O Brasil na Bioeconomia.
Por Maurício Antônio Lopes –
A sustentabilidade entrou de forma definitiva na
agenda da sociedade. Um exemplo significativo está na importância que a
“sustentabilidade corporativa” ganhou nos últimos anos. De conceito vago,
tornou-se um imperativo para o sucesso das empresas, que precisam, cada vez
mais, entregar valor e não apenas mercadorias para a sociedade. Sustentabilidade,
apesar de intangível, sem existência física, é hoje um valor essencial, que se
converte em ativo e vantagem competitiva no mundo dos negócios.
“Sustentabilidade corporativa” requer negócios
amparados em boas práticas de governança e benefícios sociais e ambientais,
influenciando ganhos econômicos, a competitividade e o sucesso das
organizações. O número de empresas que emitem relatórios de sustentabilidade
cresceu de menos de 30 no início dos anos 1990 para mais de 7.000 em 2014. Ao
operar assim, as empresas elevam a sua capacidade de competir em mercados cada
vez mais exigentes e desafiadores. E, de quebra, ampliam a sua perenidade, em
virtude do fortalecimento da marca, da reputação e da credibilidade.
O interesse pela sustentabilidade se fortalece na
medida em que a sociedade se dá conta dos limites do modelo de desenvolvimento
dependente de recursos não renováveis, no contexto de mudança paulatina dos
anseios da sociedade, da busca de segurança energética e de novas
possibilidades de produção. Como a população cresce em número e em capacidade
de consumo, também cresce o desejo de que a economia utilize mais recursos de
base biológica, recicláveis e renováveis, logo mais sustentáveis – e essa é a
base da bioeconomia.
O sofisticado embasamento técnico da
biotecnologia moderna já possibilita a criação de imensa gama de novos produtos
e processos, tais como energia renovável, alimentos funcionais e
biofortificados, biopolímeros, novos materiais, medicamentos e cosméticos. Isso
faz com que o Brasil tenha uma janela de oportunidade para participar de
maneira significativa desse desafio, garantindo espaço competitivo para
inovadores produtos e processos de base biológica, em segmentos vitais como a
agricultura, a saúde, e as indústrias química, de materiais e de energia.
A biodiversidade é matéria-prima essencial para o
futuro da bioindústria e o Brasil tem a maior diversidade biológica no planeta,
com muitos ativos de grande interesse para o comércio e a economia. Por meio da
bioeconomia surgem possibilidades concretas para a utilização sustentável dessa
biodiversidade, o que envolve desafios em diversos campos – biológico,
econômico, político e cultural – todos necessários para se compreender e
antever cenários plausíveis para o desenvolvimento dessa nova vertente
econômica.
Um passo fundamental para a construção de uma
estratégia nacional de inserção na bioeconomia foi a aprovação da Lei nº
13.123, de 20 de maio de 2015, que simplifica e regula o acesso ao patrimônio
genético do país e ao conhecimento tradicional associado, para fins de pesquisa
e desenvolvimento tecnológico. A Lei também orienta a repartição, com os
detentores desses recursos, dos benefícios decorrentes da exploração econômica
de produto ou material reprodutivo desenvolvido a partir desses acessos, sejam
eles plantas, animais ou microrganismos.
Outros passos precisarão ser dados em seguida,
como a definição de uma agenda estratégica, que aponte áreas prioritárias de
desenvolvimento bioindustrial de alto potencial de impacto, nas quais o Brasil
apresente maiores vantagens competitivas. Tal agenda permitirá ao país
direcionar investimentos e orientar a ampliação da sua base científica e
tecnológica, incluindo a modernização da infraestrutura de pesquisa e inovação
e estímulos ao empreendedorismo e à interação público-privada.
Com a bioeconomia podemos transformar e dinamizar
segmentos essenciais como a agricultura, que já posiciona o Brasil na vanguarda
da produção de alimentos, fibras e energia no mundo. Os avanços em tecnologia
de biomassa permitem antever um futuro em que as usinas de açúcar e álcool
brasileiras se transformem em biorrefinarias, produzindo ampla linha de
químicos renováveis. A Embrapa já domina tecnologia de biofábricas, com
produção de fármacos e componentes industriais sofisticados em células
vegetais. Em breve, sistemas integrados combinando lavouras, pecuária e
floresta nos permitirão produzir carne, grãos, fibras e energia com emissões
líquidas de carbono muito baixas ou, em algumas situações, com captura maior que
emissão.
O que vemos é apenas a ponta do iceberg,
comparado ao que se anuncia, por exemplo, com a biologia sintética − resultado
da convergência do mundo digital com o mundo biológico − que abrirá caminhos
para uma inusitada gama de biofármacos, bioinsumos e bioprodutos. Precisamos
estar preparados. O futuro será definitivamente Bio.
* Maurício Antônio Lopes
é presidente da Embrapa.
Fonte: ENVOLVERDE
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