o mau cheiro das águas fazem mal à saúde de todos os habitantes, explica o professor Pedro Mancuso, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). O cheiro de ovo podre que sai dos rios poluídos é causado pelo gás sulfídrico, uma substância tóxica. “Em grandes quantidades, ele pode ser até mortal, mas em pequenas quantidades, como essa que está no nosso rio, é suficiente para dar náusea, dor de cabeça, e tontura.” O gás continua causando esses efeitos mesmo quando “cansa” nosso olfato. “Depois de um tempo, ele anestesia os nervos do nariz e a pessoa não sente mais. Então, quem chega no rio fala ‘nossa, que odor forte’ e quem mora ali do lado fala ‘ah, a gente já se acostuma, acaba não sentindo mais’”, ensina Mancuso.

Da mesma forma, a população da grande São Paulo parece ter se acostumado a ignorar ou a desprezar o rio. A maioria das pessoas não tem a menor idéia se o esgoto da própria casa tem destino adequado. Mas quem mora na região metropolitana já deve ter se perguntado:
Por que o Tietê ainda não foi despoluído?

Leia a reportagem completa no site da Agência Pública!

Fonte: ENVOLVERDE
Estamos preparados para os desafios da água e do clima nas cidades?
A falta d’água e de planejamento estratégico colocou em cheque os instrumentos de gestão e governança em vigor no país, que se mostraram insuficientes para enfrentamento dos impactos do clima. Foto: Shutterstock

Por Malu Ribeiro* –

Às vésperas da Conferência Mundial do Clima (COP 21), o tema deixa de ser interesse de cientistas, ambientalistas, governos e setores econômicos. Está agora no centro das preocupações do Papa Francisco que, por meio da nova encíclica, chama a atenção da humanidade para a urgente necessidade de “mudarmos o rumo”, assumindo responsabilidade e compromisso com o Planeta. A manifestação do Pontífice poderá promover grande impacto social e ajudar a pressionar Governos na tomada de decisões concretas. Mas o mais importante é a forma direta e simples com que pode atingir cidadãos comuns, em todo o mundo, convocando-nos a efetivas mudanças de comportamento.

Embora os impactos do clima sejam sentidos no dia a dia por qualquer cidadão, quer seja por meio do preço da energia elétrica ou do cafezinho, e até mesmo na escolha da roupa que vamos usar para enfrentar, no mesmo dia, rápidas variações de temperatura, os grandes tratados internacionais e as mudanças nas legislações parecem cada vez mais distantes da realidade e dos problemas da sociedade.

A crise hídrica que afeta as regiões Sudeste e Nordeste levaram gestores públicos do setor de abastecimento e energia elétrica a recorrerem ao “volume morto” dos reservatórios. O esgotamento desses grandes reservatórios e da vazão de rios como o São Francisco, Paraíba do Sul e Piracicaba – que abrange o Sistema Cantareira – revelou o desmatamento da Mata Atlântica como uma das causas da falta d´água. Em recente decisão do Supremo Tribunal de Justiça, o Ministro Luiz Fux reconheceu essa relação e oficiou aos governadores dos Estados afetados pela crise hídrica para que estabeleçam metas de conservação e recuperação da vegetação nativa, maiores que o estabelecido no novo Código Florestal brasileiro.

Essa decisão inédita do STJ deverá fomentar ações e programas de restauração florestal, voltados à recuperação de bacias hidrográficas. O Sistema Cantareira, que era responsável por 70% do abastecimento de água da cidade de São Paulo e de parte da região metropolitana de Campinas, deverá se manter no volume morto até o final deste ano. Com a insuficiente cobertura florestal, restrita a 21,5% da bacia hidrográfica, e a contínua captação, ainda que em volumes mínimos possíveis, o manancial tem pouca condição de recuperação em curto prazo.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) afirma que será preciso reduzir a vazão na barragem de Sobradinho, no Rio São Francisco, para evitar que o reservatório chegue a zero, até o mês de setembro. A região de cabeceira e das nascentes do São Francisco tem alto índice de desmatamento na porção mineira da bacia. Estudo do Banco Mundial aponta que a variabilidade das chuvas e a intensidade das secas no Nordeste deverão aumentar até 2050, com graves efeitos para a população, caso os governos locais não invistam em infraestrutura e gestão hídrica.

Como o acesso a água em qualidade e quantidade é um Direito Humano e a Constituição brasileira estabelece que o uso prioritário da água é o abastecimento público, setores produtivos e de alimento tiveram suas atividades comprometidas e, em alguns casos outorgas foram suspensas temporariamente para garantir o abastecimento humano e de animais. E a falta d´água acabou provocando um efeito dominó nos setores produtivos. A crise no abastecimento levou cidadãos às ruas e Estados, municípios e empresas aos tribunais de justiça por conta de modelos de concessão de serviços de saneamento, por tarifas ou por danos e responsabilidades.

A falta d’água e de planejamento estratégico colocou em cheque os instrumentos de gestão e governança em vigor no país, que se mostraram insuficientes para enfrentamento dos impactos do clima. Somente neste ano de 2015, mais de 1442 municípios decretaram calamidade pública em virtude da seca, com enorme impacto social, ambiental e econômico. Ao mesmo tempo em que as enchentes na região norte evidenciam o contraste e a amplitude dos eventos climáticos em um país com diferentes biomas e realidades sociais como o nosso. Portanto, podemos afirmar que a água é o recurso natural que melhor expressa às mudanças do clima.

A exclusão hídrica nas grandes cidades da região Sudeste é ainda mais perversa, pois a indisponibilidade de água é decorrente da poluição dos rios, da degradação dos mananciais e do desperdício. A má gestão do solo e a falta de investimentos em saneamento básico afetam milhões de pessoas nas áreas urbanas, potencializam os contrastes sociais e os problemas de saúde pública.

Na região metropolitana de São Paulo, mais de 2 milhões de pessoas vivem de forma irregular em áreas de manancial. A pressão por moradia sobre áreas frágeis leva setores a buscarem mudanças na legislação de uso e ocupação do solo, com o intuito de flexibilizar a proteção de áreas verdes para construção de equipamentos e moradia sociais. Embora os municípios tenham assumido compromissos e estratégias de resiliência, os mesmos não estão sendo utilizados para balizar revisões em planos diretores e nas leis de zoneamento.

O efeito cascata dos retrocessos na Legislação Ambiental brasileira, desde o novo Código Florestal, que diminuiu a faixa de mata nativa, responsável pela proteção de rios e nascentes, para regularizar atividades e usos do solo em áreas de risco, potencializa os impactos do clima, em especial, nas áreas urbanas, para as comunidades mais carentes, além das ameaças às regiões estratégicas para conservação da água, recarga de aquíferos e manutenção de nascentes.

Para que nossas cidades possam ser menos vulneráveis aos impactos do clima, precisamos traduzir para os cidadãos o que significa resiliência e colocar a proteção das florestas, da água e dos recursos naturais na agenda estratégica do país.

* Malu Ribeiro é coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, ONG brasileira que desenvolve projetos e campanhas em defesa das Florestas, do Mar e da qualidade de vida nas Cidades. Saiba como apoiar as ações da Fundação.


US$ 400 bilhões para os ODS.
Proteger o meio ambiente, reduzir a fome e a pobreza no mundo são alguns dos objetivos de desenvolvimento sustentável: Foto: ONU.

Por Redação da ONU Brasil –

O valor será financiado pelos bancos multilaterais de desenvolvimento e o FMI ao longo dos próximos três anos, buscando alcançar o desafio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Os bancos multilaterais de desenvolvimento (MDBs) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) sinalizaram na sexta-feira (10) planos para estender para 400 bilhões de dólares o financiamento ao longo dos próximos três anos. As entidades prometeram ainda trabalhar mais estreitamente com os parceiros dos setores público e privado para ajudar a mobilizar os recursos necessários para enfrentar o desafio histórico de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs).

O anúncio veio às vésperas da Terceira Conferência Internacional sobre o Financiamento do Desenvolvimento, em Addis Abeba, que terminará na próxima quinta-feira (16). O financiamento do desenvolvimento dos MDBs cresceu de 50 bilhões em 2001 para 127 bilhões de dólares em 2015. 

Para cada dólar investido por seus acionistas, os MDBs são capazes de aplicar entre dois e cinco dólares em novos financiamentos a cada ano. O voto para aumentar a sua contribuição para mais de 400 bilhões de dólares ao longo dos próximos três anos reflete os esforços para tornar ainda melhor a utilização de seus balanços.

Satisfazer as necessidades espantosas, mas alcançáveis da agenda de ODSs requer que todos possam fazer o melhor uso de cada dólar de cada fonte, e atrair e aumentar o investimento público e privado.

 A assistência oficial ao desenvolvimento, estimada em 135 bilhões de dólares por ano, fornece uma fonte fundamental de financiamento, especialmente nos países mais pobres e mais frágeis. Entretanto, as necessidades de investimento em infraestrutura por si só chegam a 1,5 trilhão de dólares por ano em países emergentes e em desenvolvimento.

“Temos de jogar fora os estereótipos de ajuda e pensar sobre o desenvolvimento de forma diferente. 

Trata-se da criação de oportunidades para todos, dando às pessoas uma chance igual para ter sucesso na vida, e preparar o mundo para lidar com os desafios da mudança climática e da próxima pandemia. 

Precisamos de trilhões, não bilhões, de dólares para atingir esses objetivos, e o dinheiro vai vir de várias fontes”, disse o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim. “Esses investimentos em pessoas irão ajudar a acabar com a pobreza extrema em apenas 15 anos”.


Fonte: ONU Brasil
Terremotos não matam, construções sim.
Chiute Tamang e sua família perderam a casa no terremoto de 25 de abril, no Nepal. Foto: Robert Stefanicki/IPS.

Por Robert Stefanicki, da IPS  – 

Katmandu, Nepal, 14/7/2015 – Chiute Tamang cultivava seu campo no Nepal quando aconteceu o terremoto do dia 25 de abril. Este homem de 70 anos agarrou-se a uma árvore. Sua mulher e filha saíram correndo de casa. Em um piscar de olhos a moradia se converteu em um monte de escombros. E eles tiveram sorte.

“Os terremotos não matam, as construções é que matam”. O dito popular se confirmou no Nepal. Quase todas as vítimas do terremoto que afetou este país do sul da Ásia ficaram soterradas pelos escombros de suas casas, construídas apenas com pedra e barro por pedreiros sem a devida capacitação. Esse tipo de construção é muito popular por ser a mais barata. As pedras e o barro são de graça, enquanto é preciso pagar por tijolos e cimento.

Em Ramche, o povoado de Chiute, 38 quilômetros a noroeste de Katmandu, 168 das 181 casas da localidade já não são habitáveis. Segundo o último informe oficial, o sismo danificou 607.212 construções, 63% delas em zonas onde vivem os tamangs, o maior e mais pobre dos grupos étnicos que falam tibetano-birmanês na região do Himalaia, embora seus 1,35 milhão de moradores superem apenas 5% dos cerca de 27 milhões de habitantes do Nepal.

Pode-se dizer que os terremotos não matam, a injustiça sim, já que das 8.844 pessoas que morreram no desastre, 3.012 eram tamangs. Mais de 50% das vítimas pertenciam a comunidades marginalizadas, e mais da metade eram mulheres.

Ramche é um povoado tamang. Alguns de seus moradores possuem pequenas parcelas de terra onde cultivam milho e pequenas batatas, mas as colheitas são suficientes para alimentar as famílias dos agricultores durante apenas dois ou três meses. O resto do ano vivem graças à venda de sua mão de obra.

Os habitantes de Ramche são muito pobres. Se perguntarmos o motivo responderão que seus pais eram pobres, como os pais de seus pais. Eles aceitam essa situação como um fato do destino e não se sentem discriminados, o que revela até que ponto a desigualdade está incorporada ao tecido social, como consequência de uma exploração concertada durante séculos.

Essa tribo das alturas sempre foi uma reserva de mão de obra para os governantes de Katmandu. No passado, os tamangs não podiam trabalhar na administração do governo ou no exército. Mesmo atualmente têm pouca representação na hierarquia superior das forças armadas ou na polícia, bem como nos assuntos nacionais do país. O fato de serem budistas não protegeu os tamangs do sistema de castas evoluído pelos hindus no poder, pertencentes às elites “bem nascidas” dos brâmanes, chhetris e newars, que desprezam os tramangs.

A necessidade econômica aumentou a afluência de camponeses indigentes ao mercado de trabalho de Katmandu, onde ocupam metade dos cargos de porteiros e conduzem a maioria dos táxis da capital. 

Pesquisas feitas nas prisões do país revelaram que uma alta porcentagem de tamangs, superior à sua proporção na população em geral, está atrás das grades por cometerem crimes.
Em um piscar de olhos, o terremoto transformou as casas em montes de escombros. Foto: Robert Stefanicki/IPS.

Os tamangs nunca dependeram da ajuda dos governos, e desta vez não é diferente. Após o terremoto, os moradores de Ramche se ajudaram uns aos outros, cozinharam seus alimentos coletivamente e se deram as mãos para saírem dos escombros. Com um pouco de assistência das organizações não governamentais, colocaram a situação sob controle. Uma semana depois do desastre, os residentes de Ramche receberam cobertas, lonas e mosquiteiros financiados pela Direção Geral de Ajuda Humanitária e Proteção Civil da União Europeia (UE).

Agora, o povo inteiro faz fila no quartel onde a Adra, uma ONG nepalesa, entrega grandes recipientes de água com o logotipo azul da UE e kits contendo pasta e escova de dentes, pastilhas para purificar a água, absorventes e pílula anticoncepcional. Uma jovem ativista explica incansavelmente aos aldeões como utilizar esses produtos.

Após perder sua casa, a família de Chiute Tamang passou os primeiros três dias em um frágil abrigo, que improvisaram com pedaços de madeira e uma barraca de lona, onde se abrigaram com suas cabras, sua mais valiosa propriedade. O gado não podia ser deixado à intempérie durante a noite, pois poderia ser presa de tigres ou leopardos, explicou.

Depois, Chiute pediu emprestado algum dinheiro, comprou materiais e, com ajuda de vizinhos, construiu uma moradia para ele, a mulher, a filha mais nova e o genro. A cabana, com apenas um cômodo, é feita de uma armação de madeira recoberta com zinco, o solo é coberto por encerado, e está equipada com camas simples, armários e um fogão a gás.  “Se cair, no pior dos casos ficaremos presos sob chapas de zinco e não debaixo de pedras”, destacou.

A construção demorou duas semanas, porque a madeira foi trazida de longe. Quando a casa ficou de pé, o governo finalmente enviou alguma ajuda. Toda família nepalesa que perdeu sua casa tem direito ao empréstimo de US$ 150. Chiute teria que pagar metade dessa quantia e o restante seria perdoado.

Outro morador de Ramche, Deepak Bhutel, recebeu US$ 1.800, mas isso porque teve menos sorte. 

Sua mulher e sua filha de 18 meses morreram debaixo dos escombros de sua casa de pedra. Esse dinheiro daria para comprar uma casa sólida, com probabilidade de sobreviver a um futuro terremoto, mas Deepak, junto com a única filha que lhe resta, disse que também vai terminar morando em uma cabana coberta por chapa. Como passou necessidade toda sua vida, não quer gastar todo o dinheiro em uma casa, afirmou.

Somente o tempo dirá se, no processo de planejar a reconstrução do Nepal, o governo aproveitará a oportunidade para descobrir o motivo de os tamangs serem tão vulneráveis aos desastres naturais e o que pode ser feio para protegê-los de futuras calamidades.


Fonte: ENVOLVERDE

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Sustentabilidade em muitas dimensões.
Vídeos trabalham temas como gestão ambiental, desenvolvimento social, mercado e e consumo consciente, entre outros.

Por Centro Sebrae de Sustentabilidade – 

Tema cada vez mais estratégico na pauta das empresas, a sustentabilidade envolve inúmeras dimensões e é fator preponderante também para a competividade e permanência no mercado.

Muitos empresários buscam mais informações sobre o tema, sobretudo quanto ao seu caráter interdisciplinar e transversal, bem como sua aplicabilidade nas empresas. Tal quadro cria a necessidade de maiores esclarecimentos sobre o conceito, suas aplicações e viabilidade em todas as etapas da gestão empresarial.

Visando atender esta demanda, o Centro Sebrae de Sustentabilidade, unidade de referência nacional sobre o tema, lança um novo conteúdo, as Dimensões da Sustentabilidade nos Pequenos Negócios, cujo objetivo é desmistificar o tema e mostrar que ações sustentáveis são viáveis e como cada um dos pontos podem ser colocados em prática em todas as áreas da empresa.

A partir de consultas com especialistas de todo o Brasil, foram selecionadas 12 dimensões chave, que possuem grande impacto no ciclo de vida dos pequenos negócios e juntas são capazes de tornar a empresa mais sustentável.

São trabalhados temas como planejamento estratégico, gestão financeira, gestão da qualidade, compras sustentáveis, gestão de pessoas, encadeamento produtivo, gestão ambiental (englobando uso eficiente da água, da energia e gerenciamento de resíduos sólidos), desenvolvimento social, legislação, normas e certificações, mercado e consumo consciente, marketing e comunicação, e políticas públicas.

Todas as informações foram compiladas em vídeos, com média de um a dois minutos, em linguagem de fácil entendimento e aprendizagem, explicando de maneira mais dinâmica as dimensões e fornecendo dicas em cada área.

Para a gerente do Centro Sebrae de Sustentabilidade, Suenia Sousa, o conteúdo vem acrescentar um grande conhecimento, de maneira prática. “Entendemos que não há outra via para a sustentabilidade nos pequenos negócios que não seja a da inovação. Como este é um conceito transversal, as Dimensões vêm mostrar de uma forma simples e direta que isto é possível e aplicável na realidade dos empresários”.

Uma nova postura

Adotar os princípios da sustentabilidade empresarial dá lucro e é realidade também para os pequenos negócios. Ser sustentável é reduzir desperdícios, ampliar o valor financeiro da empresa, promover o bem estar das pessoas envolvidas e contribuir para o meio ambiente, promovendo um mercado mais justo e competitivo.

Mais do que cuidado com o meio ambiente, a sustentabilidade é uma postura da empresa, cada vez mais exigida como fator de competitividade. Empresas em todo o mundo já repensam hábitos e ajustam seus modelos de produção, fornecendo produtos e serviços lucrativos, de alto valor social e baixo impacto ambiental. Novas oportunidades surgem todos os dias para aqueles que seguem esta tendência.

Todos os vídeos estão disponíveis no canal do Centro Sebrae de Sustentabilidade no You Tube. Para os próximos meses, novos produtos educacionais serão disponibilizados, como infográficos e diagnósticos empresariais.


Fonte: ENVOLVERDE
Subjugados por Belo Monte?
Escola da aldeia Paquiçamba, do povo juruna, nas margens do rio Xingu em sua Volta Grande, na Amazônia brasileira, que apesar de não ficar inundada pela represa da hidrelétrica de Belo Monte, verá o fluxo de água diminuir consideravelmente. Foto: Mario Osava/IPS.

Por Mario Osava*

Altamira, Brasil, 13 de julho de 2015 (Terramérica).- Etnocídio, a nova acusação contra a central hidrelétrica de Belo Monte, realça dimensões mais profundas dos conflitos e das polêmicas desatadas pelos megaprojetos em construção, ou planejados, para a Amazônia brasileira. A promotora Thais Santi, do Ministério Público Federal (MPF), anunciou para “dentro de algumas semanas” uma ação judicial contra a Norte Energia, a empresa concessionária da central, com o argumento de que suas iniciativas para silenciar a resistência indígena configurariam crime de etnocídio.

“Será uma inovação jurídica no Brasil”, afirmou Wilson Matos da Silva, um advogado diretamente interessado nesse “processo pioneiro”, como indígena do povo guarani que reflete sobre o tema em publicações em Dourados, cidade do oeste brasileiro onde vive. “Não há uma legislação brasileira para etnocídio, um termo utilizado por analogia ao genocídio, este sim tipificado em uma lei de 1956. O objeto do crime não é a vida, mas a cultura, porém o objetivo é o mesmo, destruir um povo”, afirmou este defensor de causas indígenas.

“O etnocídio só ocorre com omissão do Estado, portanto envolvido em um potencial julgamento”, acrescentou Silva. O tema é debatido há tempos, especialmente entre antropólogos, em fóruns e tribunais internacionais. A novidade no Brasil é levá-lo ao âmbito judicial, “uma iniciativa louvável”, que poderia gerar uma jurisprudência importante, concluiu o advogado em entrevista por telefone.

Belo Monte tem sido alvo de muitas denúncias tentando travar sua construção. A empresa é acusada de descumprir medidas exigidas pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), para compensar ou mitigar impactos da obra, que represará o rio Xingu para gerar 11.233 megawatts, o que a converterá na terceira maior central do mundo.

Os 22 processos abertos pelo MPF não conseguiram paralisar a obra, mas sim a execução de algumas exigências ambientais, como a compra de terras para a Comunidade Indígena Juruna do Quilômetro 17, na rodovia Transamazônica, que está exposta ao movimento causado pela obra por viver em uma área muito próxima e extremamente pequena.
A pescadora Socorro Arara, indígena que adotou como sobrenome o nome de seu povo, luta para manter o modo de vida das sete famílias de seu grupo. A ilha onde vive no rio Xingu será inundada pela represa de Belo Monte e ela reclama outra ilha ou uma área ribeirinha para reassentar o grupo. Foto: Mario Osava/IPS.

“Não há condições para a Licença de Operação”, a autorização final para que Belo Monte possa encher suas represas e começar a gerar eletricidade no começo de 2016, concluiu o não governamental Instituto Socioambiental (ISA) em um informe divulgado no dia 29 de junho. Estão pendentes ou incompletas muitas das 40 exigências iniciais, definidas antes do leilão da concessão em 2010, e também das 31 “condições” do componente indígena, argumenta o ISA, muito ativo na bacia do Xingu.

A proteção dos territórios indígenas é uma dessas falhas, refletida no aumento da extração ilegal de madeira e invasão de caçadores, afirmou o ISA. A Norte Energia alega ter investido o equivalente a US$ 68 milhões em beneficio dos cerca de três mil habitantes das 34 aldeias nas 11 terras indígenas sob influência de Belo Monte. A construção de 711 moradias e a doação de 366 embarcações, 578 motores náuticos, 42 veículos terrestres, 98 geradores elétricos e 2,1 milhões de litros de combustíveis e lubrificantes, até abril de 2015, são parte do programa.

Além disso, foram distribuídas oito mil cartilhas e capacitados professores dentro do programa de Educação Escolar Indígena, segundo os órgãos estatais do setor. “Mas os indígenas estão insatisfeitos, porque pouco do plano foi executado. Das 34 Unidades Básicas de Saúde prometidas, nenhuma está em funcionamento”, queixou-se Francisco Brasil de Moraes, coordenador encarregado no Meio Xingu da Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão estatal de apoio à população originária.

Tampouco avança o projeto de atividades produtivas, uma prioridade por se tratar da segurança alimentar e fonte de renda, pontuou Moraes. Falta assistência técnica para melhorar a agricultura e poucas das 34 “casas de farinha” comunitárias, para moer e torrar a mandioca, estão em operação. 

Outra medida indispensável, o Plano de Proteção das Terras Indígenas, que prevê a instalação de bases operacionais e postos de vigilância, não é assumida pela Norte Energia e a “Funai não tem recursos para essa gestão territorial”, ressaltou ao Terramérica.

Mas as ações que justificam a acusação de etnocídio ocorreram ou começaram antes desses projetos em andamento, embora com atrasos, que compõem o chamado Plano Básico Ambiental-Componente Indígena.

Durante 24 meses, até setembro de 2012, a Norte Energia executou o Plano de Emergência, com doações de bens exigidos pelas 34 aldeias, com custo mensal equivalente a US$ 9,6 mil para cada uma. Isso exacerbou o consumo de alimentos industrializados, como refrigerantes, que afetaram a saúde, aumentando a desnutrição infantil, e a segurança alimentar dos indígenas ao induzir o abandono da agricultura, da pesca e da caça, segundo o ISA.

“A Norte Energia estabeleceu com os indígenas uma relação de cooptação dos únicos opositores de forte expressão, fazendo com que seus líderes viessem frequentemente à cidade (Altamira) para pedir mais coisas na sede da empresa”, disse ao Terramérica o coordenador-adjunto do ISA no Xingu, Marcelo Salazar. Divisão das aldeias e deslegitimação de seus líderes foram outros efeitos das ações da empresa, segundo o MPF.

“O Plano de Emergência foi proposto pela Funai”, que também fixou a quantia de R$ 30 mil para os “investimentos mensais”, informou a Norte Energia ao Terramérica, em uma resposta escrita de seu departamento de imprensa. Destinava-se à “promoção do etnodesenvolvimento” que também incluiu doação de insumos e equipamentos agrícolas, construção de pistas de pouso e melhorias em 470 quilômetros de estrada de acesso às aldeias, acrescentou a empresa. Fortalecer a Funai, contratando 23 funcionários pagos pela Norte Energia e a compra de computadores e veículos foi outro objetivo do Plano de Emergência, informou a companhia.
Montagem da sala de turbinas da hidrelétrica de Belo Monte, no Estado do Pará, uma megaobra que já tem 80% de suas estruturas construídas e estará finalizada em 2019. Foto: Mario Osava/IPS.

Segundo os críticos, a ênfase em fatores materiais, como embarcações, veículos e obras físicas, seguem uma lógica empresarial paralela, inconciliável com a visão de seus críticos, afirmou Sonia Magalhães, socióloga e professora da Universidade Federal do Pará que também identifica um etnocídio em Belo Monte. “Ali se observa uma agressão à cultura, uma prática colonizadora que tem por objetivo a dominação e a destruição da cultura, que é um todo complexo e dinâmico”, opinou ao Terramérica em relação ao plano.

“Para os indígenas juruna e arara, o rio Xingu tem um sentido cosmológico que nós não somos capazes de entender. Trata-se de uma referência do tempo, do espaço e do sagrado que está sendo agredida pela construção da hidrelétrica, acrescentou Magalhães.

Indiferente a esse debate, Giliard Juruna, líder indígena de uma aldeia de 16 famílias, visita Altamira, o centro urbano em torno de Belo Monte, com novos pedidos. “Conquistamos ‘voadoras’ (lanchas com motor rápido), uma caminhonete e 15 moradias para todos, mas as coisas acabam e é pouco em comparação com o que é possível”, afirmou ao Terramérica.

“Pedimos voadoras também para a pesca, embora a água esteja suja, não temos saneamento, temos escola mas faltam professores bilíngues, disse Juruna, acrescentando que busca “um projeto de sustentabilidade” que envolva piscicultura, cacau, mandioca, com casa da farinha e caminhão. “Temos a quem vender nossos produtos, mas não o meio de transporte, pois o barco já não serve”, acrescentou. O desvio parcial das águas do Xingu para gerar eletricidade em Belo Monte reduzirá o fluxo na Volta Grande, onde fica sua aldeia.

* O autor é correspondente da IPS


Fonte: ENVOLVERDE