quinta-feira, 25 de junho de 2015

O misterioso caso da plantação de Ipê.
Caminhão de toras trafega a noite, quando a fiscalização é menos frequente. Foto: © Otávio Almeida / Greenpeace,

An investigation by Greenpeace used covert GPS locator beacons to monitor logging trucks. During the day, empty logging trucks travel deep into the rainforest and at night they travel from illegal logging camps to sawmills in Santarém. These sawmills regularly export timber to Europe, China and the United States.

Por Redação do Greenpeace Brasil – 

Greenpeace expõe mais um caso de fraude em plano de manejo da Amazônia para ‘lavar’ origem suja de madeira.

O ipê é uma das espécies mais valiosas da Amazônia. Normalmente, é possível encontrar 1 árvore de ipê a cada 3-5 hectares (ou 3-5 campos de futebol). No entanto, um plano de manejo do Pará apresentou um inventário florestal em que os ipês nascem aos borbotões, com um volume 1300% maior do que a média encontrada para a espécie!

A Agropecuária Santa Efigênia, situada no município de Uruará-PA, superestimou a presença de Ipê no inventário florestal da área com o objetivo de gerar créditos excedentes para esquentar madeira ilegal. Os créditos excedentes podem ser utilizados para legalizar madeira extraída, no caso Ipês, de áreas sem autorização, como terras indígenas e unidades de conservação, ou podem ser vendidos para as serrarias da região que utilizam esses créditos com a mesma finalidade. Nos dois casos, é crime ambiental previsto em lei.

Em 2014, uma autorização de exploração florestal (Autef) emitida pela Sema para a Santa Efigênia aprovou cerca de 12 mil metros cúbicos de ipê, o equivalente a cerca de 600 caminhões de madeira. De acordo com um parecer técnico da Universidade de São Paulo, que analisou o inventário do plano, o número de indivíduos de Ipê encontrados na área licenciada foi de 1,01 árvores por hectare, e, em relação ao volume, o valor foi de 5,75 m³/hectare. A literatura científica aponta, no entanto, que a densidade média de indivíduos desta espécie na Amazônia fica entre 0,2 e 0,4 árvores por hectare, e, em termos de volume por hectare, esse valor dificilmente supera 0,4 m, valores bem mais baixos do que o inventariado no plano.

“A exploração ilegal de madeira causa grave degradação da floresta e abre caminho para a destruição da biodiversidade e violência contra a população local. As florestas não podem mais ser destruídas se queremos reduzir as mudanças climáticas e garantir água para nosso futuro”, diz Marina Lacôrte, da campanha da Amazônia do Greenpeace.

Desde o ano passado, a campanha tem revelado fraudes como a do plano de manejo Santa Efigênia. Em outubro, uma investigação que contou com a utilização de rastreadores por GPS monitorou rotas de caminhões transportando madeira de áreas sem autorização até as serrarias de cidades do oeste do Pará, como Santarém, Uruará e Placas. Uma dessas serrarias que receberam a madeira ilegal foi a Comercial de Madeiras Odani Ltda, de Placas, no Pará, que recebeu parte dos créditos justamente do plano de manejo da Agropecuária Santa Efigênia.

A denúncia levou a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas-PA) a realizar uma fiscalização no plano de manejo que confirmou as irregularidades na área. Na ocasião, a equipe não apenas concluiu que houve fraude no inventário florestal – especialmente para o Ipê – como também recomendou a suspensão do plano e autuou a empresa.

A vistoria e as multas não impediram a Agropecuária Santa Efigênia de continuar movimentando os créditos excedentes, o que indica que madeira ilegal “lavada” com esses créditos entrou no mercado nacional e internacional: 99% do volume de ipê autorizado foi comercializado. Essa madeira foi destinada a diversas serrarias localizadas nos municípios de Uruará e Placas, onde o monitoramento por satélite mostra uma enorme quantidade de áreas degradadas no entorno. Inclusive, os alertas de degradação foram detectados na mesma época em que ocorreu a comercialização dos créditos: de junho a dezembro de 2014.

A Fazenda Santa Efigênia é cortada por uma estrada que adentra a Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca, do povo Arara. Boa parte da TI, inclusive os arredores dessa estrada, já sofreu e continua sofrendo inúmeras invasões por parte de madeireiros. Imagens de satélite registram nessas áreas um intenso processo de degradação típico desse tipo de exploração. Fotografias realizadas durante sobrevoo do Greenpeace em há poucas semanas confirmam a retirada de madeira de dentro do território indígena.

Mercado internacional

Os principais destinos internacionais da madeira amazônica são Estados Unidos, União Europeia (UE), China e Israel. Em 2013, só os países da UE importaram, em produtos de madeira tropical provenientes da Amazônia Brasileira, o equivalente a 148 milhões de dólares. A partir das denúncias feitas pelo Greenpeace desde o ano passado, diversas empresas europeias cancelaram contratos de importação com madeireiras brasileiras.

“A exploração predatória é o primeiro passo para o desmatamento total dessas áreas. Já passou da hora de dar um basta a essa situação para acabarmos de vez com o desmatamento”, afirma Marina Lacôrte, do Greenpeace. “O governo brasileiro precisa revisar urgentemente todos os planos de manejo aprovados desde 2006 para tirar de circulação créditos fraudados. Este é o primeiro passo para uma reforma robusta no sistema de controle de madeira”, completa.

Não podemos deixar que isso continue acontecendo. Você pode fazer muito mais para ajudar a acabar com a madeira ilegal de uma vez por todas, antes que essas fraudes destruam a floresta. Junte-se ao nosso time pelas florestas.

Veja aqui o site da campanha Chega de madeira ilegal.


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