A Década da Água.
As inundações em Morigaon, na Índia, deixaram
debaixo de água cerca de 45 estradas, em outubro de 2014. Foto: Priyanka
Borpujari/IPS.
Por Thalif Deen, da IPS –
Nações Unidas, 11/6/2015 – O secretário-geral da
Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, deu seu apoio a uma Década
Internacional da Água para o Desenvolvimento Sustentável, enquanto no fórum
mundial se apressa a negociação dos novos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), que devem ser aprovados pelos governos do planeta em uma
cúpula no mês de setembro próximo.
Esta Década “complementaria e apoiaria o êxito dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos para a água”, afirmou
Ban Ki-moon. O presidente do Tajiquistão, Emomali Rahmon, apresentou a proposta
da Década Internacional no dia 9, na conferência internacional Água para a
Vida, em Dushanbe, capital de seu país. A mesma deverá ser aprovada pela
Assembleia Geral, onde estão representados os 193 Estados membros das Nações
Unidas.
O Tajiquistão, que tomou a dianteira em destacar a
importância da água como fonte de vida, também patrocinou a Década
Internacional da Água pela Vida (2005-2015), “para conscientizar e galvanizar a
ação”, à qual sucederia a nova década proposta.
Ban afirmou aos delegados que a água ocupa um lugar
nos ODS que transcende o acesso e considera outras questões fundamentais, como
gestão integrada dos recursos hídricos, eficiência do uso, qualidade da água,
cooperação transfronteiriça, ecossistemas hídricos e desastres derivados da
água. “A água, como outras áreas da agenda de desenvolvimento pós-2015, está
estreitamente interligada com outros desafios”, afirmou o secretário-geral.
“Ficamos contentes pelo fato de Ban ter destacado o
direito humano à água e ao saneamento, e a enorme necessidade que ainda existe
desses serviços essenciais entre as populações mais pobres e marginalizadas do
mundo”, destacou à IPS John Garrett, analista de políticas de financiamento
para o desenvolvimento da organização WaterAid, com sede em Londres.
Os ODS representam uma oportunidade única em uma
geração para que chegue a todo o mundo, em todas as partes, água limpa,
banheiros dignos e uma forma de as pessoas se manterem limpas e também seu
entorno, afirmou. “A nova década para a ação sobre a Água para o
Desenvolvimento Sustentável continuará mantendo a muito necessária atenção
sobre os enormes desafios futuros”, acrescentou.
Porém, essa ação também deve levar em conta o
saneamento e a higiene, já que sem eles a água potável não é nem factível nem
sustentável, e tampouco o são os benefícios para a saúde e para o progresso
econômico, ressaltou Garrett. Com o correr do tempo, os temas relacionados com
a água se mantêm na agenda socioeconômica da ONU, como em 2013, que foi o Ano
Internacional de Cooperação pela Água, e o Dia Mundial da Água, todo 22 de
março, e o Dia Mundial do Banheiro, todo 19 de novembro.
Ban afirmou que o mundo alcançou cinco anos antes
do previsto a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relativa
à redução pela metade, até 2015, da proporção de pessoas sem acesso sustentável
a água. No curso de uma geração, 2,3 bilhões de pessoas, ou um terço da
humanidade, passaram a ter acesso a uma fonte melhorada de água potável. A
Assembleia Geral da ONU declarou o acesso a água potável e saneamento um
direito humano, lembrou o secretário-geral.
Torgny Holmgren, diretor-executivo do Instituto
Internacional da Água de Estocolmo, disse à IPS que sua organização recebe com
satisfação o forte apoio de Ban à água como um ingrediente essencial nos
esforços pelo desenvolvimento sustentável. “Um ODS dedicado expressamente ao
caráter multifacetário da água, como problema social, econômico, ambiental, bem
como à principal causa dos desastres de nosso planeta, é um passo
indispensável, mas de modo algum suficiente, para o mundo que queremos”,
ressaltou.
Portanto, é especialmente inspirador ver o
incentivo que Ban deu a um processo que transcende os ODS, “que permite e
requer a participação de todos os setores e atores, públicos e privados,
pessoas e organizações, para decidir coletivamente um passo gigante para um
mundo com sabedoria em matéria de água”, afirmou Holmgren.
Garret pontuou que o progresso na próxima década
será fundamental e que apoia “os esforços para manter essas questões no centro
das atenções”. Os ODM conseguiram reduzir pela metade o número de pessoas sem
água melhorada no mundo, mas deixaram muitos dos mais necessitados sem ela. O
saneamento é uma das metas mais distantes. “Devemos concentrar os esforços na
próxima década para garantir que ninguém fique para trás”, acrescentou.
Ban destacou que nesse ponto também se avançou na
década, já que mais de 1,9 bilhão de pessoas conseguiram acesso a melhores
serviços de saneamento. “Essa é uma boa notícia. Mas também sabemos que ainda
hoje, no século 21, cerca de 2,5 bilhões de pessoas carecem desse acesso”,
enquanto um bilhão ainda defeca ao ar livre, apontou.
Segundo o secretário-geral, hoje em dia, cerca de
mil menores de cinco anos morrem diariamente devido à combinação de falta de
água e deficiência em saneamento e higiene. Dentro de dez anos, 1,8 bilhão de
pessoas viverão em zonas com escassez absoluta de água, e é possível que duas
em cada três pessoas no mundo sofram condições de estresse hídrico, ressaltou.
“Não é de estranhar que muitos especialistas mundiais tenham qualificado a ‘crise
da água’ como um dos maiores riscos mundiais que enfrentamos”, enfatizou Ban.
Fonte: ENVOLVERDE
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