ONU
celebra assistência humanitária.
Por Thalif Deen, da IPS –
Homem dentro do acampamento 27 de Fevereiro, de
refugiados saharauis, perto de Tindouf, na Argélia, em 24 de junho de 2010.
Foto: Martine Perret/ONU.
Nações Unidas, 20/8/2015 – A Organização das
Nações Unidas (ONU) celebrou, no dia 19, o Dia Mundial da Assistência
Humanitária, com o início da divulgação de “inspiradoras” histórias de
sobrevivência, embora descreva a atual crise de refugiados como a pior em quase
um quarto de século. A previsão é que esta campanha, que acontece
principalmente por meio do Facebook, Twitter e Instagram, inunde as redes
sociais com relatos de resiliência e esperança de todo o mundo. Também será
realizado um concerto em Nova York.
“É verdade que nunca houve maior necessidade de
ajuda humanitária desde que a ONU foi fundada”, afirmou seu porta-voz, Stephane
Dujarric. “E a cada dia falo sobre pessoas e uso números, e os números são
esmagadores: dez mil, 50 mil”, lamentou.
Mais de quatro milhões de sírios estão refugiados
atualmente em países vizinhos, como Turquia, Iraque e Líbano, sem contar as
centenas que morrem a cada semana em pleno mar tentando chegar à Europa para
fugir dos horrores de sua guerra. Além disso, pelo menos outros 7,6 milhões de
pessoas – todas necessitadas de ajuda humanitária – são refugiados dentro da
Síria e mais de 220 mil morreram no conflito militar que está em seu quinto ano.
“Com quase 60 milhões de refugiados pela força em
todo o mundo, enfrentamos uma crise em uma escalada nunca vista em várias
gerações”, pontuou o coordenador de Alívio de Emergência da ONU, Stephen
O’Brien. Este, no começo de agosto, decidiu liberar cerca de US$ 70 milhões de
uma reserva da ONU chamada Fundo Central para a Ação em Casos de Emergência
(Cerf), que se dedica principalmente às operações de assistência que sofrem
subfinanciamento crônico.
Além de Síria, Afeganistão e Iêmen, a crise
humanitária também tem forte impacto no Sudão, Sudão do Sul, países do Chifre
da África, Chade, República Centro-Africana, Birmânia e Bangladesh, entre
outros países.
Noah Gottschalk, alto assessor para a resposta
humanitária da organização Oxfam Internacional, ressaltou à IPS que o sistema
humanitário mundial, criado há décadas, salvou incontáveis vidas, mas agora
está “sobrecarregado e subfinanciado”, e isto justamente quando se projeta que
os perigos naturais aumentarão em frequência e severidade, enquanto o mundo deve
responder a crises tão prolongadas como o conflito na Síria. “Alguns doadores
são muito generosos e seu apoio é crucial e muito valorizado, mas simplesmente
não basta para atender às crescentes necessidades”, acrescentou.
A ONU e o sistema humanitário mais amplo têm que
ser reformados para serem mais eficientes e responderem melhor às necessidades,
apoiando os líderes e as capacidades locais, financiando programas que ajudem
as comunidades a reduzirem o impacto dos desastres antes que ocorram emergências.
Enquanto isso, a campanha #ShareHumanity,
atualmente em curso, espera criar impulso para a primeira Cúpula Humanitária
Mundial da história, programada para maio do próximo ano em Istambul, na
Turquia. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos
Humanitários (Ocha), a campanha do Dia Mundial de Assistência Humanitária
reflete um mundo em que as necessidades humanitárias superam de longe a
capacidade da comunidade da assistência de ajudar os milhares de afetados por
desastres naturais, conflitos, fome ou doenças.
Gottschalk pontuou à IPS que esta data é uma
oportunidade importante para se parar e homenagear as mulheres e os homens
valentes que trabalham incansavelmente em todo o mundo, a cada dia, para salvar
vidas em circunstâncias incrivelmente difíceis. Frequentemente os socorristas
locais são os primeiros a responder quando ocorre uma crise, acrescentou, e
raramente lhes é dado o reconhecimento e o apoio que merecem por liderar as
respostas em seus próprios países.
A Oxfam vem dando forte impulso às contribuições
obrigatórias dos Estados membros da ONU para financiar respostas humanitárias
que, segundo afirma, proporcionarão uma corrente de financiamento mais
consistente e forte. Mais desse financiamento deveria fluir diretamente para o
nível local, e ser usado de modo transparente, para que os doadores possam
rastrear o impacto e as comunidades possam fazer um acompanhamento da ajuda,
forçando seus líderes a prestarem contas, destaca.
Segundo Gottschalk, milhões de pessoas em todo o
mundo dependem do sistema humanitário global, e esta quantidade não é maior
graças àqueles que, com sua empatia e seu compromisso, se esforçam para fazer
funcionar o sistema, apesar da redução dos recursos e do aumento da
necessidade. Essas reformas tornarão mais efetivo o sistema e equiparão melhor
esses socorristas dedicados a salvar vidas e aliviar o sofrimento, acrescentou.
Os conflitos militares em curso também cobraram
vidas de centenas de trabalhadores da saúde, afirmou a Organização Mundial da
Saúde (OMS) em Genebra, na Suíça. Só no ano passado, a entidade disse ter
recebido informes de 372 ataques contra trabalhadores da saúde em 32 países,
deixando 603 mortos e 958 feridos, sendo que este ano foram registrados
incidentes semelhantes.
“A OMS está comprometida em salvar vidas e
reduzir o sofrimento em tempos de crise. Os ataques contra trabalhadores e
centros de saúde são violações flagrantes do direito humanitário
internacional”, enfatizou Margaret Chan, diretora geral da entidade, em
comunicado divulgado pelo Dia Mundial da Assistência Humanitária. Segundo Chan,
os trabalhadores da saúde têm a obrigação de tratar dos doentes e feridos sem
nenhuma discriminação. “Todas as partes do conflito devem respeitar essa
obrigação”, ressaltou.
Fonte: ENVOLVERDE
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