Jovens:
agentes do mundo.
As inovações mais importantes começam não com uma
solução – como uma nova tecnologia – mas com uma necessidade, por exemplo, como
preparar melhor os jovens para o provável futuro do mundo do trabalho e da
vida. Foto: Shuttersotck.
Por Fernanda Nogueira, do Porvir –
Em entrevista ao Porvir, Geoff Mulgan, CEO da
Nesta, traça um panorama sobre inovações educacionais e fala da importância da
tecnologia.
Palestrante da terceira edição Transformar, evento
referência em inovação em educação no Brasil, o executivo-chefe da organização
do Reino Unido Nesta (National Endowment for Science Technology and the Arts),
Geoff Mulgan, é enfático ao recomendar ao Brasil e a todos os sistemas de
educação do mundo o investimento na preparação dos jovens para a ação. “A maior
prioridade é preparar os jovens para serem agentes do mundo, não apenas
passivos observadores e consumidores. É disso que a economia vai precisar mais
no futuro”, afirma.
Além de comandar a Nesta, organização que combina
investimentos em empresas em estágio inicial, em projetos de áreas como saúde,
educação e artes, e em pesquisa, Geoff preside a Studio Schools Trust, rede de
escolas que mescla aulas expositivas com aprendizagem baseada em projetos e
coaching. É ainda conselheiro de governos ao redor do mundo, membro de
organizações ligadas ao trabalho e à inovação, professor visitante na London
School of Economics and Political Science (LSE), na University College London
(UCL) e na Universidade de Melbourne e professor regular na China Executive
Leadership Academy.
Entre 2004 e 2011, Geoff foi o primeiro
executivo-chefe da organização The Young Foundation, que se tornou um centro
líder para a inovação social, combinando pesquisa, criação e novas empresas com
projetos práticos. Entre 1997 e 2004, trabalhou para o governo do Reino Unido
em cargos como diretor da unidade de estratégia do governo e chefe de políticas
no gabinete do primeiro-ministro. Antes disso, fundou e dirigiu a organização
Demos, que promove debates políticos com o objetivo de aproximar o tema das
pessoas. Geoff foi ainda conselheiro do ex-primeiro-ministro britânico Gordon
Brown, deu aulas de telecomunicações, atuou como executivo de investimentos e
foi repórter de TV e rádio na BBC.
Em entrevista ao Porvir, Mulgan traça um panorama
sobre o momento das inovações educacionais, explica a importância da tecnologia
para o desenvolvimento da criatividade, da inclusão social e do
empreendedorismo, conta quais são os investimentos da Nesta em educação e faz
recomendações ao Brasil. Confira:
Porvir – Poderia falar um pouco sobre o panorama
das inovações educacionais ao redor do mundo, que será o tema de sua
apresentação no Transformar 2015?
Geoff Mulgan – Há uma quantidade extraordinária de inovações
acontecendo na educação ao redor do mundo. Algumas inovações estão usando a
tecnologia de formas criativas, como novas ferramentas para adaptar a
aprendizagem às habilidades do aluno, ou fornecendo feedback detalhado.
Exemplos vão desde os milhões de jovens que usam os mini-computadores Raspberry
Pi para aprender a codificar, os MOOCs, como Khan Academy, que está levando a
aprendizagem à distância a um novo nível, e ficando cada vez mais acessível.
Outros são bem pouco tecnológicos, como o Pratham, na Índia, ou o BRAC, em
Bangladesh e no leste da África. Outros ainda estão linkando a aprendizagem à mídia,
como a Soul City, na África do Sul. No entanto, a educação como um todo ainda é
pobre na capacidade de avaliar quais inovações funcionam e por que, e quais
merecem ser espalhadas. Esta será a prioridade máxima nos próximos anos.
Sistemas de educação precisam colocar muito mais
ênfase nestas habilidades não cognitivas: como imaginar, criar, trabalhar com
os outros e resolver problemas
Eu também acredito que as inovações mais importantes começam não com uma solução – como uma nova tecnologia – mas com uma necessidade, por exemplo, como preparar melhor os jovens para o provável futuro do mundo do trabalho e da vida. Um bom exemplo é o modelo da Studio School, que coloca projetos práticos no coração do currículo. Adolescentes trabalham em equipe e com empreendedores para resolver problemas, aprendendo ciência e matemática, mas também aprendendo como colaborar e como serem criativos.
Porvir – Por que a tecnologia digital é um fator
essencial para a expressão criativa, a inclusão social e a criação de negócios?
Mulgan – Tecnologias digitais mudam cada aspecto da
aprendizagem, desde o ensino à avaliação, mas a educação tecnológica tem sido
muito irregular em seu impacto. Reivindicações excessivas foram feitas no
passado – por exemplo dar um laptop a cada criança – e muito dinheiro foi
desperdiçado. Repetidas vezes nós aprendemos que você tem que combinar
tecnologias com novas formas de organizar a educação, e com professores
confiantes, para conseguir os melhores resultados. E globalmente a educação
tecnológica tem sido mais forte na promoção do que na evidência. Este é o
motivo pelo qual nós defendemos e estabelecemos novas instituições para avaliar
o que funciona e ajudar professores a saber quais métodos eles devem copiar, e
quais tecnologias eles devem adotar.
Porvir – Poderia dar alguns exemplos de
investimentos da Nesta na educação?
Mulgan – Recentes exemplos incluem investimentos na
aprendizagem adaptativa (Cogbooks), em avaliações digitais (Digital Assess) e
em novas formas de ajudar jovens a conquistar estágios (Getmyfirstjob). Uma
grande prioridade para nós nos últimos anos tem sido dar aos jovens mais
oportunidades para aprenderem como serem ‘makers’ digitais – codificando,
programando, criando websites, o que neste ano é a prioridade máxima para a BBC.
Nós também estamos fazendo experimentos práticos – por exemplo para descobrir
como tirar o melhor proveito de novos métodos, como a sala de aula invertida
(flipped learning), em que as crianças aprendem principalmente online em casa,
e usam o dia na escola para focar na aprendizagem da solução de problemas e de
habilidades sociais; ou novos métodos de coaching e de treinamento de
professores. Os melhores métodos usam tecnologias onipresentes e baratas –
smartphones, por exemplo – mas tomando cuidado para pensar sobre como eles vão
se encaixar no sistema de educação mais amplo.
Porvir – Que recomendações daria para o
desenvolvimento da educação inovadora no Brasil?
Mulgan – Defendo uma ênfase idêntica na experimentação
criativa e na evidência concreta. Mas a mais importante prioridade de todas é
preparar os jovens para serem agentes do mundo, não apenas passivos
observadores e consumidores. É disso que a economia vai precisar mais no
futuro. Estima-se que quase metade de todos os empregos nos Estados Unidos serão
substituídos por processos automatizados nos próximos 20 anos. Aqueles que
permanecerão serão aqueles que envolvem criatividade, inteligência social e, em
alguns casos, destreza. Eu acredito que sistemas de educação precisam colocar
muito mais ênfase nestas habilidades não cognitivas: como imaginar, criar,
trabalhar com os outros e resolver problemas.
Fonte: Porvir
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