quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Lideranças religiosas lançam declaração sobre clima.
Foto: Twitter/André Trigueiro

Por Redação do Observatório do Clima*

Documento será encaminhado à presidente Dilma Rousseff, à ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira e ao papa Francisco.

Lideranças religiosas do Brasil e do exterior acabam de lançar a Declaração e Compromisso Fé no Clima. O documento, assinado por representantes de 12 religiões, sintetiza as percepções e aspirações comuns a todos, as quais incluem o chamado para que a sociedade, por intermédio também das suas comunidades religiosas, se envolva na discussão sobre as mudanças climáticas, e uma agenda básica para que o governo assuma metas ambiciosas na Conferência do Clima (COP 21), que ocorrerá em Paris em dezembro de 2015.

Na declaração, os religiosos demonstram preocupação com populações mais vulneráveis e avaliam que o debate sobre mudanças climáticas deve envolver as questões sociais, econômicas e ambientais. “O risco que se corre com isso é o de que este importante desafio de lidar com a mudança do clima se torne apenas mais uma ‘bandeira’, sem uma reflexão mais profunda sobre seus impactos no aprofundamento das desigualdades e na geração de disputas de política econômica global”, diz o texto.

O documento foi produzido por meio de debates em que cada liderança expôs a interpretação de sua religião sobre a relação do homem com a natureza. “Contrastando com o crescente número de notícias sobre intolerância religiosa, o que se viu no trabalho de produção da Declaração e Compromisso Fé no Clima foi que todas as religiões têm muito em comum”, destaca Maria Rita Villela, coordenadora do ISER (Instituto de Estudos da Religião), que promoveu esta iniciativa em parceria com o GIP (Gestão de Interesse Público).

“As palavras e as abordagens podem ser diferentes, mas todos os presentes mostraram como suas religiões reconhecem uma entidade criadora da Natureza e a necessidade de respeitá-la enquanto objeto de criação divina, portanto sagrada”, explica Maria Rita. “Todos também concordam que o momento atual abre uma oportunidade para um salto de qualidade nas relações humanas e com o planeta e que é urgente a busca pelo respeito à diversidade e por maior justiça socioambiental”, completa.

O texto será encaminhado pelo ISER ao Papa Francisco, como forma de retorno à encíclica Laudato Si – primeiro documento oficial do Vaticano a tratar do meio ambiente e abordar a questão das mudanças climáticas – ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, presidente do C-40, que reúne líderes das grandes cidades do mundo para decidir e adotar medidas contra as mudanças climáticas, e ao governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão.

A declaração também será enviada para a presidente Dilma Rousseff e para a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, que devem definir nas próximas semanas as metas do Brasil para combater as alterações do clima provocadas pela ação do homem. Essa definição faz parte do processo de negociações conduzido pela ONU. “O Brasil, como um dos maiores emissores dos gases que causam essas alterações no clima, mas também como um dos maiores detentores de florestas e biodiversidade, tem um compromisso moral de assumir uma posição de vanguarda, apresentando metas ambiciosas. É esta a mensagem que as lideranças religiosas enviam ao nosso governo”, diz Maria Rita.

Na Declaração e Compromisso Fé no Clima, os líderes religiosos pedem: 1) a redução substancial das emissões de gases com efeito de estufa compatível com a necessidade de limitar o aumento da temperatura global a 2 graus Celsius até 2100; 2) a preservação da biodiversidade em todos os biomas; 3) o controle do desmatamento; 4) ações de adaptação em benefício das populações mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas; 5) a garantia de preservação de tradições culturais e modos de vida; 6) o combate à fome e à indignidade, e 7) a adoção preferencial de fontes de energia renováveis e de tecnologias limpas.

Participaram do encontro André Trigueiro (espírita e jornalista), Ariovaldo Ramos (pastor evangélico), Mãe Beata de Yemanjá (Iyalorixá do Ilê Omi Ojuarô), Dolores (Inkaruna) Ayay Chilón, professor de Quechua, da tradição Andina, Mãe Flávia Pinto (umbandista), Rv. Fletcher Harper (pastor episcopal norte americano), Pe. Josafá Carlos de Siqueira S.J (Igreja Católica), Kola Abimbola (Babalorixá Yorubá e acadêmico nigeriano), Léo Yawabane (tradição indígena Huni Kuin, do Acre), Lama Padma Samten (monje budista) e Timóteo Carriker (pastor presbiteriano).

Além do encaminhamento da Declaração e Compromisso Fé no Clima para o governo brasileiro e o Vaticano, o projeto inclui um novo debate no Encontro Anual Aldeia Sagrada, que será realizado de 1º a 3 de outubro no Rio de Janeiro.


* Com informações do Iser. 


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