A energia que vem do lixo.
Maquinário para o processamento de resíduos no
parque científico da Unicamp. Foto: Divulgação.
Tecnologia italiana chega ao Brasil por meio da
Unicamp e pode mudar o tratamento de resíduos industriais.
Por Felipe Rousseaux de Campos Mello
Hoje, 3% a 5% da matriz energética brasileira é
gerada pela incineração do bagaço da cana de açúcar. A inciativa, positiva,
poupa a energia gerada em hidrelétricas, por exemplo. A indústria, contudo,
queima também resíduos como o enxofre e o cloro, emissores de grande quantidade
de poluentes, como dioxinas e furanos, considerados cancerígenos.
Esse quadro pode começar a mudar com os frutos da
parceria fechada entre o Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e a empresa
brasileira Innova- Energias Renováveis. O convênio com a Universidade Estadual
de Campinas consiste na implementação de um laboratório de pesquisa, já em
funcionamento no parque científico, para o aprimoramento e a adequação da
tecnologia italiana à realidade brasileira.
O resultado pode mudar a forma de lidar com o
processamento de lixo urbano e a geração de energia elétrica.
Na Europa a tecnologia da Innova é conhecida como
RH2INO, foi desenvolvida Main Engineering Srl e trata-se de um processo oposto
ao da incineração. Ele decompõe os resíduos mais complicados sem utilizar
oxigênio, ou seja, sem queimá-los. Assim, não há emissão de poluentes. O
processo recebe o nome de pirólise lenta e é realizado em um tambor rotativo. O
gás obtido no reator passa por um sistema de limpeza e purificação afim de
remover resíduos nocivos, como o ácido clorídrico e sulfídrico, que porventura
tenham surgido durante o processo.
Ao final, resta um gás que, a temperatura ambiente,
é tão limpo quanto o gás natural. Deste produto, 70% vai para a geração de
energia elétrica e os 30% restantes são reutilizados no processo, para
reaproveitar mais material que seria incinerado. Outra utilidade importante do
processo criado pelos italianos é a geração de vapor, também este podendo ser
utilizado como um auxiliar na produção de energia térmica.
Além disso, o material sólido resultante do
processamento de determinados resíduos pode ser transformado em produtos de uso
agrícola (adubo) e industrial (carvão ativado).
Segundo o diretor da Innova, Fernando Reichert, 32
anos, formado em física na Unicamp e em engenharia de energia na Itália, o
Brasil está 30 anos atrasado –“as usinas europeias já utilizam este tipo de
tecnologia desde 1982”. E complementa: “O RH2INO é um gás muito flexível, limpo
e sustentável. Pode ser gerado a partir do tratamento de lixo urbano,
hospitalar e industrial, medicamentos vencidos e resíduos de couro, entre
outros”.
E o objetivo do trabalho do laboratório do Parque
Científico e Tecnológico é justamente trazer esta tecnologia para a realidade
da indústria nacional, ou seja, utilizar a parceria firmada para desenvolver
aplicações desta tecnologia visando a demanda brasileira.
O trabalho está apenas começando, e hoje nenhuma
indústria do País utiliza-se desse sistema de decomposição e tratamento de
resíduos. Para tentar resolver esta situação na prática, a Unicamp está
oferecendo a empresas como a Goodyear, a International Paper e a Ajinomoto uma
assessoria para a possibilidade de trabalhar com a Innova como uma alternativa
ao gás natural, este um combustível fóssil não renovável, de alto custo e
bastante utilizado pelas indústrias no Brasil.
Ainda há de se aguardar os primeiros resultados,
mas uma nova forma de tratar resíduos industriais no Brasil pode estar a
caminho.
Fonte: Carta Capital
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