Parlamentares e ambientalistas
criticam tratamento dado a indígenas pela Câmara.
Índios acompanharam a reunião desta terça-feira e criticaram
o tratamento recebido por eles no Parlamento. Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos
Deputados.
Parlamentares, indígenas, ambientalistas e
representantes do setor jurídico criticaram nesta terça-feira a forma como a
Câmara dos Deputados tem lidado com os direitos de indígenas, quilombolas e
outros povos tradicionais. Para os participantes de uma reunião que discutiu a PEC 215/00,
que transfere para o Congresso Nacional a decisão final sobre a demarcação de
terras indígenas, o atual Parlamento pode levar a um retrocesso nos direitos
garantidos na Constituição de 1988.
“Há um risco real de a sociedade brasileira em
meses assistir a uma derrocada dos seus direitos. A questão dos direitos territoriais
indígenas está na ordem do dia”, disse o presidente da Comissão de Direitos
Humanos, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). “Esta onda conservadora, que envolve
não só o Parlamento, mas empresários e imprensa, hoje tem uma forte presença
também no Poder Judiciário.”
A subprocurada-geral da República Deborah Duprat
classificou como hostil o tratamento dado aos indígenas na Câmara e criticou o
impedimento de eles participarem de debates de assuntos que interessam a eles.
“Os indígenas são recebidos nesta Casa com tropa de choque, com um forte
aparato policial, com revista de seus instrumentos ritualísticos. Não se
permite o ingresso deles nas comissões onde se discutem projetos de lei ou PECs
que dizem respeito diretamente a seus interesses. É uma Casa hostil a esse
segmento da sociedade.”
Nos cálculos do representante do WWF Aldem
Bourscheit, cerca de 400 proposições em análise na Câmara se posicionam contra
unidades de conservação em nível federal, estadual e municipal. “É uma guerra
por território, por terra, conflitos envolvendo geração de energia,
agropecuária, mineração”, disse ele. “O nosso patrimônio histórico, social,
cultural e ambiental não pode ter seu futuro decidido pela bancada ruralista”,
complementou.
Também para Deborah Duprat, a configuração de
direitos não pode ficar sujeita às “maiorias ocasionais do Parlamento”. Daí a
necessidade de garantir ao Executivo a demarcação de terras indígenas, unidades
de conservação, áreas quilombolas e para a reforma agrária.
“Quem fez essa PEC 215 é capeta. Nós somos seres
humanos, nós não somos bichos”, disse o índigena Adauto Guarani-Kaiowá.
Nesta terça-feira, um comitê de defesa dos povos
indígenas lançou um manifesto contra a PEC 215/00. Além de três frentes
parlamentares, o comitê reúne entidades públicas e da sociedade civil, além de
representantes de indígenas e quilombolas.
Parlamentares lançam manifesto contra a PEC da
Demarcação de Terras Indígenas
As frentes parlamentares de Apoio aos Povos
Indígenas; Ambientalista; e de Defesa dos Direitos Humanos, em conjunto com
entidades públicas e da sociedade civil, lançam nesta manhã um manifesto contra
a PEC 215/00, que submete ao Congresso Nacional a decisão final sobre a
demarcação de terras indígenas no Brasil. Segundo parlamentares que compõem as
frentes, indígenas e especialistas, a proposta fere direitos garantidos na
Constituição e significa uma ameaça à sobrevivência de povos tradicionais e
também ao equilíbrio do meio ambiente.
“Esta Casa não tem competência técnica para a
homologação. Esse assunto não deve estar sujeito à política”, disse a deputada
Erika Kokay (PT-DF). “Nós precisamos nos contrapor a esse fundamentalismo
patrimonialista de que as terras têm que ter donos, rasgando a Constituição.
Nosso País precisa resistir a isso. Precisamos preservar esse País e assegurar
que esses direitos não sejam violados”, completou.
Erika Kokay leu, em reunião que ocorre neste
momento, no plenário 12, um documento fará parte de uma petição pública com o
objetivo de conseguir adesões contra a PEC.
Presente à reunião, o senador João Capiberibe
(PSB-AP), representando a Comissão de Direitos Humanos do Senado, disse já há
uma frente de senadores dispostos a abraçar a causa. “Eu acho que essa proposta
não vai passar na Câmara, mas no Senado estaremos preparados para dar a
resposta”, disse.
O senador também criticou a atual pauta da Câmara,
a qual considera “exclusiva de grupos corporativos, econômicos e religiosos,
sobrepondo-se ao conjunto da sociedade brasileira”.
Fonte: Agência
Câmara de Notícias
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