É a vez de proteger os oceanos.
Tartaruga-de-pente em Fernando de Noronha. ©
WWF-Brasil
Por Redação do WWF Brasil –
Com 10,8 mil km de extensão, a costa brasileira
percorre 395 cidades, em 17 estados. Uma imensidão azul que abriga ¼ da
população brasileira em um ecossistema único com 3 mil km de recifes de corais
e 12% dos manguezais do mundo. É também um habitat com alta relevância
econômica para o Brasil, tendo no turismo, na pesca e na exploração mineral
seus principais alicerces, mas também com grande potencial biotecnológico e
energético.
Apesar dos recentes avanços de sua conservação no
País, apenas 2% de toda essa biodiversidade está protegida. Preocupado com a
situação e motivado pela necessidade de mudança, o WWF-Brasil lançou nesta
segunda-feira (8), no Dia Mundial dos Oceanos, o Programa Marinho. Com ampla
atuação em biomas como Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica, a
conservação da vida marinha fortalece e amplia as atividades da organização na
proteção do meio ambiente em diferentes frentes.
“Vivemos um momento crítico na conservação dos
recursos marinhos do Brasil, que sofrem com a pesca excessiva, fraca
fiscalização, poluição, exploração mineral, necessidade de políticas públicas
adequadas para o bioma; a forte especulação imobiliária e consequente ocupação
desordenada das cidades costeiras. Nossa atuação nos mares brasileiros visa
chamar a atenção da sociedade para essa triste realidade, a importância da
saúde dos oceanos para nossas vidas e como podemos nos mobilizar para protege-los”,
explica a coordenadora do Programa Marinho e Mata Atlântica, Anna Carolina
Lobo.
Segundo ela, a baixa conservação do mar e da costa
brasileira se agrava com a falta de conhecimento sobre o universo marinho. “A
população e o governo de uma forma geral consideram que preservar os oceanos é
menos urgente do que as florestas. O desconhecimento sobre o que existe debaixo
da água leva a uma não priorização dos mares. Mas isso é um engano. Para se ter
ideia, 54,7% de todo o oxigênio da Terra é produzido nos oceanos por algas
marinhas”, justifica.
Sobre a atual situação dos oceanos no Brasil, um
relatório divulgado pela Ocean Healthy Index, apresentou o Índice de Saúde do
Oceano no Brasil (OHI-Brasil – em inglês). Dez critérios foram utilizados para
avaliar os mares brasileiros. Destes, o País recebeu nota baixa em três deles:
produtos naturais (não utilização de seus recursos de maneira apropriada);
turismo e recreação (falta de infraestrutura); e provisão de alimentos
(desenvolvimento da pesca artesanal e aquicultura).
Inicialmente, o Programa Marinho contribuirá para a
compreensão e o atendimento dos impactos de três áreas: sobrepesca, turismo e
poluição. O trabalho será desenvolvido a partir de quatro estratégias: gestão
da qualidade de destinos costeiros; engajamento da sociedade; valorização da
pesca sustentável; e o fomento a políticas públicas. “Pretendemos trabalhar por
meio de parcerias para alcançar nossas metas de conservação. No caso do
turismo, por exemplo, faremos cooperações com setor turístico para trabalhar a
qualidade dos destinos costeiros e para engajamento da sociedade no tema,
focaremos na produção e disseminação de conhecimento científico e educação.
Unidades de Conservação marinhas e costeiras representam o tema transversal
prioritário do programa, alvo de conservação de todas as estratégias”, avalia
Lobo.
Para o tema da poluição, será desenvolvido um
projeto piloto de coleta de plásticos flutuantes na Baía da Guabanara, no Rio
de Janeiro, local que sediará algumas provas esportivas na Olimpíada ano que
vem e que por isso tem preocupado o governo e o Comitê Olímpico por sua
poluição.
Para a pesca, as ações terão enfoque na
implementação de boas práticas e valorização da pesca sustentável desenvolvida
por comunidades tradicionais. Nesse sentido, o Programa já iniciou uma parceria
com chefs e restaurantes, por meio da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrael). “Queremos engajar e mobilizar a população para mudar a
forma de como os oceanos são vistos, inspirando a realização de ações para
conservá-los”, ressalta Anna Carolina.
Inicialmente, as atividades do Programa serão
desenvolvidas nas seguintes regiões: Parque Nacional (Parna) Marinho e Área de
Proteção Ambiental (APA) Fernando de Noronha; Costa centro e sul do Rio de
Janeiro, com destaque para o Monumento Natural das Ilhas Cagarras; Reserva da
Juatinga e APA Cairuçu.
No estado de São Paulo os trabalhos serão
desenvolvidos em unidades de conservação do litoral norte, incluindo: a APA
Marinha Litoral Norte e os Parques Estaduais Ilhabela, Ilha Anchieta e Serra do
Mar; além da Estação Ecológica (Esec) Tupinambás, onde está localizada a ilha
de Alcatrazes.
Apenas 2% da costa brasileira está protegida. Áreas
naturais protegidas como o Parque Estadual Restinga de Bertioga., localizado na
Mata Atlântica. Foto: © Adriana Mattoso.
Preocupação global
O surgimento do Programa Marinho no Brasil
acompanha uma diretriz da Rede WWF que definiu os oceanos como tema prioritário
para este ano. Neste sentido, a organização lançou recentemente o relatório
“Revitalizar a Economia dos Oceanos – Caso de ação 2015” (Reviving the Oceans
Economy – em inglês), em parceria com o Instituto de Mudanças Globais da
Universidade de Queensland e The Boston Consulting Group (BCG), que analisa o
papel do mar como uma potência econômica e descreve as ameaças que estão se
movendo em direção ao seu colapso.
De acordo com o documento, o valor dos principais
ativos dos mares é estimado em, pelo menos, US$ 24 trilhões de dólares. Se
comparado às dez maiores economias do mundo, o oceano seria o sétimo maior, com
um valor anual de bens e serviços de US$ 2,5 trilhões, ficando à frente de
países como o Brasil, Rússia e Itália.
Segundo Marco Lambertini, diretor geral do WWF
Internacional, os oceanos se equivalem em riqueza aos países mais ricos do
mundo, mas têm alcançado as profundezas de uma economia fracassada. “Como
acionistas responsáveis, não podemos manter de forma imprudente a extração de
valiosos ativos do oceano sem investir em seu futuro”, afirma.
De acordo com o relatório, mais de dois terços do
valor anual do oceano depende de condições saudáveis para manter a sua
produção econômica. Pesca em colapso, desmatamento de mangues, bem como o
desaparecimento de corais estão ameaçando a economia marinha que protege vidas
e meios de subsistência em todo o mundo.
“Ser capaz de quantificar o valor anual de ativos
dos oceanos do mundo nos permite enxergar em números concretos o que está em
jogo na esfera econômica e ambiental. Esperamos que dados como esses chamem a
atenção de líderes empresariais e formuladores de políticas para tomarem
decisões mais sábias e calculadas quando se trata de moldar o futuro da
economia coletiva dos oceanos”, disse Douglas Beal, sócio e diretor-gerente do
The Boston Consulting Group.
A pesquisa apresentada no relatório demonstra que
nunca antes na história da humanidade os oceanos mudaram de forma tão rápida.
Ao mesmo tempo, o crescimento da população humana e sua dependência sobre o mar
restauram a economia dos oceanos e caracterizam seus ativos principais como
assunto de urgência global.
“Os oceanos estão em risco. Estamos retirando
muitos peixes, despejando muitos poluentes nos mares, e aquecendo o oceano a um
ponto que os sistemas naturais essenciais vão simplesmente parar de funcionar”,
revela Ove Hoegh-Guldberg, o principal autor do relatório e diretor do
Instituto de Mudança Global na Austrália – University of Queensland.
A mudança climática é uma das principais causas da
falta de saúde dos oceanos. Uma pesquisa incluída no relatório mostra que, no
ritmo atual de aquecimento global, os recifes de corais que proporcionam
alimentos, empregos e protegem milhões de pessoas de tempestades, vão
desaparecer completamente em 2050. Mais do que um aquecimento das águas, a
mudança climática induz um aumento da acidez dos mares que pode levar centenas
de gerações humanas para a recuperação dos oceanos.
De forma a restaurar os recursos dos oceanos ao seu
pleno potencial, o relatório apresentou um plano de ação com oito propostas.
Dentre elas estão à recuperação dos oceanos a partir dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) das Nações Unidas, tendo uma ação global sobre as alterações
climáticas e com fortes compromissos para proteger zonas costeiras e marinhas.
A Campanha Global de Oceanos do WWF: Sustain Our
Seas (Sustente Nossos Mares – em português), baseia-se em décadas de trabalho
da organização e seus parceiros de conservação marinha. O WWF está trabalhando
com governos, empresas e comunidades para encorajar os líderes a tomar medidas
urgentes para revitalizar a economia dos mares e proteger as vidas e os meios
de subsistência de bilhões de pessoas em todo o mundo.
Fonte: WWF Brasil
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