Conseguir
a segurança alimentar para todos.
Paula Durán, diretora do Fundo de Desenvolvimento
Sustentável. Foto: Cortesia.
Por Paula Durán*
Nações Unidas, 14/9/2015 – Após o entusiasmo da
última Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, as
questões centrais e os muitos níveis do que está em jogo estão claros. De fato,
um assunto complexo como a fome, que é uma prioridade permanente em matéria de
desenvolvimento, continua sendo motivo de luta diária para quase 795 milhões de
pessoas no mundo.
Embora esse número signifique 216 milhões de pessoas
a menos do que no período 1990-1992, segundo dados da Organização das Nações
Unidas (ONU), a fome mata todos os dias mais gente do que a malária, a aids e a
tuberculose juntas.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação
e a Agricultura (FAO) define a fome como desnutrição crônica e a mede pela
média nacional de calorias a que cada pessoa tem acesso diariamente, bem como a
prevalência de menores de cinco anos com baixo peso.
Em que lugar estamos se a segurança alimentar e a
nutrição estão destinadas a ser um componente fundamental da erradicação da
pobreza e do desenvolvimento sustentável.
De fato, a alimentação é um direito humano básico e
vinculado ao segundo dos próximos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), que incluem a meta de erradicar a fome e conseguir a segurança
alimentar, bem como melhorar a nutrição e promover a agricultura orgânica, até
2030.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud) promove práticas agrícolas sustentáveis para melhorar a vida de milhões
de agricultores, por meio do Programa de Produtos Básicos Verdes.
Segundo o Programa Mundial de Alimentos, o mundo
necessita de um sistema de alimentação que cubra as necessidades dos 2,5
bilhões de pessoas a mais que povoarão a terra até 2050.
Erradicar a fome e a extrema pobreza exigirá outros
US$ 267 bilhões anuais nos próximos 15 anos. Nesse contexto preocupante, uma
dúvida surge: como conseguiremos isso?
Olhando para o futuro, o objetivo requer muito mais
do que palavras. São necessárias ações coletivas, inclusive esforços para
duplicar a produção de alimentos em escala global, reduzir o desperdício e
experimentar alternativas alimentares. No contexto da missão do Fundo de
Desenvolvimento Sustentável, trabalho para entender como atender melhor esse
assunto multifacetário.
Consciente de que não existe uma fórmula única para
todos de melhorar a segurança alimentar, o Fundo coordena com vários atores
públicos e privados, bem como com agências da ONU, a implantação de
programas-piloto inovadores no terreno.
Por exemplo, a instituição trabalha para atender a
segurança alimentar e a nutrição na Bolívia e em El Salvador, onde camponeses
se beneficiam de nosso trabalho para fortalecer sistemas de produção agrícola
locais.
Além disso, envolvemos mulheres e pequenos agricultores
como parte de nosso esforço transversal para desenhar uma resposta mais
integrada aos desafios do desenvolvimento. Reconhecemos que vários fatores
também devem desempenhar um papel crítico para alcançar a meta de redução da
fome, a saber:
– produtividade agrícola melhorada, que ajuda a
melhorar a segurança alimentar, especialmente pequenos produtores e familiares;
– crescimento econômico inclusivo, que gera avanços
importantes na redução da fome e da pobreza;
– expansão da proteção social, que ajuda
diretamente na redução da fome e da má nutrição.
Na luta contra a fome, precisamos criar sistemas de
alimentação que ofereçam melhores resultados nutricionais e que sejam
fundamentalmente mais sustentáveis, isto é, que exijam menos terras e que sejam
mais resilientes à mudança climática.
Os desafios são quase tão grandes quanto a
crescente população, que necessitará de 70% mais alimentos para cobrir a
mudança estimada na demanda e nas dietas.
Sempre e desde que deixemos de desperdiçar um terço
do que produzimos, teremos que reavaliar a produção agrícola e de alimentos em
termos da cadeia de fornecimento e tentar melhorar a qualidade e os aspectos
nutritivos de toda a cadeia de valor.
A segurança alimentar e a nutrição devem ser um
motivo de preocupação de todos, especialmente se pretendemos erradicar a fome e
combater a insegurança alimentar em todas suas dimensões. Alimentar a crescente
população mundial deve, portanto, ser um esforço conjunto e que dificilmente
será alcançado apenas pelos governos e pelas organizações internacionais.
Nas palavras de José Graziano da Silva,
diretor-geral da FAO, “ter quase conseguido o ODM da fome nos mostra que
podemos eliminar esse flagelo de nossa vida. Devemos ser a geração Fome Zero.
Esse objetivo deve ser introduzido em todas as intervenções políticas e deve
ser o eixo da nova agenda de desenvolvimento sustentável que será aprovada este
ano”.
* Paula Durán é diretora do Fundo de
Desenvolvimento Sustentável do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud).
Fonte: ENVOLVERDE
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