Muito a
ser feito após negociações climáticas.
Nos telões do plenário da sessão de negociações
climáticas de Bonn, a imagem do copresidente do ADP, o argelino Ahmed Djoghlaf,
durante o encerramento do encontro. Foto: Cortesia IISD
O avanço tão lento das negociações deixa os
assuntos mais importantes para o final, como o financiamento ou os mecanismos
para incrementar a ambição climática. Que tipo de acordo vamos conseguir em
Paris?
Por Anna Pérez Català*
Bonn, Alemanha, 8/9/2015 – Há muito trabalho por
fazer após o muito lento avanço registrado na última semana de negociações
realizadas em Bonn, a fim de se chegar a um texto do novo tratado universal
para reduzir o aquecimento global, que deve ser aprovado em dezembro na cúpula
climática de Paris.
As negociações dos 195 países da 21ª Conferência
das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança
Climática (CMNUCC) acordaram dar um novo mandato aos copresidentes, para que
apresentem um rascunho do texto definitivo na próxima sessão negociadora, que
voltará a acontecer nesta cidade alemã, entre os dias 19 e 23 de outubro.
“Espero que sejamos capazes de fazer isso da
próxima vez, é algo que representará realmente uma base melhor para que as
partes avancem, ver os problemas e negociar sobre a substância em detalhe e com
opções”, disse o argelino Ahmed Djoghlaf, um dos copresidentes, ao reconhecer a
lentidão das negociações.
Após a reunião do Grupo de Trabalho Especial sobre
a Plataforma de Durban para uma Ação Reforçada (ADP), desenvolvida entre 31 de
agosto e 4 deste mês, em Bonn, só restam outros cinco dias de negociação em
outubro, antes da crucial COP 21. O ADP é o órgão de negociação encarregado de
preparar o acordo, e deverá apresentar em sua próxima sessão o texto que será
debatido na capital francesa a partir de 30 de novembro, para que, em seu encerramento,
no dia 11 de dezembro, fique aprovado um novo tratado universal obrigatório
sobre redução de emissões de gases-estufa.
Entretanto, as negociações ainda avançam muito
devagar. No dia 2 deste mês, os países pediram uma reunião de avaliação à
presidência da CMNUCC, expressando sua preocupação pelo lento avanço do
processo. Os facilitadores das negociações mantêm um clima positivo, mas isso
não modificou significativamente o texto, e simplesmente foram colhidas ideias
e sensações sobre os diferentes temas tratados no futuro acordo, que entrará em
vigor em 2020 e substituirá o já vencido Protocolo de Kyoto.
É por isto que os países pediram à presidência do
ADP para trabalhar desde já sobre algo mais preciso e começar a compor o
rascunho de um texto final de negociação. O texto usado até a sessão de
negociações, encerrada no dia 4, não tinha nenhuma validade legal, era
considerado apenas uma “ferramenta de trabalho”. Agora será substituído por um
“non-paper”, a fórmula usada na Organização das Nações Unidas (ONU) para
preparar um rascunho de acordo. Este novo documento será apresentado em 1º de
outubro e será discutido na próxima sessão do ADP.
Segundo a secretária-executiva da CMNUCC, a
costarriquenha Christiana Figueres, o novo texto apresentará “uma mudança de
ritmo” nas negociações, acelerando o processo. Porém, esta proposta de gerar um
novo texto preocupa a sociedade civil presente nas negociações.
“O relógio não para, os negociadores não podem
simplesmente sentar e esperar até outubro. Precisam encontrar compromissos
sobre as questões pendentes entre agora e o começo da próxima sessão”, advertiu
Jasper Inventor, do Greenpeace. “Precisamos melhor entendimento mútuo do que
atualmente temos, para estarmos prontos para construir um acordo conjunto em
Paris, que ofereça as medidas necessárias para um futuro climático seguro”,
afirmou à IPS.
O avanço tão lento das negociações deixa os
assuntos mais importantes para o final, como o financiamento ou os mecanismos
para incrementar a ambição climática. Isso pode fazer com que o acordo de Paris
apenas inclua “o mínimo denominador comum”, fechando um tratado que não vá além
de conseguir que a temperatura do planeta aumente acima dos dois graus
centígrados considerados seguros.
“Começa a ficar muito claro que vamos chegar a um
acordo em Paris. A pergunta agora é que tipo de acordo vamos conseguir, se
será, ou não, um bom acordo”, pontuou Mohamed Adow, da Christian Aid. Neste
momento, “os compromissos dos países não vão nos manter abaixo dos dois graus,
e muito menos abaixo de 1,5 grau”, destacou.
Segundo Adow, um bom acordo deveria criar um
contexto para que os países aumentem continuamente sua ambição, proteger os
mais vulneráveis e evitar uma mudança climática catastrófica. “Isso significa
que o acordo tem que proporcionar apoio aos países pobres para se adaptarem e
desenvolver uma tendência de redução de emissões”, afirmou.
Precisamente para criar sinergias e trabalhar para
um novo texto, os delegados dos países têm uma cadeia de reuniões e encontros
antes da COP em Paris. Nos dias 6 e 7, a Presidência francesa da COP 21 reuniu
em uma sessão fechada ministros de diferentes países para tratar alguns dos
temas mais complexos das negociações, com a ideia de forjar novos compromissos.
A mudança climática também será central na
Assembleia Geral da ONU, que acontecerá entre os dias 12 e 27 deste mês, em
Nova York.
* Anna Pérez Català é especialista em
ambiente e mudança climática.
Fonte: ENVOLVERDE
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