Indígenas
querem visibilidade nos ODS.
Chefe tribal Wilton Littlechild, assessor da
secretaria do Fórum Permanente para as Questões Indígenas da ONU. Foto: Amanda
Voisard/ONU.
Por Aruna Dutt, da IPS –
Nações Unidas, 10/8/2015 – Por ocasião do Dia
Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no dia 9, aumentam as preocupações
de que estes não se beneficiem plenamente dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), que governantes de todo o mundo aprovarão em uma cúpula
mundial em setembro. Em uma conferência política sobre os ODS e a Agenda de Desenvolvimento
Pós-2015, o principal grupo de povos indígenas recordou que já nos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM) não foi reconhecido com sua identidade e
características específicas.
Os oito ODM, aprovados na cúpula mundial de 2000 na
sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, serão substituídos
pelos 17 ODS no final deste ano.
Para os povos indígenas, o fato de não serem
levados em conta de maneira diferenciada em temas como a erradicação da pobreza
extrema, teve como consequência os resultados limitados dos ODM. Estes foram
implantados sem considerar os aspectos culturais, gerando “inadequados
programas de desenvolvimento para os povos indígenas, incluídas ações
discriminatórias relativas a educação, saúde e serviços básicos”, destacaram.
“Todo projeto que não inclua a participação dos
povos indígenas torna invisíveis suas necessidades”, disse Sandra del Pino,
assessora regional para as Américas sobre Diversidade Cultural, da Organização
Mundial da Saúde. “A falta de diálogo com os povos indígenas e de sua
participação em qualquer processo constitui a principal barreira”, afirmou em
entrevista à IPS.
Estima-se que existam 370 milhões de integrantes de
povos originários vivendo em mais de 70 países, que integram as populações mais
marginalizadas do mundo, segundo a OMS. Divulgar a necessidade de maior
participação e inclusão das comunidades indígenas e suas perspectivas é um dos
principais objetivos do Dia Internacional dos Povos Indígenas.
A situação das comunidades aborígenes em matéria de
saúde difere de maneira significativa da de grupos não indígenas em todo o
mundo, por isso a saúde é o tema principal da comemoração deste ano. “Este Dia
Internacional se centra em analisar como os povos indígenas têm acesso aos
serviços de saúde, quais são as causas da exclusão e como podemos contribuir
para reduzir as brechas existentes na saúde infantil e materna, na nutrição,
nas doenças transmissíveis, entre outros temas”, explicou Del Pino.
“As crianças nascidas em famílias indígenas frequentemente
vivem em áreas afastadas, onde os governos não investem em serviços sociais
básicos como atenção à saúde, educação de qualidade, justiça e participação, e
os indígenas correm particular risco de não serem registrados ao nascerem e
terem negados documentos de identidade”, acrescentou Del Pino.
O Preâmbulo da Constituição da OMS declara que “a
saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a
ausência de afecções ou enfermidades”. Semelhante postulado é o dos valores dos
sistemas de medicina tradicional das comunidades indígenas. Estimativas da OMS
indicam que pelo menos 80% da população nos países em desenvolvimento dependem
desses sistemas tradicionais como sua principal fonte de atenção à saúde.
De todas as barreiras que os povos originários
enfrentam, provavelmente sejam as culturais as que apresentam o desafio mais
complexo, pontuou Del Pino. “Isso se deve ao fato de haver escassa compreensão
dos fatores sociais e culturais que derivam do conhecimento, das atitudes e das
práticas na saúde” desses povos, acrescentou.
Roberto Mukaro Borrero, um líder indígena taíno e
representante do Conselho Internacional de Tratados Indígenas e da Confederação
Unida do Povo Taíno, disse à IPS que para gerar maior compreensão é preciso
insistir na criação de associações cooperativas e informadas entre os
curandeiros tradicionais, profissionais da saúde não tradicional, agências de
serviços de saúde, organizações e comunidades.
Essas associações deveriam reconhecer o claro
vínculo que há entre a pobreza que sofrem os povos originários e suas condições
de saúde, afirmou este líder dos taínos, habitantes ancestrais de diferentes
ilhas do Caribe insular, como Bahamas, Antilhas Maiores e Antilhas Menores.
“Os governos devem implantar os compromissos
assumidos com os povos indígenas em acordos internacionais, como a Declaração
das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e a Conferência Mundial
sobre os Povos Indígenas, entre outros”, ressaltou Borrero. “Esses acordos
foram criados para melhorar o bem-estar das comunidades aborígenes em todo o
mundo, mas a vontade política, incluída uma adequada destinação de recursos, é
um requisito para seu êxito”, apontou.
Muitas vezes, essas comunidades “estão mais
expostos a esses desastres por viverem nas áreas mais vulneráveis e isoladas”,
indicou Del Pino. Outro motivo que os coloca entre os mais afetados pela
mudança climática é sua estreita dependência do ambiente e de seus recursos,
acrescentou, lembrando que, por exemplo, na Amazônia o desmatamento e a
fragmentação florestal fazem com que seja liberado mais carbono na atmosfera, o
que potencializa as mudanças.
Como exemplo, Del Pino observou que “as secas de
2005 causaram incêndios na Amazônia ocidental. É provável que ocorra novamente,
pois as florestas tropicais são substituídas por savanas, o que tem um efeito
enorme sobre os meios de sustento dos povos indígenas da região”. É fundamental
que essas comunidades sejam levadas em conta na nova Agenda Pós-2015, para que
“ninguém fique para trás” no cumprimento dos ODS, concluiu.
Fonte: ENVOLVERDE
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