Novo Código Florestal ainda é um desafio.
Foto: © WWF-Brasil / Mair FURLAN
Um ano depois do início do cadastramento ambiental
rural previsto no Código Florestal, o cenário indica que
o Brasil ainda tem de enfrentar enormes gargalos para pôr em prática
a nova lei.
Por Redação do WWF Brasil –
Mobilizar os proprietários rurais para aderir ao
CAR, garantir acesso dos estados aos recursos financeiros, prover
infraestrutura e qualificar a mão de obra para o cadastro dos imóveis rurais
são alguns dos desafios. E eles valem para todo o território nacional.
É o que aponta um estudo divulgado nesta
quarta-feira (20), em Brasília, durante um seminário sobre o Três Anos do
Código Florestal. O trabalho foi coordenado pela Iniciativa de Observação,
Verificação e Aprendizagem do CAR (Inovacar), promovida pela Conservação Internacional
– CI-Brasil, com apoio do WWF-Brasil.
A pesquisa avaliou a situação de 21 estados da
federação em busca de um retrato da implementação do Código Florestal no
Brasil. As entrevistas feitas entre os meses de março e maio deste ano olharam
para quatro grupos de indicadores de implementação do CAR: aspectos
institucionais, sistema de geotecnologias, estratégias de mobilização para o
cadastramento, e registro de informações.
“O que vimos é que se quisermos fazer a lei
florestal funcionar, temos de apoiar os estados a cumprir suas novas
atribuições frente ao Código Florestal”, diz Cristiano Vilardo, diretor de
Política e Estratégia Institucional da CI-Brasil.
Segundo ele, os indicadores revelam que a maioria
dos estados não tem dinheiro suficiente para cumprir a lei no curto prazo. Na
maior parte do país, o que se nota é que as despesas com o cadastramento e
outras atividades – agora obrigatórias – acaba sendo paga com os recursos quase
sempre minguados dos órgãos ambientais de estados e municípios.
O Fundo Amazônia (BNDES) tem recursos destinados ao
CAR, mas nem todos os estados conseguiram captá-los, seja por problemas com a
documentação ou por demora na apresentação dos projetos. Outra linha de
financiamento que poderia ser acessada é o FIP-Cerrado (Forest Investment
Program/Banco Mundial) que apoiaria a implantação do CAR nos estados abrangidos
pelo bioma. O fundo foi incentivado pelo governo federal há dois anos, mas o
recurso ainda não chegou à ponta.
Dos 21 estados avaliados, apenas quatro (São Paulo,
Paraná, Bahia e Rondônia) instituíram os Programas de Regularização Ambiental
estaduais (PRAs). Mas só a Bahia definiu a regulamentação para que o programa
aconteça. Os PRAs estaduais são considerados até mais importantes do que o
cadastramento em si, pois é nesta etapa que serão identificados os reais
passivos ambientais, definindo o que foi desmatado ilegalmente e o que deverá
ser recuperado.
Mas para recuperar tais passivos florestais, é
essencial analisar e validar os dados informados. Ou seja, checar na prática o
que foi declarado na hora do cadastramento. Até o momento, o único estado que
informa ter avançado na validação dos registros inseridos no seu próprio
sistema é o Espírito Santo. Dos quase 30 mil imóveis rurais cadastrados no
estado, metade já foi validada pelos técnicos.
No Acre, Rondônia, Maranhão, Mato Grosso e
Tocantins o órgão ambiental realiza a análise de alguns cadastros para o
desembargo de áreas com problemas. Na maior parte dos estados, porém, a
validação aguarda a liberação do módulo de análise no sistema federal ou o
desenvolvimento dos módulos dos sistemas estaduais.
A maioria dos órgãos ambientais nos estados também
carece de pessoal e infraestrutura para chegar até os proprietários, sobretudo
os pequenos, embora eles tenham direito de receber apoio para o cadastramento.
Sem capilaridade, os estados muitas vezes apelam para os órgãos de assistência
técnica e extensão rural, que têm limitações para prestar mais esse serviço ao
cidadão. Minas Gerais é um exemplo em que o estado já possuía uma rede de apoio
rural e agora se beneficia disso para fazer o CAR.
Experiência amazônica – A região em que o
cadastramento mais se desenvolveu é a Amazônia Legal. Isso porque mesmo antes
do novo Código Florestal, alguns estados já tinham sistemas próprios para
cadastrar imóveis rurais. Quando veio a atual legislação, a maioria dos estados
e municípios da região já tinha histórico de mobilização.
Além disso, os municípios que mais desmatam a
floresta só conseguem deixar a lista vermelha do governo se tiverem 80% da área
cadastrável inserida no CAR. Foi o caso de Brasil Novo, no Pará, exemplo de que
a vontade política aliada a uma estratégia mobilizadora pode reverter o jogo.
Outro ponto em que a Amazônia avançou foi na
integração do CAR com outras políticas públicas. No caso do Pará, os municípios
só conseguem ter parte do bolo do ICMS Verde se estiverem articulados ao
Programa Municípios Verdes e alcançarem a meta de área cadastrada.
“Apesar de algumas disparidades internas na
aplicação da lei, a Amazônia pode inspirar outras regiões a criarem políticas
públicas que incentivem a aplicação do Código Florestal. Estamos falando da
recuperação de florestas e da garantia de água e biodiversidade para o futuro
do Brasil”, lembra Jean-François Timmers, Superintendente de Políticas Públicas
do WWF-Brasil.
Fora da Amazônia, São Paulo é a unidade da
federação com o maior número de acordos de cooperação técnica com as
prefeituras municipais (330 ao todo) para o cadastro de imóveis rurais menores
de quatro módulos fiscais – os pequenos proprietários. “O desafio é acelerar o
cadastramento, e o que o estudo nos mostra é que o papel do município pode
fazer a diferença”, avalia Cristiano Vilardo.
Ele também chama a atenção para o fato de que o
esforço de mobilização para o CAR também precisa incluir os grandes e médios
produtores rurais. No caso do Mato Grosso e do Pará, esse segmento é que dá
peso para que esses estados tenham altos índices de área cadastrada. No Rio
Grande do Sul e parte do Nordeste, o estudo identificou que a resistência de
setores do agronegócio ao cadastramento é um gargalo na implementação do Código
Florestal.
Resta ainda a preocupação quanto à pouca
transparência das informações inseridas nas plataformas federal e estaduais que
abrigam os cadastros. Pará, Mato Grosso, Rondônia – que já tinham sistema
próprio com mecanismos de acesso público aos dados – migraram para o sistema
federal e não se sabe como vai ficar a transparência nos dados. Por outro lado,
Santa Catarina e São Paulo têm boletins mensais com estatísticas sobre o
andamento do CAR.
Fonte: WWF Brasil
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