Auditorias reforçam sucesso do Compromisso Público
da Pecuária.
Terras da Floresta Nacional de Jamanxim, próximas à
BR-163 são queimadas ilegalmente para abrir espaço para a criação de gado.
Foto: © Rodrigo Baléia / Greenpeace.
Por Redação do Greenpeace Brasil –
Resultados mostram que os fornecedores diretos dos
gigantes do setor não contaminam mais a carne com desmatamento da Amazônia.
Há dez anos o Greenpeace começou a investigar a
cadeia produtiva da pecuária na Amazônia, setor que ainda hoje representa uma
das principais ameaças à preservação da floresta. Em 2009 lançamos o relatório
“A Farra do Boi da Amazônia”, que mostrava a terrível relação entre empresas
frigoríficas e clientes como Nike, Adidas, Unilever, Casino, Carrefour e
Walmart com o desmatamento da floresta e o uso de trabalho escravo.
O esforço valeu a pena. Apenas um mês depois da
publicação do relatório, os maiores frigoríficos do Brasil – JBS, Marfrig e
Minerva – que representam hoje algo em torno de 60% de tudo o que é abatido no
bioma, assumiram um compromisso público de só negociarem carne e couro com
fazendas que não recorressem ao desmatamento, ao uso de trabalho escravo ou
invasão de áreas protegidas. As empresas firmaram também, junto ao Greenpeace,
um Termo de Referência, onde se comprometeram, com base nos mesmos critérios, a
auditar e publicar anualmente seus resultados nesta empreitada contra o
desmatamento.
Hoje, os frigoríficos divulgaram os resultados da
segunda auditoria anual independente realizada para testar o sistema de
controle socioambiental de compras e as conclusões são animadoras: de acordo
com as empresas de auditoria, BDO e DNV, os três frigoríficos tem, de fato,
conseguido cortar relações comerciais com fazendas que continuam a desmatar.
Segundo o relatório, 99% das compras, analisadas por amostragem, vieram de
fornecedores diretos que deixaram o desmatamento no passado.
Todas as empresas aumentaram o percentual de
propriedades e compras de gado de fazendas fornecedoras monitoradas com mapas
georreferenciados, que são mapas muito mais precisos e completos. Este ano a
Marfrig atingiu 100% de fornecedores com este tipo de identificação. Em 2014 a
empresa possuía 98% de seus fornecedores mapeados. A JBS passou de 50%, em
2014, para 71% das compras de gado de fazendas monitoradas. Já a Minerva tinha
43% de fazendas com mapas no ano passado e esse percentual pulou para 85%.
Veja aqui os resultados das auditorias:
– JBS
– Marfrig
– Minerva
“Os três frigoríficos avançaram muito ao banir
produtores diretos que continuam destruindo a floresta ou invadindo ilegalmente
terras indígenas. Os frigoríficos estão monitorando de forma mais precisa as
fazendas que fornecem diretamente para eles. Tem equipes de sustentabilidades
dedicadas a monitorar diariamente as fazendas das quais querem comprar e
mostraram que dá para monitorar a produção pecuária. Coisa que, em um passado
recente, era impensável.”, disse Adriana Charoux, da campanha Amazônia do
Greenpeace.
Infelizmente, a produção pecuária ainda é uma das
principais causas do desmatamento na Amazônia. O gado ocupa atualmente mais de
60% da área já desmatada de floresta. Mas esse cenário vergonhoso para o setor
e para o Brasil – que se vangloria de ser o maior produtor de carne do mundo,
mas que oculta os impactos e passivos socioambientais presentes na cadeia de
produção – pode acabar.
“A publicação desses resultados é crucial para
assegurar a transparência e favorecer o controle social da produção na Amazônia
brasileira”, conta Charoux. “Vemos que, cada vez mais, as empresas vem dando
preferência a fornecedores que estão em acordo com a lei e praticando as
condições do Compromisso que exige mais do que a lei – o Desmatamento Zero.
Isso é um grande incentivo para todo o mercado e, sobretudo, uma trilha aberta
para a preservação da floresta”, observa.
Um estudo publicado recentemente
na revista científica Conservation Letters, assinado pela professora Holly
Gibbs, da Universidade de Wisconsin, mostra que o Compromisso vem ajudando a
reduzir o desmatamento e que isso ocorreu graças a pressão exercida pelo
mercado, que adotou critérios mais rígidos de compra. A análise de Gibbs mostra
que o compromisso assinado em 2009 vem ajudando a reduzir o desmatamento,
tornando a destruição da floresta um mau negócio. Através de estudo de caso
baseado na JBS, em 2009, 36% das propriedades que forneciam carne ou couro para
a empresa tinham registros de desmatamentos recentes. Em 2013 este número caiu
para 4%.
Fazendeiros fornecedores registraram suas propriedades no Cadastro
Ambiental Rural (CAR) quase dois anos antes de propriedades vizinhas não
fornecedoras, e 85% dos fazendeiros entrevistados indicaram que os acordos eram
a causa principal para essa atitude. Consequentemente, frigoríficos diminuíram
as compras de fazendas com desmatamento recente, que foi cerca de 50% menor que
o registrado em fazendas que forneciam antes da assinatura do compromisso.
Mas segundo a pesquisadora, para que o acordo seja
ainda mais efetivo, é preciso acabar com as falhas e com o vazamento de gado
que acontece quando outro frigorífico compra de fazendas rejeitadas pelas
empresas comprometidas com desmatamento zero “contaminando assim a cadeia com
desmatamento”.
“Para que o setor deixe de vez o inglório posto de
`maior desmatador da Amazônia’ implementar o controle sistemático de
fornecedores indiretos deve ser uma prioridade daqui em diante. Está também
mais do que na hora de outros frigoríficos e supermercados assumirem o
compromisso com o Desmatamento Zero como critério básico de compra. As
associações brasileiras de carne (ABIEC e ABRAFRIGO) e a Associação Brasileira
de Supermercados (ABRAS) devem orientar firmemente seus associados a
abandonarem de vez o desmatamento”, avalia Charoux. “Fazer qualquer coisa menos
do que isso é inaceitável”, conclui.
A preservação da Amazônia é fundamental para muito
além de suas fronteiras. É a floresta que regula o clima e a geração de chuvas
em todo o Brasil e no continente sul-americano, o que impacta na própria
produção agropecuária. Sem floresta, não tem água, comida nem clima para que
nosso planeta continue sendo a casa das futuras gerações. É por isso que o
Greenpeace exige que as empresas se comprometam com o desmatamento zero – uma
cadeia de abastecimento, sem destruição da floresta.
Fonte: Greenpeace Brasil
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