Lideranças
religiosas lançam declaração sobre clima.
Foto: Twitter/André Trigueiro
Por Redação do Observatório do Clima*
Documento será encaminhado à presidente Dilma
Rousseff, à ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira e ao papa Francisco.
Lideranças religiosas do Brasil e do exterior
acabam de lançar a Declaração e Compromisso Fé no Clima. O documento, assinado
por representantes de 12 religiões, sintetiza as percepções e aspirações comuns
a todos, as quais incluem o chamado para que a sociedade, por intermédio também
das suas comunidades religiosas, se envolva na discussão sobre as mudanças
climáticas, e uma agenda básica para que o governo assuma metas ambiciosas na
Conferência do Clima (COP 21), que ocorrerá em Paris em dezembro de 2015.
Na declaração, os religiosos demonstram preocupação
com populações mais vulneráveis e avaliam que o debate sobre mudanças
climáticas deve envolver as questões sociais, econômicas e ambientais. “O risco
que se corre com isso é o de que este importante desafio de lidar com a mudança
do clima se torne apenas mais uma ‘bandeira’, sem uma reflexão mais profunda
sobre seus impactos no aprofundamento das desigualdades e na geração de
disputas de política econômica global”, diz o texto.
O documento foi produzido por meio de debates em
que cada liderança expôs a interpretação de sua religião sobre a relação do
homem com a natureza. “Contrastando com o crescente número de notícias sobre
intolerância religiosa, o que se viu no trabalho de produção da Declaração e
Compromisso Fé no Clima foi que todas as religiões têm muito em comum”, destaca
Maria Rita Villela, coordenadora do ISER (Instituto de Estudos da Religião),
que promoveu esta iniciativa em parceria com o GIP (Gestão de Interesse
Público).
“As palavras e as abordagens podem ser diferentes,
mas todos os presentes mostraram como suas religiões reconhecem uma entidade
criadora da Natureza e a necessidade de respeitá-la enquanto objeto de criação
divina, portanto sagrada”, explica Maria Rita. “Todos também concordam que o
momento atual abre uma oportunidade para um salto de qualidade nas relações
humanas e com o planeta e que é urgente a busca pelo respeito à diversidade e
por maior justiça socioambiental”, completa.
O texto será encaminhado pelo ISER ao Papa
Francisco, como forma de retorno à encíclica Laudato Si – primeiro documento
oficial do Vaticano a tratar do meio ambiente e abordar a questão das mudanças
climáticas – ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, presidente do C-40,
que reúne líderes das grandes cidades do mundo para decidir e adotar medidas
contra as mudanças climáticas, e ao governador do Estado do Rio de Janeiro,
Luiz Fernando Pezão.
A declaração também será enviada para a presidente
Dilma Rousseff e para a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, que devem
definir nas próximas semanas as metas do Brasil para combater as alterações do
clima provocadas pela ação do homem. Essa definição faz parte do processo de
negociações conduzido pela ONU. “O Brasil, como um dos maiores emissores dos
gases que causam essas alterações no clima, mas também como um dos maiores
detentores de florestas e biodiversidade, tem um compromisso moral de assumir
uma posição de vanguarda, apresentando metas ambiciosas. É esta a mensagem que
as lideranças religiosas enviam ao nosso governo”, diz Maria Rita.
Na Declaração e Compromisso Fé no Clima, os líderes
religiosos pedem: 1) a redução substancial das emissões de gases com efeito de
estufa compatível com a necessidade de limitar o aumento da temperatura global
a 2 graus Celsius até 2100; 2) a preservação da biodiversidade em todos os
biomas; 3) o controle do desmatamento; 4) ações de adaptação em benefício das
populações mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas; 5) a garantia
de preservação de tradições culturais e modos de vida; 6) o combate à fome e à
indignidade, e 7) a adoção preferencial de fontes de energia renováveis e de
tecnologias limpas.
Participaram do encontro André Trigueiro (espírita
e jornalista), Ariovaldo Ramos (pastor evangélico), Mãe Beata de Yemanjá
(Iyalorixá do Ilê Omi Ojuarô), Dolores (Inkaruna) Ayay Chilón, professor de
Quechua, da tradição Andina, Mãe Flávia Pinto (umbandista), Rv. Fletcher Harper
(pastor episcopal norte americano), Pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J (Igreja
Católica), Kola Abimbola (Babalorixá Yorubá e acadêmico nigeriano), Léo
Yawabane (tradição indígena Huni Kuin, do Acre), Lama Padma Samten (monje
budista) e Timóteo Carriker (pastor presbiteriano).
Além do encaminhamento da Declaração e Compromisso
Fé no Clima para o governo brasileiro e o Vaticano, o projeto inclui um novo
debate no Encontro Anual Aldeia Sagrada, que será realizado de 1º a 3 de outubro
no Rio de Janeiro.
* Com informações do Iser.
Fonte: Observatório do Clima
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