Desmate
“a prestação” explode na Amazônia.
Área de desmate recente na Amazônia. Foto: Araquém
Alcântara/Imazon.
Por Claudio Angelo, do OC –
Degradação de florestas para atividade
agropecuária, que engana satélite, cresce 207% em um ano, diz Imazon; alertas
de corte raso sobem 63% e sugerem alta na taxa oficial, que sai no fim do ano.
O número de alertas de desmatamento na Amazônia
cresceu 63% em 2014 em comparação com o ano anterior. O dado foi divulgado nesta
quinta-feira (27) pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
Segundo o SAD, o sistema do Imazon que estima em
tempo real a velocidade da devastação, entre agosto de 2014 e julho de 2015 a
maior floresta tropical do mundo perdeu 3.322 quilômetros quadrados. Isso
equivalente a pouco mais de duas vezes a área da cidade de São Paulo. No
período entre agosto de 2013 e julho de 2014, a perda foi de 2.044 quilômetros
quadrados.
O que mais chama atenção nos dados, porém, é a
chamada degradação florestal – ou seja, as florestas que foram muito alteradas
mas que não sofreram corte raso naquele ano. Esse desmatamento “a prestação”,
que se converterá em corte raso no futuro, teve um aumento de 207% em 2014.
Alguns especialistas atribuem a maior degradação na
Amazônia a uma mudança no padrão da devastação: os desmatadores deixam algumas
árvores em pé para manter parte do dossel e plantam capim sob a copa das
árvores. Na prática, essas florestas estão tão empobrecidas que não preservam
mais a biodiversidade, nem retêm carbono.
“É o chamado engana-satélite”, afirma Adalberto
Veríssimo, pesquisador-sênior do Imazon. Como os pontos (pixels) de florestas
degradadas não aparecem nas imagens de satélite como corte raso, os
desmatadores usam esse recurso para driblar a vigilância do Ibama.
“A velha e conhecida grilagem de terras e a
expansão das atividades produtivas, em especial a pecuária, estão se adaptando
a essa nova situação de estarem submetidas a monitoramento contínuo”, diz
Valmir Ortega, consultor ambiental e ex-secretário do Meio Ambiente do Pará. “A
melhor forma de reduzir o risco de fiscalização e punição é mascarar esses
processos, mantendo uma cobertura florestal altamente empobrecida, mas que não
se caracteriza como desmatamento. A análise de dados de sensoriamento remoto
deveria ter um olhar mais acurado sobre isso”, prossegue.
Segundo Adalberto Veríssimo, a taxa de degradação
já viu melhores momentos na Amazônia, mas também já viu piores. Em 2014, porém,
a sinalização é preocupante, porque o número de alertas de desmatamento também
indica forte alta.
Lentes diferentes
O desmatamento na Amazônia é medido por diversos
satélites. Cada um deles olha a floresta de um jeito e conta a mesma história
de uma forma diferente.
A taxa oficial anual, aferida de agosto de um ano a
julho do ano seguinte, é dada pelo sistema Prodes, do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais). O Prodes usa imagens de satélites como o
sino-brasileiro CBERS e o americano Landsat, que têm alta resolução, mas
observam a floresta com menor frequência. O número é divulgado todo fim de ano
– quando indica queda, o governo faz questão de divulgá-lo durante as
conferências do clima da ONU.
O desmatamento em tempo (quase) real é medido pelos
sensores Modis, a bordo dos satélites americanos Terra e Aqua, que em
compensação são “míopes”: não enxergam desmatamentos pequenos. Suas imagens são
usadas em dois sistemas: o Deter, do Inpe, que alimenta a fiscalização do
Ibama, e o SAD, do Imazon.
Nenhum dos dois é usado para fazer cálculo de área
desmatada, mas ambos dão boas pistas sobre se a taxa oficial daquele ano será
maior ou menor.
Até recentemente, os pesquisadores do Imazon
conseguiam produzir estimativas razoáveis da taxa oficial usando o SAD. Isso
mudou no ano passado, quando o sistema de alerta da ONG apontou uma ligeira
alta na taxa e o Prodes mostrou uma queda de 15%.
Segundo Veríssimo, a discrepância provavelmente se
explica pela mudança no padrão de desmate: “O SAD era mais preciso no passado
porque havia grandes polígonos de desmatamento”, afirma. Agora, as derrubadas
estão mais pulverizadas pela região, em maior número, mas em menor área – mais
perto do limite de detecção do Modis.
“Desta vez acho muito pouco provável que o Prodes
dê um número que não vá para cima”, diz Veríssimo. O El Niño de 2015, se vier
com a força prometida, pode também elevar a taxa de 2015, ao secar a floresta e
aumentar o número de incêndios em matas já impactadas pela degradação.
Em 2014, Mato Grosso foi o Estado campeão em
alertas de desmatamento, com um aumento de 152% em relação ao ano anterior. O
Pará ficou em segundo lugar, apesar de uma queda de 14% na velocidade da
devastação. O maior aumento proporcional, de 165%, ocorreu em Rondônia,
terceiro Estado que mais desmatou. Na contramão de quase todos os outros
Estados, o Tocantins teve uma queda de 86% na taxa de desmatamento.
Fonte: Observatório do Clima
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