sexta-feira, 26 de junho de 2015

Secas deixam agricultores do Caribe à beira da quebra.
Os animais se abrigam do calor sufocante entre os arbustos em Union Island, em São Vicente e Granadinas. Foto: Kenton X. Chance/IPS.

Por Kenton X. Chance, da IPS – 

Catries, Santa Lúcia, 11/6/2015 – Anthony Herman, agricultor na ilha caribenha de Santa Lúcia, esperava recuperar no próximo ano parte do que perdeu quando 70% de seu cultivo de castanha de caju murchou e morreu sob o abrasador sol do sul do Caribe. Mas o clima lhe preparava uma nova surpresa. Em 1º de junho, quando começou a temporada de furacões no Caribe, que coincide com a época chuvosa, Herman, de 63 anos e dedicado à agricultura há quatro décadas, recebeu uma notícia “aterradora” sobre as condições climáticas na região para o próximo ano.

Os prognósticos indicam que a temporada de chuvas deste ano, que se prolonga até novembro, será mais seca do que o normal, e o mesmo se prevê para 2016. Isso se soma ao fato de a estação seca de 2015 ter registrado uma queda de precipitações acima do habitual. “É aterrador quando ouvimos a ameaça da seca que continuará este ano e se prolongará no próximo”, disse Herman à IPS durante o fórum Perspectiva Climática Regional para a temporada de furacões 2015, realizada nos dias 1º e 2 deste mês. “A infraestrutura hídrica de que se necessita não está disponível, e, se estiver, é em partes”, acrescentou.

No fórum organizado pelo Instituto Caribenho de Meteorologia e Hidrologia (CIMH), o especialista em clima Cèdric Van Meerbeeck se referiu a 2009, ano em que as condições de extrema seca dispararam o racionamento de água em toda a região. Na época, Trinidad e Tobago, Granada, Barbados, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia e Guiana registraram o menor nível de chuvas em seis meses entre outubro de 2009 e março de 2010.
As condições mais secas do que o habitual no Caribe continuarão em 2015 e se prolongarão em 2016, segundo o especialista em clima Cèdric Van Meerbeeck, do Instituto Caribenho de Meteorologia e Hidrologia (CIMH). Foto: Kenton X. Chance/IPS.

“Não significa que vai acontecer o mesmo que em 2009 e 2010, mas, se tiver que ocorrer, será este ano”, ressaltou Meerbeeck no encontro que reuniu meteorologistas, gerentes de desastres naturais e outros atores dos 25 países e territórios caribenhos. Provavelmente menos chuvas se acumularão, embora para Bahamas, Belize e Guiana a previsão seja de maiores precipitações devido ao fenômeno El Niño.

“Se vamos ter uma estação mais seca do que o habitual, já nos preocupamos pela próxima temporada seca”, destacou Meerbeeck. “Por que? É nossa temporada turística, quando se usa mais água, e não somente os turistas, mas também para apagar incêndios florestais e para irrigação”, detalhou.

Herman disse à IPS que, após receber essa notícia, precisará se reunir com a junta da cooperativa para discutir um plano de gestão de redução de desastres e sobre como educar os membros a respeito da melhor forma de enfrentar a falta de chuvas, além de outras medidas. Ele sabe bem a importância de um plano de gestão da redução de desastres, após ter perdido quase três quartos de sua colheita de castanha de caju devido à seca, cerca de US$ 5.500 ao ano, uma quantia considerável para um pequeno agricultor.

E a perda não se limitou às castanhas, pois a fruta é um insumo importante em sua propriedade, onde cria 40 cabras. “Tenho que buscar recursos, comprar alimento para os animais, quando nos anos anteriores se alimentavam com pastagem e castanhas. Como não vendi a fruta tenho menos recursos, por isso preciso recorrer à minha outra fonte de renda, as verduras”, lamentou Herman.

Leslie Simpson, especialista em gestão de recursos naturais do Instituto de Investigação e Desenvolvimento Agrícola do Caribe, afirmou que a previsão representa “graves notícias” para o setor. “Mais de 50% de nossa agricultura depende das chuvas. Afetará a atividade e em especial os pequenos agricultores, que desta vez não podem pagar a irrigação”, disse à IPS.
O agricultor Anthony Herman, de Santa Lúcia, perdeu 70% de seu cultivo de castanha de caju esse ano por causa da seca que assolou seu país. Foto: Kenton X. Chance/IPS.

Segundo Simpson, “no ano passado, tivemos na Jamaica um período seco realmente grave na própria estação chuvosa, que prejudicou a agricultura a ponto de o impacto ser sentido em toda a economia. Ouvir que nos encaminhamos para uma situação semelhante é muito dramático”. Em 2014, a economia jamaicana perdeu quase US$ 1 bilhão com a seca e os incêndios florestais provocados pelas ondas de calor extremo.

Como Meerbeeck, Herman considera o alerta como uma oportunidade para tomar medidas que possam mitigar os efeitos de clima severo, que, segundo os especialistas, é resultado de uma mudança climática agravada pela ação humana.

“O que realmente queremos a longo prazo é poder mitigar os efeitos adversos da mudança climática e usar os benefícios desse fenômeno, porque nem tudo é negativo. Mas, basicamente, desconhecemos neste momento quais são as consequências positivas”, reconheceu Meerbeeck à IPS. “Quando são construídas estratégias de mitigação da seca, nas ondas de calor ou em períodos secos, construímos automaticamente capacidades humanas e tecnológicas para enfrentar os desafios que virão”, acrescentou.

“Independente de exacerbarem, ou não, a mudança climática, muitos desses efeitos vão piorar. Por exemplo, as secas serão mais frequentes no final deste século. Mas, se já sabemos como responder agora, será muito, muito mais fácil e nos custará muito menos responder em seu momento”, disse Meerbeeck.

No entanto, com o perigo pairando sobre suas cabras e castanhas de caju, Herman já pensa em um plano de curto prazo para processar o esgoto e usá-lo para irrigação. “Não sou pessimista e quero ver essa situação como uma oportunidade para fazer outras coisas criativas para o setor”, afirmou à IPS.


Fonte: ENVOLVERDE

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